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Projeto institucional: um passo a passo para tirar o projeto da sua escola do papel

Confira orientações para realização do projeto institucional e modelos para download

POR:
Renan Simão
Crédito: Getty Images

O projeto institucional é um documento que busca viabilizar mudanças na escola. Ele prevê um diagnóstico se apoiando em evidências sobre uma situação-problema e, a partir delas, estabelece objetivos, prazos e demandas para uma melhora ou resolução. Com isso, forma-se um plano de ações com etapas, divisão de tarefas e metas a cumprir pela equipe gestora e a comunidade escolar.

Projeto institucional não é a mesma coisa que PPP
O nome “institucional” pode gerar confusão com outro documento de natureza institucional: o projeto político-pedagógico (PPP). No entanto, não se engane: esses documentos não possuem a mesma função. Se o PPP garante o direito, os valores e os critérios para que todas as ações da escola existam, o projeto institucional é seu desdobramento prático em que a equipe gestora transforma a identidade criada pelo PPP em ações concretas.

O projeto institucional é também chamado de projeto estruturante, plano de trabalho ou plano de ação por gestores e acadêmicos – e essa nomenclatura também pode causar dúvida. De fato, o plano de ação é um resumo de tarefas e funções (geralmente no formato de tabela ou planilha) produzido dentro da etapa de desenvolvimento do projeto institucional. Mas, para chegar ao plano de ação, há todo um percurso a seguir.

O propósito de um projeto institucional
O projeto institucional possui muitas finalidades de acordo com as necessidades da instituição de ensino. Elas podem englobar uma ação pontual, como promover melhora em um aspecto de aprendizagem, ou um conjunto de ações, como estruturar a passagem de uma gestão escolar tradicional para uma gestão participativa. Além desses exemplos, por meio do documento pode-se detalhar como diminuir a evasão escolar; iniciar a formação de uma escola leitora; destinar espaços e propostas para priorizar o brincar na Educação Infantil; reorganizar espaços coletivos da escola como pátio e banheiros, entre muitas outras ações. A quantidade e o grau de complexidade dos projetos variam de acordo com a estrutura institucional e as necessidades de cada escola.

LEIA MAIS A estrutura do projeto institucional

“O plano de ação marca a escola. É um plano que cuida e não abandona os estudantes. Se a escola faz essa gestão, ela vai institucionalizando ações que, de fato, oportunizam aos estudantes um conhecimento em diferentes situações, não apenas ligadas à sala de aula”, afirma Maura Barbosa, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa CEDAC. Mas, para chegar a esse objetivo maior, é preciso seguir algumas estratégias básicas no desenvolvimento do projeto:

1) Impressão e diagnóstico: qual é o problema que gostaríamos de resolver?
Todo projeto institucional parte de uma impressão compartilhada pela equipe gestora sobre um problema. Uma observação atenta pode indicar que, por exemplo, há brigas frequentes entre as crianças no recreio ou que parte dos alunos tem dificuldade em ler textos instrucionais. Em um segundo momento, é preciso fazer um diagnóstico para confirmar ou refutar essa impressão. “A primeira impressão é essencial para delinear o problema”, diz Beatriz Cortese, coordenadora de projetos no Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). “No entanto, para eu buscar uma solução, preciso de um segundo olhar mais aprofundado para entender o que está gerando esse problema e conseguir atuar melhor sobre ele”, explica. Para a gestora, além de o diagnóstico ser acompanhado de evidências como indicadores de aprendizagem, ele tem de ser preciso e não tomar muito tempo de elaboração. Desse modo, a justificativa inicial já ganha intencionalidade.

2) Participação: como envolver a comunidade?
Essa primeira parte nasce geralmente do trabalho da equipe gestora. No entanto, a situação-problema e sua oportunidade de resolução sempre serão responsabilidade da escola como um todo.

Se o problema é conhecido por todos os segmentos da comunidade escolar, um engajamento inicial já deve existir. Mas a gestão escolar, assumindo um caráter participativo, pode ir além. Conversas sobre o projeto institucional e seus conteúdos trabalhados podem acontecer com o professor na sala de aula, nas reuniões de pais, nas reuniões pedagógicas e até em encontros inaugurais do projeto junto à comunidade escolar. O momento de mobilização pode ser mais do que chamar os pais para organizar um evento isolado. A participação pode ser para identificar diferentes afinidades da comunidade com os objetivos do projeto.

Segundo Sheilla Brasileiro, coordenadora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) e professora do curso de pós-graduação em Gestão Escolar da mesma universidade, os encontros mobilizadores devem inserir o projeto em uma abordagem conhecida de alguns gestores no processo de sensibilização do PPP: questionar todos sobre “a escola que se quer”; “a escola que se tem” e “a distância entre as duas”. Sheila indica que as perguntas podem ser discutidas em uma reunião dividida em três momentos com enfoques em cada uma das perguntas ou podem ser três reuniões. “O que eu não sugiro é já falar as três perguntas de uma vez porque as pessoas ficam com preguiça”, aconselha a professora. Depois que as respostas estiverem claras aos participantes, uma nova pergunta deve ser levada para o grupo: com quais parceiros podemos contar? “Professores, pais, diretor, alunos e funcionários devem entrar nisso também, e até mesmo as instituições que estão ao redor da escola podem contribuir de alguma forma”, explica Sheilla.

O projeto institucional desenvolvido pela equipe gestora da escola EPG Manuel Bandeira, em Guarulhos (SP), da qual faz parte a coordenadora pedagógica e colunista de GESTÃO ESCOLAR Camila Zentner, pode ser visto como exemplo de engajamento. A escola realizou um projeto institucional sobre o uso consciente de novas tecnologias digitais e nele foi descrito como a ideia do planejamento partiu do interesse das crianças por influenciadores digitais das redes sociais. O texto destaca “a importância dos valores dentro e fora das redes sociais (respeito, responsabilidade, ética, empatia) e o aprofundamento do trabalho contra racismo, preconceito e bullying, partindo para cyberbullying e segurança virtual”. Uma pesquisa na primeira reunião de pais do ano legitimou a escolha, junto com a percepção dos professores sobre esse contexto no dia a dia com os alunos da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Os produtos finais tentam reproduzir um método de pesquisa científica.

3) Objetivos e funções: o que fazer na hora de aprofundar o projeto?
Com a mobilização da comunidade escolar, os objetivos do projeto (esboçados com a participação de todos) devem ser esquematizados pela equipe gestora. É importante definir os valores dos objetivos, desenvolvendo princípios descritos no PPP junto com as finalidades das ações. Por exemplo: se o projeto é desenvolver uma comunidade leitora, o texto já pode mencionar o pensamento crítico, assim como o caráter participativo de professores e pais no projeto. Se possível, já se pode debater sobre espaços e parcerias existentes para a execução do projeto.

Deve-se ter em mente a necessidade de desenvolver objetivos específicos também. Se o projeto quer introduzir histórias em quadrinhos no processo de alfabetização, como também é o caso de outro projeto da escola da coordenadora Camila Zentner, é esperado que se avance em hipóteses de escrita. No entanto, apontar que é preciso “reescrever textos de memória” e “produzir falas para personagens conhecidos” (como está registrado no documento) já mostra um pouco da especificidade do que se quer com o projeto.

4) Alinhamento de expectativas: quem faz o quê?
Também vale compartilhar com toda a escola o que se espera de cada um. Sheilla conta que, para evitar a situação de “todo mundo vai fazer tudo; e ninguém faz nada”, deve-se criar equipes menores para diferentes tarefas, cada uma com seu representante designado para interlocução com a coordenação.

Ao coordenador, espera-se formular estratégias para desenvolver o projeto e, ao mesmo tempo, articulá-lo com as disciplinas da escola. Para Sheilla e Beatriz, a coordenação deve ficar à frente dos projetos institucionais por conseguir supervisionar de perto os vários segmentos da escola e articular atividades com os professores.

Ao diretor, cabe detalhar de que forma garantir as condições institucionais e estruturais do projeto (prazos, espaços, recursos humanos e materiais). Seu olhar sobre os projetos institucionais deve atribuir coerência aos valores e metas representados pelo PPP.

A organização da atuação dos professores depende do tema do projeto. Usando ainda o exemplo da EPG Manuel Bandeira sobre o avanço nas hipóteses de escrita: como se trata de um projeto para um segmento específico da escola, parte dos professores pode, por exemplo, indicar uma atualização de sequências didáticas incentivada por grupos de estudo organizados pela coordenação. Outro grupo de docentes pode mediar a comunicação das propostas para o projeto entre alunos e gestão. Funcionários podem fazer sugestões e colaborar com soluções para o projeto, além de ter atenção especial a questões sobre os recursos materiais usados.

5) Plano de ação: o que precisamos fazer para transformar o problema?
Com nomes e responsabilidades já definidos, pode-se chegar às etapas de desenvolvimento. Este é o momento de criar a tabela ou planilha com o plano de ação. Ações prioritárias, estratégias didáticas, recursos materiais e prazos são destacados, mas o plano de ação tem de ser sistematizado, priorizando e detalhando tarefas e funções. Um plano de ação flexível é desejável, pois permite pequenos ajustes de prazos e metas no meio do processo.

Foi o que aconteceu no projeto de Matemática para melhorar desempenho em multiplicação e divisão nos anos finais do Ensino Fundamental da EM José Avilez, em São Bernardo do Campo (SP). “A gente estava sendo bastante rigoroso com as crianças. Esperávamos consolidar a aprendizagem em 15 dias. Mas estendemos o prazo para um mês e fomos avaliar no final do ano letivo”, diz Muriele Massucato, coordenadora pedagógica da instituição. Foi a proximidade de acompanhamento projeto e o replanejamento de acordo com os primeiros resultados que garantiram que o objetivo fosse cumprido – mesmo que não no prazo esperado. “O desempenho dos alunos mudou consideravelmente”, relata a coordenadora. Muriele reforça que mini-prazos devem ser usados para motivar cada membro do projeto sobre sua responsabilidade. Em sua escola, ocorrem três reuniões sobre os planos de ação por trimestre.

Nesse ponto, equipe gestora, professores e funcionários validaram o plano. Para manter a comunidade engajada, uma programação de encontros (mensais ou mais frequentes) com temas previstos pelo plano pode dar um apoio extra ao trabalho desenvolvido.

Beatriz Cortese diz que a viabilidade do projeto  – uma função do diretor – é o grande desafio do projeto institucional. “Os objetivos devem ser articulados com as possibilidades de execução. Se não for exequível, não adianta fazer”, diz. Esse é um dos motivos para que o projeto seja específico e seja feito com metas a curto e médio prazo – de um semestre ou menos, salvo exceções.


5) Avaliação e resultados: como saber se o projeto foi bem-sucedido?
O último passo significa estar bem perto do resultado. Se o projeto atingiu todos ou parte dos objetivos, o momento é de merecida comemoração. Afinal, a escola mudou num curto ou médio período, e para melhor. Contudo, a avaliação é essencial para dar continuidade e aprimorar o projeto ou mostrar um novo rumo para outros planejamentos que nascem dessa reflexão.

Reuniões periódicas de acompanhamento do projeto podem ser potencializadas com a divisão das tarefas por comissões, pois ela alivia a carga de trabalho e o otimiza o tempo gasto. Questionários e depoimentos dos alunos também podem ser usados como indicadores de sucesso ou reparo do projeto.

“Não pense que tudo é uma novidade. Pense concretamente no que já foi aprimorado. Podemos aprender com as experiências anteriores que deram certo ou não”, orienta Sheilla. Esse é um lembrete para a revisão de projetos passados e para a sistematização contínua dos registros do projetos institucionai atuais. Eles possivelmente vão ser parte da construção e avaliação de projetos futuros.

Com dados em mão, a equipe gestora pode fazer questões básicas como: o que aprendemos (a fazer e a não fazer)? Quais foram os resultados de aprendizagem? O que ainda falta alcançar?

Sheilla conta que os registros de avaliação devem ser feitos já com a intenção de torná-los públicos em todas as etapas dos projetos. Por exemplo: fazer uma horta comunitária com o objetivo geral de incentivar hábitos saudáveis de alimentação dos alunos passa por: conseguir o espaço; registrar quem e como auxiliou a plantar; marcar os detalhes do momento de colher e, por fim, a preparação da sopa de legumes. Seja em um diário ou em posts nas redes sociais, os momentos-chave do processo devem ser lembrados e descritos. “Tem que publicizar e avaliar tudo durante o processo, não só como um produto final”, diz Sheilla.

Beatriz Cortese vê outro cuidado necessário: se a meta do projeto é aprender sobre o ciclo de vida de vegetais a partir da horta, somente os atos de plantar, colher e comer podem não atingir o objetivo almejado. “O ideal é que os resultados dos projetos sempre estejam ligados à melhoria da qualidade de aprendizagem. Por isso, a clareza de referenciar a meta. A horta cresceu, mas os alunos aprenderam?”, questiona a gestora. Beatriz ressalva que projetos institucionais direcionados à infraestrutura ou, como nesse caso, de promoção da alimentação saudável também são válidos. A questão é direcionar as ações de encontro aos objetivos estabelecidos no projeto.

 REFERÊNCIAS

Livro “O que revela o espaço escolar? — Um livro para diretores de escola”, realização de Comunidade Educativa CEDAC e Editora Moderna (2013).

Silvana Augusto, Projetos e Mais Projetos, Revista Avisa Lá, nº 57, fevereiro de 2014.

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