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Metodologia de projetos: o que considerar no planejamento

Quanto maior o nível de detalhamento, mais oportunidades há para identificar as aprendizagens do percurso

POR:
Ewerton de Souza
Crédito: GettyImages

Fazer projetos talvez seja uma das atividades humanas mais prazerosas. Planos e projetos caminham lado a lado se diferenciando pelo maior grau de detalhamento que o segundo possui. Essas atividades estão relacionadas ao mundo que sonhamos. São atividades de imaginação – e as fazemos o tempo todo. Idealizamos as celebrações mais importantes de nossas vidas, as casas em que moraremos, as carreiras que adotaremos...

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Não seria diferente na escola. Na verdade, jamais poderia ser de outro modo. Considerando que o objetivo da escola flerta fundamentalmente com o futuro (daquelas crianças e jovens e também da sociedade, como um todo), planejar e projetar são atividades intrínsecas à vida escolar. No entanto, gostaria de abordar aqui uma forma específica de dimensionar os planos que fazemos na escola: a metodologia de projetos. Hoje, gostaria de chamar a atenção de vocês para o planejamento do projeto.

De onde partir e onde chegar?
Definida a temática do projeto e realizada a devida contextualização dele, um dos pontos cruciais é a definição de qual será o produto a ser construído durante sua execução. Embora se possa objetar que o importante é o processo (sem menosprezá-lo), cabe gastar um bom tempo do planejamento dimensionando a que resultado queremos chegar com a realização de um projeto.

Digo isso, primeiramente, porque a essência desta modalidade de trabalho pedagógico está exatamente em projetar algo no qual professores e estudantes engajarão seus esforços para construir/fazer/criar/compor. Em segundo lugar, porque delinear um produto resultante do processo e do caminho de aprendizagem que percorreremos é altamente motivador.

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Nesse sentido, um exercício essencial é imaginar o produto com detalhes. Isso ajudará a pensar em que saberes e habilidades necessitam ser desenvolvidos e mobilizados para se chegar ao resultado pretendido. Se a proposta, por exemplo, é a criação de instalações artísticas, vale perguntar: quais serão os materiais usados, como trabalhar com esses materiais, que técnicas serão necessárias, que temas as instalações abordarão, quais linguagens serão empregadas, como as obras ficarão dispostas, como o público vai interagir com elas? São exemplos de perguntas necessárias e que apontarão as aprendizagens trazidas ao longo do percurso de desenvolvimento do projeto. Quanto mais detalhes tivermos do produto, tanto mais poderemos planejar e organizar as aulas que o projeto compreenderá.

E se o projeto não sai como o planejado?
Outra preocupação que costuma aparecer quando o professor ou a escola investe nesta metodologia é a de que o produto não venha a ficar tal qual foi imaginado. Por isso, muitos não gostam de se arriscar detalhando-o e preferem acentuar as aprendizagens que certamente surgirão com o decorrer do projeto. Aqui, cabe ficarmos alertas ao fato de que se o produto não chegar a ser aquilo que inicialmente idealizamos, não se trata de nenhum pecado imperdoável. Esse resultado também pode servir de base de aprendizado e gerar novos desafios para a turma.

Chegar ao fim do projeto e poder comparar o que idealizamos e o que de fato alcançamos é um excelente exercício de avaliação. O que pode ter faltado no caminho? Superdimensionamos nossas expectativas? Subestimamos à nós e aos nossos alunos? Alguma aprendizagem importante não foi considerada? Responder perguntas como essas nos tornará mais experientes para nossa próxima empreitada nesta metodologia. Claro que fazer avaliações durante o projeto ajudará a ajustarmos eventuais necessidades, garantindo assim que cheguemos o mais próximo do que inicialmente projetamos.

E por falar em processo, é importante considerar que, para a boa execução de um projeto, não podemos negligenciar o rigoroso planejamento de suas etapas. Pensar nos passos que serão dados para que os educandos desenvolvam as habilidades e dominem os saberes necessários é decisivo. Um projeto precisa ter um tempo rigoroso de execução, até porque ele precisa caber dentro do calendário letivo da escola –  maior frustração para todos seria chegar ao final dele ser ter conseguido executar aquilo que inicialmente planejamos. Daí que trabalhar com este tipo de metodologia é cuidar do tempo de professores e alunos, especialmente no que se refere à qualidade deste tempo. As aulas precisam ser significativas e responder claramente aos objetivos delineados, visando desenvolver as aprendizagens exigidas pelo projeto.

Temos trabalhado com metodologia de projetos em nossa escola desde 2015. Já realizamos projetos que visaram criar mostras de arte, jogos educativos, apresentações para a comunidade, pesquisas de território, livros, HQs, curtas-metragens, entre outros. Agora estamos trabalhando na construção de uma horta vertical comunitária.

A proposta é fazê-la em um espaço atualmente tomado por lixo e entulho advindo de descarte irregular fronteiriço ao muro da escola. Nosso prazo para instalar este espaço é o fim do semestre vigente. As aprendizagens necessárias perpassam o domínio do plantio, a criação de vasos a serem colocados no espaço, a conscientização da comunidade para que não se descarte lixo de forma incorreta, entre outras demandas que visam a fazer os moradores terem consciência de que aquele espaço é comunitário e deve ser cuidado e usado por todos. Sairemos desse processo com o produto tal qual o imaginamos no início? Não sei. Quando chegarmos lá, conto a vocês!

Um abraço,

Ewerton Fernandes de Souza é coordenador geral no CIEJA Clóvis Caitano Miquelazzo, escola da prefeitura de São Paulo que lida exclusivamente com Educação de Jovens e Adultos, especialmente na faixa etária dos 15 aos 18 anos. Foi um dos 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 de 2017.

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