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Como conhecer a realidade local pode impactar no PPP de uma escola

Para elaborar um projeto pedagógico com efetividade, além de conhecer a fundo o contexto social local, a escola deve fazer balanços periódicos

POR:
Camila Cecílio
Foto: Getty Images

Toda escola é formada por uma série de espaços destinados à aprendizagem de seus alunos: salas de aula, laboratórios, biblioteca, pátio, quadra poliesportiva. Mas e o que existe além dos muros? Conhecer a realidade em que a escola está inserida pode ser o melhor caminho para a elaboração de um projeto político-pedagógico que vá, de fato, promover mudanças na escola e impactar positivamente a realidade local. É nisso que apostam alguns gestores.

O projeto político-pedagógico está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, e deve conter tudo que gestores, professores, funcionários, pais e alunos pretendem construir na escola e qual formação querem para quem estuda ali.

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Saber o que a comunidade pensa foi essencial para que a gestão da Escola Municipal Orlinda de Albuquerque Castro, em Matias Barbosa (MG), pudesse identificar os gargalos da instituição. A partir de uma reunião entre pais, alunos e escola, a diretora Simone Dutra Navarro Prodel constatou que, além dos problemas de ensino-aprendizagem, outro desafio seria despertar o envolvimento dos pais. “Eles não frequentavam os eventos da escola, não visitavam a biblioteca e não se interessavam pela vida escolar de seus filhos e isso me preocupava muito”, diz.

A missão estava posta e não era das mais fáceis: recuperar o interesse dos pais pela vida escolar dos filhos, reintegrar alunos que estavam se desviando do caminho da escola para o das drogas. Paralelo a isso, outro desafio da gestão seria despertar o gosto pela leitura, tanto nos mais de 250 alunos, quanto em seus familiares.

Com os problemas identificados, atrair os profissionais da escola para essa proposta foi o primeiro passo dado por Simone. Depois de ouvir as angústias e reinvindicações, a diretora pediu que cada um colocasse suas ideias no papel, apontando quais recursos seriam necessários para a execução de seu trabalho. “Percebi que todos queriam melhorar e isso foi muito bom. Pedi aos supervisores que elaborassem juntamente com os professores e alunos um plano de desenvolvimento escolar, e foi então que começamos a dar andamento ao nosso PPP”.

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Olhando além do muro

O segundo passo foi realizar avaliações diagnósticas, uma vez que são elas que mostram a real dificuldade dos alunos e norteiam a elaboração do projeto pedagógico. Nesta etapa, a gestão elaborou um planejamento voltado para toda a comunidade, com aulas dinâmicas no ambiente escolar, abertura da biblioteca para todos e cartazes com dizeres poéticos pelas ruas do município mineiro, que tem cerca de 14 mil habitantes. “O mais importante é que tudo foi criado em conjunto por professores e alunos, e isso despertou o interesse de muitos pais que começaram a frequentar a nossa escola, passando a ler para os alunos em sala. Foi um sucesso tão grande que gerou o projeto Alfabetização de Idosos, que rendeu o prêmio Criativos para alguns alunos. ”

A mudança de postura de todos os envolvidos no processo escolar gerou ótimos resultados e facilitou a elaboração do PPP, segundo a diretora. “Oferecemos reuniões para formação de professores para que todos se envolvessem na escrituração do PPP, que deve conter todos os dados escolares, comunidade, profissionais e objetivos a serem alcançados, devendo estar de acordo com a nova formulação da Lei de Diretrizes e Bases, BNCC, tudo dentro da lei, porém com a particularidade de nossa realidade”. Resultado: o projeto foi para o papel, está sendo executado com louvor e foi apresentado para toda comunidade, segundo a diretora.

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Enfrentando os erros

Para elaborar um projeto pedagógico com efetividade, além de conhecer a fundo o contexto social local, a escola deve fazer balanços periódicos. É o que afirma a coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa CEDAC, Maria Maura Gomes Barbosa. “É preciso pensar naquilo que foi projetado, nas metas estabelecidas, o que pode ser destrinchado, olhar para os diferentes aspectos e dimensões da gestão e avaliar ponto a ponto. E questionar: estamos constituindo uma equipe colaborativa?”.

Para a educadora, é necessário refletir sobre como a escola se organiza e como lida com questões delicadas. “Se um pai de aluno chega na escola e não é bem atendido, isso também deve fazer parte do PPP porque, muitas vezes, as ações não dialogam com a comunidade e o ideal é que dialoguem”, afirma.

Vale lembrar, no entanto, que o PPP ainda é visto como um documento burocrático que, não raro, é feito para “cumprir tabela” e deixado no fundo da gaveta. “O PPP é fundamental para a gestão, afinal é ele que vai nortear todas as ações da escola. Por isso, a discussão que temos proposto é que, para se ter um projeto pedagógico efetivo, precisamos olhar para o que a escola já fez, faz e o que é necessário para melhorar, o que dá certo e o que não dá”, diz Maura.

Com cerca de 400 alunos, a Escola Estadual Cesar Martinez, localizada em Moema, na grande São Paulo, é exemplo de ações que deram certo e foram incorporadas ao PPP. Resultado de uma parceria com o Banco Central (BC), a Semana da Educação Financeira ensina os alunos a organizarem a vida financeira desde pequenos – e os pais também participam de oficinas para aprender a fazer a gestão financeira melhor em casa.

Outra parceria que deu certo foi com o Sebrae, dando vida à Feira Empreendedora da escola. A instituição promove formação para os professores, que estendem o conteúdo para os alunos, de modo a incentivar o espírito empreendedor nas crianças.

A diretora Roseli Aparecida Lira Leite conta que as ações foram realizadas a partir de um mapeamento da escola e da comunidade local já pensando no projeto pedagógico. “Quando cheguei aqui, há quase dois anos, quis convidar todos para uma gestão democrática e a aceitação foi imediata”, conta. “Logo os pais vieram para dentro da escola e atualmente são mais participativos”.

O maior desafio, no entanto, é tirar as ações do papel e tornar o projeto pedagógico real. Para ela, o melhor caminho para isso é olhar a comunidade e fazer as adaptações necessárias e coerentes no PPP. “O diferencial de um PPP é conhecer a realidade que faz parte da escola”. 

Para a coordenadora pedagógica da CEDAC, seguir esses caminhos é ter, de fato, um olhar convergente para a escola. “Precisamos melhorar o ensino e a aprendizagem cada vez mais, mas também corresponsabilizar todos os atores da escola”, afirma Maura Barbosa. E vai além: “Também precisamos ter a consciência de que todos nós temos o mesmo objetivo, que é garantir às crianças as mesmas oportunidades. Todos os aspectos são importantes nesse processo, desde a limpeza do banheiro à qualidade da merenda, e todos têm um papel fundamental nessa construção”.

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