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5 livros para ler com os pequenos na Educação Infantil

Para Camila Zentner, coordenadora pedagógica, é preciso incentivar o gosto pela leitura nos pequenos sem atropelar as características de cada etapa de ensino

POR:
Camila Zentner
Crédito: Picsea/Unsplash

Nas últimas décadas, o país tem avançado bastante nos estudos acerca da infância e no trabalho com a Educação Infantil. No entanto, com a aprovação da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a mudança de que a alfabetização deve ser completada até o final do 2º ano e não mais do 3º tem levado profissionais a voltarem a discutir nas escolas a necessidade de utilizar ou não a Educação Infantil como preparação para o Ensino Fundamental.

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Não existe tal afirmação na Base, porém, a discussão renasce do receio de não conseguir alcançar a meta de alfabetização. É o mesmo receio que faz também com que muitas vezes tenhamos a falsa ideia de que quanto antes anteciparmos o trabalho da alfabetização, mais cedo alcançaremos os resultados. Com isso, deixamos de brincar, cantar, dançar, explorar os movimentos do corpo no espaço, no desenho, nas interações e toda a aprendizagem que é anterior ao processo de alfabetização mais estruturado.

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A Educação Infantil é um período essencial para criar as bases necessárias para desenvolver a aprendizagem no Ensino Fundamental (período que segundo a neurociência há a maturação cerebral propícia para a alfabetização). Quando ações como brincar, cantar e explorar movimentos deixam de existir, ao invés de acelerar o processo para futuras aprendizagens, vamos criando lacunas que lá na frente não conseguimos preencher. Cada etapa de ensino tem sua especificidade e importância e deve ser respeitada, sem atropelos.

E como fica a linguagem escrita na Educação Infantil?
Isso não significa que a linguagem escrita não deva aparecer no trabalho da Educação Infantil. Muito pelo contrário: ela é inserida desde o trabalho com os bebês. Porém, ela surge como um convite à criança a participar do mundo letrado. Isso acontece, por exemplo, quando os pequenos conhecem seu nome e o das pessoas que estão ao seu redor, bem como palavras do cotidiano na rotina e, principalmente, ouvindo histórias. Criar uma rotina para contar histórias todos os dias para a criança pequena é fundamental para desenvolver o gosto pela leitura, a escuta, além de ampliar vocabulário, criar repertório e fomentar no futuro o desejo na criança em escrever.

Crédito: Ben White/Unsplash

Por onde começar?
Uma possibilidade é começar reservando um cantinho especial na escola para fazer essa leitura, seja na sala ou no jardim, embaixo de uma cabana feita em lençol ou em uma roda no pátio. O que vale é ser um lugar aconchegante e tranquilo para fazer a leitura todos os dias, variando vez ou outra. Cante uma música ou recite um pequeno poema que indique que a hora da história vai começar, faça da mesma forma na hora de terminar. Aqui tem um exemplo fofo que aprendi com uma turma de crianças bem pequenas:

Para começar a história...

“Plin, plin, plon!
Plin, plin, plon!
A historinha vai começar
E a turma toda vai escutar
Zip, zap, zum! ôôôô
Sssshiiiiiiiiiiiiiiiiiiii”

E para terminar...

“Que peninha, que peninha
Acabou a historinha
Quem gostou
Bate palminha”

E o mais importante: selecione boas histórias. Por vezes, achamos que por se tratar de crianças pequenas devemos selecionar livros de textos curtos e com linguagens simples para facilitar sua compreensão. Então fazemos uso recorrente daquele material muitas vezes comprado em bancas de shopping e em feiras, com histórias formadas por pequenas palavras ou frases soltas. Nada contra o material. Contudo, se estamos falando de desenvolver o gosto pela leitura, é imprescindível que busquemos bons livros, de boas editoras e autores, assim como fazemos para nós mesmos. Separei aqui cinco livros, que além de ser um sucesso entre a criançada (daqui de casa e da escola), costumamos encontrar no acervo de livros das escolas, além de disponíveis em recursos digitais para enriquecer o trabalho. Espero que gostem!

1) “A Casa Sonolenta, de Audrey Wood (Editora Ática)
É um livro super antigo (sua primeira edição é de 1984), mas é atemporal e ainda hoje é sensação entre as crianças pequenas! Não por acaso, o livro traz uma história com acumulação (em que os acontecimentos da história são repetidos ao longo dela). O formato favorece a compreensão e a memorização do texto pelas crianças, permitindo uma leitura autônoma. Essa história começa em um dia de chuva em uma casa onde todos dormem na mesma cama. A avó dorme. Aparece um menino e se deita em cima dela. E, assim, todos os personagens que aparecem dormem um em cima do outro, até surgir uma pulga, que inverte a lógica dos personagens e todos passam a ser acordados até a casa não ser mais sonolenta. Como a história e o cenário se repete, acrescentando-se a cada nova página um personagem. Desta maneira, a criança consegue antecipar o que vai acontecer nas páginas seguintes e vai se apropriando da história, mesmos sem ainda saber ler.

2) “Bruxa, Bruxa Venha a Minha Festa”, de Arden Druce (Brinque Book Editora)
Sucesso garantido em toda a Educação Infantil, inclusive entre os bebês que se encantam com as ilustrações grandes e coloridas de pirata, tubarão, fantasma e até do lobo mau! Mas não são só as ilustrações que atraem os pequenos leitores. O formato em história de repetição

é o que prende a atenção do início ao fim. Nesse formato os acontecimentos das histórias ocorrem numa sequência linear que sempre repete o fato anterior e, ao final, retoma o início da narrativa. A repetição ajuda na compreensão da história, além de ser uma característica das crianças pequenas que aprendem pela repetição do mundo ao seu redor. A história é o convite a uma festa, a bruxa convidada diz que só vai se puder levar o gato, e assim fazem todos os convidados que só vão se outro amigo for também.

Aqui um vídeo que ilustra bem a relação desse livro com as crianças pequenas, trabalhamos com ele em uma reunião pedagógica para discutir a importância da leitura na Educação Infantil:



3) O Grúfalo, de Julia Donaldson (Brinque Book Editora)
Aqui temos uma história com animais, que as crianças nessa faixa etária também gostam muito  – mas com um toque a mais, já que surge um novo ser chamado grúfalo, inventado por um ratinho muito esperto, que para sua surpresa, encontra um dia com o tal ser assustador que criou. O livro também tem a sequência (tão divertida quanto) chamada “O Filho do Grúfalo”, da mesma autora e editora. Aqui temos um ótimo exemplo de livro com uma boa história e que, em um primeiro momento, pode parecer extensa demais para crianças pequenas. Mas, não se engane: a narrativa prende o leitor de tal forma que as crianças querem saber o que vai acontecer no final. Para algumas turmas, em que o tempo de atenção é menor, o livro pode ser lido em trechos, como se fosse uma novela, um pouco por dia, elas adoram!

Aproveito para indicar um canal muito legal no YouTube de contação de histórias, que eventualmente o professor também pode usar com as crianças. No vídeo, o tema é o livro “O Grúfalo”:



4) “O Caso do Bolinho, de Tatiana Belinky (Editora Moderna)
Mais um clássico daqueles que não podem faltar na roda de leitura das crianças! Tatiana Belinky tem um acervo fantástico para as crianças  –  não deixem de buscar nessa fonte, assim como nos livros de Cecília Meireles, Ruth Rocha, Eva Furnari, Sylvia Orthof, Ilan Brenman, entre outros autores infantis com obras fantásticas, muitas espalhadas nos acervos das bibliotecas das escolas. Não deixe de procurar!

“O Caso do Bolinho” conta a história de um avô que está com vontade de comer um bolinho gostoso e pede para avó fazer. O que ninguém esperava é que o bolinho depois de pronto, ao ser colocado para esfriar, sai rolando pela estrada afora em uma aventura e tanto. A história também virou música na voz da cantora fortuna no DVD Tic Tic Tati, que transformou em espetáculo os poemas e histórias da Tatiana Belinky:



5) O Mundo no Black Power de Tayo”, de Kiusam de Oliveira (Editora Peirópolis)
Realmente: boas histórias não faltam! Esse livro fala de uma menina negra que tem muito orgulho de seu cabelo crespo e o enfeita das mais diferentes formas, enfrentando com muita autoestima as agressões que sofre por ser como é. Excelente para trabalhar identidade, representatividade negra e tantos temas importantes de se abordar com as crianças desde cedo.

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Se vamos ler os contos de fadas para crianças, não podemos esquecer, por exemplo, de contar as histórias dos reis e rainhas africanos, dos indígenas, orientais e tantos outros. Pelas as histórias, os pequenos também vão conhecendo o mundo, que se amplia ao ter contato com esse rico universo que a escola pode proporcionar em uma roda de história.

Para saber mais sobre o tema desse texto, recomendo a biblioteca do Portal Trilhas, que também me inspirou para construção do conteúdo que vocês acabaram de ler.

Um abraço,

Camila Zentner

Camila Zentner Tesche é formada em Pedagogia com especialização em Educação Infantil pela Universidade de São Paulo (USP) e está na coordenação pedagógica da Escola da Prefeitura de Guarulhos Manuel Bandeira há 10 anos. A EPG atende a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I e, desde 2015, faz parte do mapa de escolas inovadoras do MEC.

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