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Disciplina Positiva: como resolver problemas sem punição ou violência

Assunto é novo nas escolas, mas pode ajudar na resolução de conflitos em todas as fases

POR:
Camila Zentner
Professor de frente para a câmera parece discutir com aluno sentado em carteira, de costas para a câmera, em uma sala de aula
Foto: Getty Images

Você já ouviu falar em Disciplina Positiva? O assunto ainda é novo nas escolas, mas tem se popularizado entre grupos de mães e pais nas redes sociais. Foi assim que tive meu primeiro contato com o tema, depois do nascimento do meu filho, mais precisamente no início da temida fase das birras (por volta dos dois anos de idade), encontrando na Disciplina Positiva caminhos para lidar com esse momento de estresse, sem usar de violência ou qualquer forma de punição.

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Na internet, em especial nos blogs e perfis nas redes sociais relacionados a maternidade, há uma infinidade de dicas que seguem o método da Disciplina Positiva. Também há sites, canais de vídeo e até desenhos animados. Mas foi conhecendo um pouco da bibliografia, que descobri que tal método refere-se não só a Educação das crianças em casa, mas também na escola, trazendo uma série de estratégias para desenvolver a cooperação e a autodisciplina em bebês e até adolescentes.

Mas afinal, o que é a Disciplina Positiva?

A Disciplina Positiva é baseada na filosofia e nos ensinamentos de Alfred Adleer e Rudolf Dreikurs, nomes pouco conhecidos aqui no Brasil, que inspiraram a americana Jane Nelsen, psicóloga e doutora em Educação, a desenvolver um método em que a disciplina é ensinada de maneira respeitosa e encorajadora, a partir do uso de ferramentas que são ao mesmo tempo gentis e firmes.

O método se transformou em um grande guia, publicado há mais de trinta anos e vendido ainda hoje, sendo considerado um best-seller internacional, pelo grande número de exemplares vendidos. Depois dele, vários outros livros foram publicados pela mesma autora e por diferentes autores, inclusive brasileiros.

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O método traz uma série de princípios e conceitos para pais e professores, esclarecendo que a única diferença é o local no qual eles são aplicados. Alguns deles são: respeito mútuo; erros como oportunidades para a aprendizagem; envolvimento das crianças na solução de problemas; encorajamento, entre outros.

Em linhas gerais, a proposta é que os castigos sejam abandonados, assim como as chantagens e punições. No lugar entram o diálogo e a resolução de problemas, a fim de estabelecer relações mais próximas e de confiança. Uma das frases da autora que se popularizou e ilustram esse pensamento diz: “De onde tiramos a absurda ideia de que, para levar uma criança a agir melhor, precisamos antes fazê-la se sentir pior?”.

Na prática

Usar o parque como chantagem para que a turma se comporte, por exemplo, pode ter um efeito momentâneo, mas não a longo prazo. Um aluno considerado bagunceiro, pode ficar muito triste ao perder um dia de parque, talvez finja um novo comportamento, para tentar uma outra chance, mas não mudará sua postura em sala, uma vez que não houve uma reflexão sobre suas atitudes. É muito provável que ele fique com raiva e queira até vingar-se da situação ou tornar-se apático aos pedidos de melhora, uma vez que não terá mais nada a perder. É preciso estar atento ao que funciona. Para casos assim, uma das ferramentas da Disciplina Positiva é as Reuniões de Classe, que são usadas para discutir os problemas da turma, falar sobre sentimentos e propor sugestões (sempre não punitivas).

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O grito ou qualquer tipo de relação desrespeitosa do adulto para com a criança também não cabem mais. Por exemplo, ao ver dois alunos trocando socos no pátio é comum que o professor ou gestor tenha como primeiro impulso dar uma bronca nas crianças, aquele famoso sermão, em um tom de voz bem alto, dando uma punição para que tal situação não se repita. Agindo de acordo com a Disciplina Positiva, o professor vai chamá-los para conversar e, caso estejam muito nervosos (inclusive ele próprio, o adulto), irá propor um tempo para que possam se acalmar e assim iniciar um diálogo. Na conversa, o adulto ajuda os alunos a reconhecerem e nomearem os sentimentos que levaram aquela situação de agressão, bem como pede para que os ambos encontrem uma solução para esse problema.

Trabalhar com os sentimentos faz parte da Disciplina Positiva. Desde que a criança nasce existe uma preocupação em apresentar todas as coisas do mundo para ela: “isso é uma mesa, uma cadeira, o sol, a chuva, a letra A, o número 1...”, mas pouco se fala de sentimentos, muitas vezes chegamos até a reprimi-los, como o famoso “pare de chorar! Não foi nada!”. A Disciplina Positiva fala da importância de se trabalhar com os sentimentos desde a infância. Neste outro exemplo, quando a criança chora ao perder o brinquedo para o colega, o adulto reconhece o sentimento verbalizando “imagino o quanto você deve estar frustrado com essa situação, que tal procurarmos um outro brinquedo na caixa?”.

Apesar de gostar muito da proposta da Disciplina Positiva, tenho minhas ressalvas quanto a um método fechado com promessa de sucesso garantido. Nós da Educação sabemos que cada realidade é única e que não existe receita pronta para uma Educação de sucesso. Contudo, nós professores e gestores, carecemos de repertório, especialmente para lidar com situações desafiadoras, como a birra ou indisciplina, assim como, necessitamos de fontes para nos aprofundarmos na Educação socioemocional, que a maioria de nós não teve na infância e se vê frente a urgente tarefa de fazê-lo.

Um abraço,

Camila Zentner

Camila Zentner Tesche é formada em Pedagogia com especialização em Educação Infantil pela Universidade de São Paulo (USP) e está na coordenação pedagógica da Escola da Prefeitura de Guarulhos Manuel Bandeira há 10 anos. A EPG atende a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I e, desde 2015, faz parte do mapa de escolas inovadoras do MEC.

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