Ir ao conteúdo principal Ir ao menu Principal Ir ao menu de Guias
Notícias
5 4 3 2 1

Como organizar uma festa junina com proposta pedagógica

Saiba como celebrar as festividades sem deixar de lado o desenvolvimento dos alunos e a valorização da cultura regional

POR:
Giovanna Diniz
Crédito: Flickr Rio Solidário/André Gomes de Melo. Licença CC Atribuição 2.0 Brasil

As festas escolares são muito aguardadas pelos alunos e familiares. É um momento de descontração e integração de toda escola que, além de ser divertido, deve também ter uma proposta pedagógica. É o caso das festas juninas, que celebram o folclore nacional com as danças e comidas típicas. Cada escola define como irá organizar a festa, mas os gestores escolares precisam estar atentos para contextualizá-la em uma proposta pedagógica. Isso significa organizar atividades que desenvolvam a formação humana, física, cultural e ética dos alunos.

Qualquer festa ou evento cultural realizado pela escola deve, antes de tudo, estar previsto no calendário escolar e no projeto político-pedagógico (PPP). “A escola não deve esperar chegar no segundo bimestre para planejar apenas o dia da festa”, adverte Dineia Hypolitto, professora de Pedagogia da Universidade São Judas Tadeu. “É preciso que isso já esteja previsto no calendário letivo, para que também esteja atrelado com a PPP da escola e as competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)”. O planejamento possibilita organizar como cada membro da equipe irá contribuir para a idealização e realização da festa e integração com as aulas, por exemplo. Além disso, permite que cada escola trabalhe o lado folclórico da festa junina, integrando disciplinas como Arte, História, Língua Portuguesa e Educação Física. Dineia recomenda que a abordagem considere aspectos culturais da comemoração. “As atividades devem destacar a origem dos trajes, os alimentos na cultura do povo, fazer com que a família e a comunidade passem a entender essa data conhecendo sua história”, diz.

Nesse contexto, adequar a festa ao contexto pedagógico se torna um estudo de valorização de manifestações artísticas e folclóricas do povo brasileiro. Para isso, no entanto, é preciso considerar o que já é parte integrante do currículo em cada série para não subutilizar o tempo de aula com atividades que apenas superficialmente se ligam às disciplinas – como gastar todas as aulas de Arte de junho para produzir a decoração da festa. A ideia é aproximar conhecimentos e não criar conteúdos apenas para se adaptar às festividades.

Crédito: Flickr/SINPRO-DF Licença Marca de Domínio Público 1.0

No colégio AB Sabin, uma das propostas para a realização da festa para a Educação Infantil foi trabalhar os campos de experiência da BNCC – com maior enfoque no campo “Traços, sons, cores e formas”. A proposta foi propiciar o contato das crianças com o universo da cultural popular através da apresentação de obras de pintores brasileiros modernistas. “Em uma das aulas, a professora apresentou um quadro do artista Militão de Santos com uma cena junina. A partir disso os alunos foram instigados a produzirem bandeirinhas inspiradas na obra”, conta a coordenadora pedagógica Suzy Vieira. O conteúdo é trabalhado durante a época das festivades em conjunto com a inserção de outras atividades que exploram brincadeiras, danças e conhecimento culinário com o tema junino. “Com tal nutrição estética, habilidades artísticas são desenvolvidas e novamente a animação de conhecimento de mundo se efetiva no universo da Educação Infantil”, diz Suzy.

Outras séries também podem ser incluídas na realização da festa junina, desenvolvendo atividades em diversas disciplinas. Na Educação Física, é possível abordar danças, gincanas, jogos e brincadeiras típicos adequados a cada ano de aprendizagem. Na disciplina de História, o professor pode trabalhar a origem das festas, o significado das danças típicas e dos santos sem, no entanto, atrelar esses conhecimentos à religião. Nesse sentido, é essencial que as atividades pedagógicas relacionadas às festividades tratem as manifestações culturais sem preconceito e estereótipo, como, por exemplo, destacando a importância do trabalho do homem do campo e as diferenças regionais. Esse trabalho pode ser realizado em conjunto com os pais e responsáveis, pedindo aos alunos que pesquisem junto a sua família como eram realizadas as festas na época deles, como eram as comidas, as vestimentas e brincadeiras. Na disciplina de Língua Portuguesa, é possível explorar textos, músicas, entre outros materiais com a temática junina que despertem o interesse sobre as diferenças regionais.

O gestor escolar também pode trabalhar com os professores a proposta de um projeto interdisciplinar, elaborando com os alunos um livro com receitas típicas, um mural com informações ou jornal com histórias, músicas, artes. De acordo com Ricardo Pires, coordenador de projetos do Colégio Oshiman, os alunos devem ser protagonistas nas atividades. “A escola deve criar condições para que o aluno desenvolva habilidades [socioemocionais] e saiba, por exemplo, atuar em grupo e aceitar as diferenças”, diz Ricardo. Ao realizar todas essas atividades, a escola também fornece material para uma avaliação formativa do resultado desse trabalho, verificando quais habilidades foram desenvolvidas pelos alunos e se é possível melhorar ou mudar algum aspecto da abordagem da festa junina na prática pedagógica.

A festa junina também deve integrar os pais e responsáveis. “Uma das demandas pedagógicas que devem estar previstas no plano de ação é promover a integração de escola, familia e comunidade, com o objetivo também de integrar temas transversais como a diversidade cultural”, comenta a professora Dineia Hypolitto.  Essa presença deve ser garantida não só na hora da festa, mas também no planejamento pedagógico, consultando e pedindo sugestões os pais e responsáveis. “É mais importante envolvê-los do que distribuir tarefas”, acrescenta Dineia.

Como sugestão, os pais e responsáveis podem ajudar na confecção das comidas tipícas junto aos alunos, sem a obrigatoriedade de contribuir financeiramente ou trabalhar na festa, mas sim de auxiliar as crianças como protagonistas no seu desenvolvimento cultural e artístico, fazendo da festa junina um projeto colaborativo. A motivação da festa junina não pode ser, por essa razão, uma arrecadação de fundos para a escola, ou ainda, não pode exigir dinheiro ou a participação obrigatória de pais e professores para trabalhar nas barraquinhas no dia da festa. O mais importante é que a presença dos pais garanta o fortalecimento dos laços familiares na relação entre comunidade e escola, fazendo da festa junina uma oportunidade de valorização da cultura popular brasileira.