Ir ao conteúdo principal Ir ao menu Principal Ir ao menu de Guias
Notícias
5 4 3 2 1

Terceiro bimestre não precisa ser “sentença final” para aluno

É hora de os gestores analisarem o que já foi feito e estabelecer planos para reverter desempenho baixo nos bimestres anteriores

POR:
Nairim Bernardo
Aluna olha para a câmera, sentada em uma carteira de escola, ajudada por uma professora
Foto: Getty Images

A volta do recesso de meio de ano deve ser iniciada com um período de replanejamento; é hora de olhar para o que já foi realizado e estabelecer o que ainda precisa ser feito. Alguns dos pontos essenciais a serem observados dizem respeito ao aprendizado dos alunos. Mas, e quando o desempenho escolar de alguns deles não foi satisfatório no primeiro semestre, o que fazer para que o terceiro bimestre não se torne uma “sentença final”? E, principalmente, como usar esse período para reverter o quadro, retomar o aprendizado e chegar a bons resultados ao final do ano?

“O início e fim de cada bimestre é um momento de parada para análise do processo de ensino. Ao olhar para o desempenho real dos alunos dentro do que estava previsto, é possível também fazer uma análise da gestão”, comenta Maura Barbosa, consultora pedagógica especialista em gestão. “No terceiro bimestre, o gestor consegue ver com mais clareza quais providências cabíveis já foram tomadas até ali e estabelecer planos de ação para apoiar os alunos”. A pedagoga define plano de ação como uma ferramenta muito preciosa para a gestão. É preciso primeiro saber qual o problema a ser trabalhado para, a partir daí, estabelecer ações para amenizá-lo. Como, quem, em quanto tempo, com quais materiais? Essas são as perguntas básicas que devem pautar um plano de ação, que precisa ser construído com toda a equipe.

LEIA MAIS  7 ações para examinar o trabalho escolar

No caso de um plano de ação que pretenda reverter o baixo desempenho escolar de alguns alunos, é preciso saber com clareza quais são as dificuldades que eles apresentam. “É comum falarmos que um aluno está com dificuldade. Mas de que natureza é essa dificuldade? Conseguimos revertê-la com um grupo de apoio, é possível realizá-lo no período de aula ou precisa ser no contraturno? A criança precisa do acompanhamento de um psicopedagogo? Como envolver os pais?”, questiona Maura. Ter isso em mente e tomar algumas providências no início do terceiro bimestre pode salvar quem você considerou já estar “perdido”. 

LEIA MAIS  Como o replanejamento pedagógico ajuda a corrigir problemas de aprendizagem

Abaixo, trazemos algumas dicas de como começar a repensar os caminhos da escola no segundo semestre. Essa é a primeira de uma série de matérias de GESTÃO ESCOLAR que abordará o terceiro bimestre e o que pode ser feito para se evitar uma situação irreversível no fim do ano letivo. As possibilidades de reversão de quadros preocupantes são diversas e iremos abordá-las com detalhes nesse e nos próximos textos.

Replaneje com base em dados

O primeiro passo é realizar uma reunião entre gestores para que eles analisem o que aconteceu na escola durante o primeiro semestre e se isso a levou ou afastou do planejamento anual. Ademir Almagro já foi coordenador de ensino na rede de Novo Horizonte (SP) e atualmente é professor na rede estadual paulista e diz que “tirando o período de planejamento inicial em janeiro, o início do segundo semestre é o momento mais importante do ano para o gestor". "Ele deve organizar muito bem as reuniões e conseguir o máximo de dados possíveis: faltas, alunos que estão caminhando para a evasão e alunos que caso o ano fechasse agora já estariam reprovados. É hora de “colocar o trem nos trilhos” e se perguntar se a escola está no caminho correto”.

Depois, é preciso chamar os professores para analisar a vida do aluno para definir o que pode ser feito. Para isso, “É preciso ter dados e trabalhar com fatos. Senão, o trabalho fica no achismo. Você só replaneja quando conhece bem o que já foi feito, e a escola que tem dados faz um bom trabalho”, aconselha Ademir.

Para coletar esses dados, uma opção é realizar avaliações gerais entre todas as turmas de um mesmo ano. “Na rede estadual de São Paulo, no final do primeiro semestre foi feita uma avaliação com os 9º e 3º anos do Ensino Médio. Se as avaliações já foram corrigidas, teremos dados. Mas se essa devolutiva não chegar, não saberemos como agir”, conta ele. Outra opção seria usar dados de avaliações externas, como a Prova Brasil, por exemplo. Mas o problema é que os resultados demoram até um ano para chegar. “A Secretaria da rede de ensino pode replicar essa avaliação externa e enviar para as escolas para que ela seja aplicada mensal ou quinzenalmente. Mas isso tem que ser feito com devolutivas rápidas não adianta mostrar os números no ano seguinte”, explica.

Mude a mentalidade da comunidade escolar 

Realize reuniões formativas com a equipe para mudar algumas ideias pré-concebidas que podem atrapalhar o desenvolvimento dos alunos. Muitos educadores, e mesmo pais de alunos, consideram que uma escola que reprova é boa por apresentar um maior nível de dificuldade e rigidez. Mas, como mostram algumas pesquisas, isso não é verdade e tem impactos muito negativos nas crianças e adolescentes.

LEIA MAIS  Os perigos da reprovação

“Geralmente, a reprovação está ligada ao mau comportamento do aluno, o que é errado. As reuniões do conselho de classe devem ser muito objetivas, se basear em dados concretos e em questões pedagógicas”, diz Ademir. Converse com os professores sobre a necessidade de que todos revejam suas práticas e não deixe que as reuniões durante o segundo semestre se tornem um momento para “sentenciar” alunos, mas aproveite essas ocasiões para pensar em formas de trabalhar suas dificuldades.

Analise caso a caso 

Depois de olhar os dados gerais apresentados pelas avaliações aplicadas durante o primeiro semestre, é preciso se ater com mais cuidado aos alunos que apresentaram baixo desempenho. Por ser preciso analisar os casos individualmente, a tarefa se torna mais trabalhosa, mas é necessária para se alcançar um resultado satisfatório. “Devemos olhar a trajetória daquela criança ou adolescente desde quando ele é aluno da escola. As dificuldades apresentadas agora já foram observadas em anos anteriores ou não? Quais intervenções já foram feitas para ajudá-lo e o que ainda não foi testado?”, explica Maura Barbosa. “Se não pensarmos em toda a trajetória escolar, sempre realizaremos um trabalho fragmentado”. 

O professor Ademir salienta que as opções de replanejamento são muitas, mas geralmente não são consideradas pela gestão pela falta de estrutura escolar ou mesmo pela falta de formação docente para realizá-las. “No início do segundo semestre, nem tudo está perdido, pois os educadores e alunos ainda têm mais dois bimestres para trabalhar. É possível aplicar atividades no contraturno, encaminhar quem tem questões médicas e cognitivas para profissionais específicos e particularizar a avaliação, pois um aluno que não vai bem na prova conteudista pode ter bom desempenho quando avaliadas suas outras habilidades”, sugere ele.

Invista em métodos diferentes

Janaína Sousa, coordenadora de projetos da Elos Educacional, conta que quando trabalhava diretamente em escolas, via que muitos professores davam as aulas no contraturno do mesmo modo que no período regular, o que é um erro comum. “Se o aluno não aprendeu daquela forma, o docente precisa pensar em outra metodologia pois para alcançar um resultado diferente é preciso metodologias diferentes”, explica. “Outro erro é acreditar que aplicar muitas atividades vai fazer o aluno superar dificuldades. Primeiro é preciso estabelecer os objetivos, para depois selecionar as atividades que vão ajudar a superar a dificuldade”.

Segundo ela, outro erro é focar nos alunos com dificuldade, colocar a turma toda no mesmo patamar e deixar de oferecer desafios para os que estão conseguindo acompanhar o conteúdo. Para que isso não ocorra, uma solução é trabalhar com agrupamentos produtivos. “Eles podem ocorrer com os alunos de uma ou várias turmas. O coordenador pedagógico e os professores precisam fazer um levantamento de quantos e quais alunos têm dificuldades semelhantes e em quais horários eles podem se reunir com um professor que fará atividades mais simples, mas que os façam avançar”, sugere Janaína. Outra opção é estabelecer a monitora aluno-aluno para que os alunos se ajudem diretamente. 

Usar a tecnologia a favor da Educação também pode trazer resultados positivos. Existem muitos jogos didáticos que podem auxiliar no raciocínio lógico e assimilação de conteúdos, fazendo com que a criança aprenda de forma lúdica. Confira aqui jogos matemáticos de NOVA ESCOLA.  

Controle as faltas

Presença também é um dos fatores que podem levar um aluno a ser aprovado ou não. Além disso, a baixa frequência leva a perda de conteúdos e, consequentemente, a um desempenho ruim nas avaliações. Se no final do segundo semestre o aluno já tiver alcançado 20% de ausência do total de dias letivos do ano é preciso acender um sinal de alerta antes que a situação se torne irreversível. Ou seja, considerando que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) prevê que o ano letivo deve ter 200 dias e que a frequência mínima para aprovação é de 75%, um aluno que tenha faltado 40 vezes na primeira metade do ano deve ficar muito atento pois poderá faltar no máximo mais 10 dias.

Com uma boa organização do diário de classe, mantido pelos professores, os dados de frequência serão facilmente acessados. Alunos com alto índice de faltas devem ser chamados para uma conversa com a coordenação juntamente com seus responsáveis. Assim, será possível descobrir o motivo das faltas e conversar sobre a necessidade e benefícios de se frequentar a escola regularmente. Além disso, segundo a Lei 13.803 de 2019 [https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/01/11/escola-deve-alertar-conselho-tutelar-quando-aluno-atingir-30-do-limite-de-faltas], a escola deve notificar o conselho tutelar no caso de faltas de alunos dos Ensinos Fundamental e Médio que ultrapassarem em 30% o percentual permitido pela legislação em vigor.   

Apoie os docentes

Com base no que já foi desenvolvido no primeiro semestre e até mesmo em anos anteriores, os gestores precisam ter um olhar atento não só para os alunos, mas também para os professores. Não só os docentes novatos, mas também os já experientes, mas sobrecarregados precisam enxergar os gestores como parceiros. “Às vezes, o professor precisa de muita ajuda do gestor pedagógico: para o planejamento de atividades, para a avaliação, para definir quais intervenções precisam ser feitas com cada aluno, para conversar com os pais”, diz Maura. Portanto, se coloque à disposição para ajudá-los. 

Incentive a participação das famílias

Quando o desempenho está abaixo do esperado, muitos pais acabam desestimulando os filhos. Mas, assim como os educadores, a família também precisa ter altas expectativas, acreditar e incentivar os estudantes. “Às vezes acontece de os pais não conseguirem auxiliar por não terem muito estudo, mas mostrar que se interessa, olhar o caderno, pedir para a criança explicar o que fez já faz muita diferença”, diz a coordenadora Janaína. Outra sugestão é incentivar que os responsáveis compareçam às reuniões e nelas orientar sobre como eles podem contribuir para o processo de aprendizagem “Todos os ambientes da escola precisam ser formativos, e isso se estende para a casa. Por exemplo, os pais podem pedir para a criança escrever a lista de compras, ajudar a calcular os ingredientes de uma receita, anotar recados. Assim, ela aprende sem nem perceber que está estudando”, acrescenta. 

Converse com os alunos

Logo que os alunos voltarem de suas férias é preciso conversar com eles sobre o que já aconteceu durante esse ano e o que ainda é preciso e pode ser feito no segundo semestre. “Todo mundo precisa ser responsável pelo processo de ensino e aprendizagem. A criança também precisa saber o que lhe cabe e estar nesse contexto não como sujeito passivo, mas ativo da Educação”, comenta Maura. Segundo ela, os professores devem conversar, pensar e estabelecer acordos com a turma para que juntos todos aprendam e alcancem o sucesso almejado. “Muitos educadores acham que vão fazer tudo a sua maneira, mas sem a participação ativa dos alunos não vai dar certo”, pontua. 

“Os alunos que não vão bem na escola são os que geralmente apresentam problemas familiares e não tem um projeto de vida. E para convencê-los de que a Educação oferece alternativas é preciso tempo e conversa. E tempo é o que não temos na escola”, comenta o professor Ademir. A rede pode oferecer opções de acompanhamento psicológico para os alunos, a escola pode organizar palestras motivacionais (interessantes e adequadas para a faixa etária de cada turma) e um professor mais próximo pode realizar bate-papos ou mesmo um projeto específico com a turma.

Na conversa com os alunos, os dados continuam sendo importantes, “Convencer os jovens não é uma tarefa fácil porque eles são imediatistas. Mas dá para mostrar os dados de avaliações e explicar que, matematicamente, uma situação ruim pode sim ser revertida. Abrir o processo de como a escola vai fazer isso, deixa tudo mais claro”, orienta Ademir.

 

Aprofunde sua leitura