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Avaliação processual: por que ir além das provas

Confira dicas para transformar a avaliação em um instrumento de auxílio no processo de aprendizagem

POR:
Camila Cecílio, Naiara Albuquerque
Crédito: Getty Images

A avaliação processual – também conhecida como avaliação formativa ou contínua – vai além de uma série de perguntas reunidas em uma prova bimestral. Combinando diferentes instrumentos avaliativos para mensurar de forma mais assertiva diferentes aspectos do aprendizado, ela pode ser usada também como um diagnóstico da aprendizagem. A avaliação formativa ajuda a identificar se o aluno realmente está conseguindo aprender a partir do processo metodológico praticado e de base para feedbacks.

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É o que defende Alessandro Reina, professor de Filosofia do Centro Estadual de Educação Profissional de Curitiba (PR). Há cerca de três anos ele adotou metodologias ativas na sala de aula, que retiram do aluno a passividade na aprendizagem e os colocam como protagonistas do processo. “As metodologias ativas como ‘sala invertida’, ‘desenvolvimento de projetos’ ou de trabalho em equipes exige do aluno seu envolvimento total na resolução de problemas e na minha disciplina isso é fundamental, uma vez que o objetivo é educar para a liberdade de pensamento crítico e para formação cidadã”, afirma. A mudança na forma de ensinar, exige também uma forma de avaliar para que contemple todos os aspectos desse processo.

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Com isso, a avaliação processual acaba sendo a mais adequada por permitir que as aprendizagens sejam avaliadas ao longo de todo o processo e não apenas ao final do bimestre. “A avaliação classificatória é excludente e mascara a aprendizagem, mas ela é reflexo das condições oferecidas pelo sistema educacional. Devido ao pouco tempo e excesso de atividades ao professor, às vezes, este tipo de avaliação acaba sendo a única opção viável dentro do que o sistema impõe”, observa Alessandro. O professor explica que para cada objetivo alcançado, o aluno recebe uma nota que não representa o quanto aprendeu, mas sim que alcançou aquele intuito. Quando, porém, esse objetivo não é alcançado, uma nova estratégia é traçada e um novo desafio é proposto aos estudantes, o que, segundo Alessandro, estimula a turma.

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Feedback para o aluno
Andreza de Abreu, professora e coordenadora de Alfabetização da unidade, a Escola Estadual Sócrates Brasileiro, em São Paulo, usa a avaliação processual para dar “devolutivas” para os alunos. Para a educadora, a avaliação processual é um processo do que se espera atingir ao longo de um determinado período. “Daí a importância da devolutiva: colocar o aluno no centro desse processo, permitir que ele tenha acesso, consciência, daquilo que ele sabe e do quanto ele sabe”, explica Andreza. “Quando a gente promove o feedback, estamos dando oportunidade para que o aluno resgate uma habilidade, uma competência que ele não conseguiu desenvolver ao longo daquele tempo”, reforça a professora.

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O professor Alessandro Reina aposta na ideia de que é preciso sempre alterar a metodologia e diversificar os instrumentos de avaliação. “Nem todos os alunos aprendem da mesma forma, isso é cientificamente comprovado. Alguns alunos são mais visuais; outros, mais interativos ou mais auditivos...”, comenta. Ele destaca que o desafio só pode ser contornado diversificando a metodologia e os processos avaliativos.

Além disso, segundo Andreza, é uma forma do professor avaliar melhor o conhecimento da turma sobre os conteúdos e sair da subjetividade. Ela enfatiza que, quando o professor olha a avaliação processual, ele valoriza o saber do aluno. “Nós não estamos preocupados com a quantidade, um protocolo, com atender meramente as demandas ou cumprir cronogramas enviados pela secretaria, mas, sim, com a aprendizagem”.

Mudança de comportamento
A coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Seabra, na Bahia, Janaina Oliveira Barros, diz que avaliação não é um tema que caminha só. "Precisamos entender que formamos pessoas e a avaliação precisa estar a serviço desse indivíduo". É comum que as provas tragam termos como "explique", "discorra" e "justifique", que, em geral, são focadas em o que ensinar e não em como isso é feito pelos professores. Nesse momento, é importante juntar as duas coisas (“o que” e “como”) e, a partir disso, o educador passa a ter informações que podem ajudar no seu planejamento.

"Para cada parte do processo de aprendizagem do aluno, o professor precisa ter uma estratégia para que o aluno chegue onde quer", explica Diane Clay Cundiff, diretora geral do Colégio Santa Maria, em São Paulo, que faz uso do modelo processual de avaliação. "É preciso ensinar e não mostrar ao aluno que ele não sabe", diz.

Para oficializar as avaliações processuais no Ensino Fundamental, o Santa Maria levou a questão para o coração da escola: o projeto político-pedagógico (PPP). Com isso, a avaliação processual passou não só a ser uma prática, como também a guiar uma mudança na forma como os professores se organizam para ministrar as aulas. "Antes os planos eram feitos da seguinte forma: como o professor pretende [ensinar um tema]? E hoje o professor pensa: o que o aluno vai aprender? Quais os métodos que o aluno precisa para aprender?", conta Marcia Almirall, orientadora pedagógica do Colégio Santa Maria.

No colégio, a mudança no método avaliativo foi feita seguindo muita organização. "Há muitas pessoas que esse método é muito subjetivo, mas na realidade segue uma lista de verificação muito séria, como as rubricas", diz a orientadora. As rubricas são usadas pelos professores para construir e mostrar critérios de avaliação mais transparentes. Podendo, inclusive, ser feita em conjunto com os alunos. Aqui temos um exemplo de rubrica.

Confira algumas dicas práticas
Para quem quer sair do modelo tradicional, vale a pena levar em conta alguns fatores:

1. Entenda a avaliação como uma ferramenta que auxilia o processo de aprendizagem e não apenas como um protocolo ou uma forma de punição.

2. Planeje a aula de forma que os alunos sejam capazes de ler, investigar, analisar e discutir o conteúdo da aula. Seja em Filosofia, História ou Matemática, o aluno precisa saber o que está estudando, o porquê e qual a sua finalidade, isso ressignifica a aprendizagem.

3. Faça da aula um espaço de participação e incentive o aluno a perder o medo de interagir.

4. Alterne a metodologia com aulas dialogadas, de trabalhos em equipes, com proposição de desafios e atividades que exijam criatividade e raciocínio.

5. Depois da avaliação, tabule as respostas dos alunos para criar um panorama dos saberes da turma.

6. Selecione uma questão que apresente maior número de respostas erradas e liste o que pode ter levado a turma a fazer tal escolha.

7. Organize uma aula para a devolutiva deste conteúdo ou questão.

8. Elabore uma sequência didática e verificação de aprendizagem do conteúdo.

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