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PPP: o que e como mudar de um ano para o outro?

Entenda como tornar o PPP um documento vivo com 8 dicas de especialistas

POR:
Camila Cecílio
O PPP deve ser um documento vivo e usados por professores e gestores   Crédito: Getty Images

Embora ainda visto por muitos como uma mera exigência burocrática, o projeto político-pedagógico (PPP) é considerado por especialistas como a principal ferramenta de planejamento e avaliação de uma escola. É por meio dele que a gestão escolar norteia práticas e ações para os próximos anos. Mas para que o documento tenha efetividade, é necessário tirá-lo da gaveta e torná-lo acessível, para que possa ser revisitado, rediscutido e mudado sempre que necessário, como um instrumento vivo e coerente com a realidade local.

O primeiro passo para promover mudanças necessárias é entender que o PPP, previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LBD), de 1996, é um documento prático que deve ser vivenciado por toda a comunidade escolar. É o que diz o coordenador de Projetos da Elos Educacional, Tiago Monteiro. “É importante entender o PPP como ponto de partida e, também, como ponto de chegada”.

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O coordenador recomenda que a escola faça uma contextualização, observe seu entorno e extraia dados da realidade local que, futuramente, serão importantes para tomadas de decisão. “O PPP apresenta os projetos macros que a escola desenvolve, então eles precisam estar alinhados a esse contexto. Por exemplo, se na caracterização for percebido que muitos alunos vêm de outro contexto que não seja o de pai e mãe, a escola pode olhar para isso e fazer uma ação inclusiva, colocando ali as figuras dos avós, tios, e assim por diante. Prestar atenção a esses dados para fazer ações desse tipo impactam diretamente na vida dos alunos”, explica o coordenador, que é mestre em Educação e doutorando em Língua Portuguesa pela PUC-SP.

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PPP, um reflexo da identidade escolar

Olhar para o contexto escolar é uma prática constante na EMEB Francisco Beltran Batistini Paquito, de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Marta Teixeira, coordenadora pedagógica da unidade, lembra que o PPP carrega a identidade da escola. “Fui professora nessa unidade de 2005 a 2011, ano em que passei no concurso para coordenadora pedagógica e fui trabalhar em outra escola. Voltei para cá em 2017, como coordenadora e, mesmo depois de tanto tempo afastada, olhei o PPP, que ajudei a construir, e vi que ainda refletia a realidade do lugar”.

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Nos últimos anos, a coordenadora tem trabalhado para que o PPP seja, de fato, um documento vivo. Em fase final de elaboração da nova versão, o projeto pedagógico da escola fica acessível durante todo o ano e serve de instrumento orientador em cada tomada de decisões. “Não é a equipe gestora que constrói o PPP, somos responsáveis pela articulação e por colocar o projeto em prática, mas a construção é feita pela comunidade escolar”, diz. “Todos participam”.

Marta Teixeira destaca que, no decorrer do ano, a equipe gestora observa o que dá certo e o que não dá, o que pode ser melhorado ou mudado totalmente, e faz anotações para implementar ao PPP quando chegar a hora de fazer as mudanças. Exemplo disso é o Conselho Mirim, ação que está prevista no novo PPP.

“Aqui atendemos crianças de 3 a 5 anos, e, apesar de pequenas, percebemos que elas têm condições sim de nos ajudar a melhorar. Um dia elas reclamaram que só havia dois balanços para brincar. Até que uma criança de 4 anos deu a ideia de fazermos uma ação para arrecadar dinheiro e comprar novos balanços”. A sugestão não foi colocada em prática, mas serviu para sinalizar aos gestores a importância de ouvir as crianças. “Vimos que elas estão aptas a participar desse processo, e disso surgiu a ideia de criarmos o Conselho Mirim da escola”, conta.

Outro ponto que já está mudando no PPP da escola, atualizado pela última vez há cerca de três anos, é o alinhamento à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que traz novos parâmetros para a Educação Infantil no país. “Aqui na rede municipal temos a figura da orientadora pedagógica, que todo final de ano indica o que devemos olhar para o próximo ano e o ponto da BNCC foi uma provocação dela”, conta a coordenadora.

O PPP do Colégio Santa Maria, de São Paulo (SP), também está passando por mudanças. Há cerca de dois anos, a equipe gestora trabalha na elaboração do novo texto e a primeira versão ficou pronta no final de 2018 já com uma mudança considerada bastante significativa: o nome. Antes, chamado de Ação Educacional, o documento que norteará as ações da escola passou a se chamar projeto político-pedagógico. “É uma mudança importante porque assume o caráter de projeto, no sentido de projetar ações, e é político porque conta com a participação de todos”, afirma a educadora Maria Cristina Forti, orientadora do 8º ano.

Com mais de 3 mil alunos, da Educação Infantil à Educação de Jovens e Adultos (EJA), o colégio católico tem em seu PPP o carisma das Irmãs da Santa Cruz, congregação mantenedora da escola, além da visão e missão, que também passaram por alterações. A nova versão do projeto também contempla marcos propositivos, que são como princípios para partir para a prática, segundo a orientadora.

Além disso, a equipe gestora acrescentou uma parte para falar especificamente sobre currículo. “O documento anterior citava concepções das áreas de conhecimento e o atual discute amplamente o significado de currículo na escola. São mudanças bastante importantes, mas vale ressaltar que praticamente todo o documento foi mudado”. O novo PPP valerá por, pelo menos, cinco anos.

 

Pontos práticos 

Documento vivo e democrático
O ideal é que os gestores escolares façam da revisão do PPP um processo democrático, ou seja, uma ação que envolva toda a comunidade escolar para discutir coletivamente de que forma isso será feito. “Se é político e pedagógico, deve ser democrático”, afirma Tiago Monteiro. Para isso, é importante que os gestores incluam em seu planejamento horários para reuniões regulares. “Para que o PPP tenha, de fato, representatividade, é importante ter na rotina de trabalho esse momento para se reunir com os professores, funcionários da escola, pais e alunos”, observa.

 

Observe o contexto da escola
É indispensável que a gestão se volte para o contexto escolar a fim de verificar se o seu público continua o mesmo. Se tiver variado, é preciso pensar em ações diferentes. “Quando a escola analisar o contexto, deve ter isso muito claro. O PPP precisa refletir a realidade, essa é uma forma de mantê-lo vivo”, afirma Tiago Monteiro.

 

Faça perguntas
Há perguntas que podem ajudar no processo de identificação do que deve ou não ser mudado no PPP. A coordenadora Marta Teixeira sugere questionar se o atual texto reflete a identidade da escola. “Se a resposta for não, então é hora de mexer no PPP”, diz. Já a orientadora pedagógica do Colégio Santa Maria, Maria Cristina Forti, sugere alguns questionamentos que têm ajudado na elaboração do PPP como:
- Qual é o aluno que nós queremos formar?
- Qual a necessidade que um sujeito tem hoje para se inserir no mundo em que ele vive, nos espaços sociais?
- Quais são as exigências da contemporaneidade para os sujeitos sociais?
- Como eles precisam se comportar nas relações com outras pessoas e ambientes?

 

Anote tudo
Durante todo o processo, anote tudo o que precisa ser mudado no PPP. Desse modo, quando tiver de fazer as alterações definitivas, já estará tudo registrado. De acordo com o coordenador de Projetos da Elos Educacional, reuniões de equipes ou com pais e alunos são espaços em que os participantes podem, intencionalmente, trazer pautas para reavaliar o PPP.

 

Todos têm algo a acrescentar
Muitas vezes, a discussão sobre o PPP pode acontecer no nível da gestão escolar, mas o ideal é que a construção seja feita com todos os profissionais que lidam diariamente com os alunos, professores e funcionários, além dos pais e dos próprios estudantes. “Esse é o princípio da escola democrática, dando voz e vez a todos, pautada em objetivos comuns”, afirma Tiago.

 

Teoria é importante, mas precisa ser acessível
“É interessante que o PPP se alicerce na teoria, mas que também se paute na prática, que seja acessível a todos da escola”, acrescenta Tiago. Segundo ele, muitos profissionais da Educação acabam se prendendo a um discurso “muito pedagógico”, sem dar oportunidade a que outros atores da comunidade escolar possam entender e participar mais ativamente do debate. “É meio que uma ideia de se utilizar da fundamentação teórica, mas que seja uma linguagem acessível, equalizar o que é pedagógico e a prática”, ressalta.

 

Lugar do PPP é fora da gaveta
Não são raros os casos de professores que chegam na escola e não recebem o PPP, o que é apontado pelo coordenador de Projetos da Elos Educacional como uma fragilidade, pois mostra que o documento fica engavetado. Por isso, é essencial que o projeto político-pedagógico seja parte do cotidiano da escola para que seja conhecido e vivido por todos. 

Sobre trilhos e trilhas
“Sempre gosto de dizer que o PPP não é feito de trilhos, são trilhas: no sentido de estar aberto às mudanças de rotas, diferentemente do trem, que, se sai do trilho, descarrilha. PPP é um caminho a ser percorrido e, como todo caminho, precisamos ter paradas e, se necessário, recalcular a rota”, diz Tiago Monteiro.

 

 

 

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