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Formação continuada: modelo e dicas para sondagem de Matemática

Os professores do Fundamental 1 se sentiram mais seguros para atacar a defasagem dos alunos em Matemática após terem formações semanais específicas sobre o tema

POR:
Camila Zentner, Rodrigo de Mendonça Emidio
Crédito: Getty Images

Não faz muito tempo, nossa escola encarava um grande desafio: a defasagem dos alunos do Ensino Fundamental em Matemática. Esse desafio foi revelado nos índices das avaliações externas e nas sondagens e provas realizadas pela nossa própria escola. Os professores, assustados com o resultado, discutiam formas de resolver este problema. No entanto, em uma escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental I (como é o nosso caso), a maioria dos professores são pedagogos. Por não terem uma formação específica, muitas vezes, eles sentem dificuldades de buscar novas estratégias para fazer com que todos os alunos avancem. E, se tratando da Matemática, ainda enfrentamos um tabu de que aflige muitas pessoas até na vida adulta, que consideram esta uma matéria chata e difícil de aprender. Será mesmo?

Buscando ajuda
Em situações como essa, é muito comum os professores buscarem no coordenador pedagógico as respostas para todos os seus anseios – como se ele fosse o profissional especialista em tudo, inclusive em Matemática. Aquela pessoa que traz consigo todas as fórmulas mágicas que garantem ao aluno aprender. Que bom seria se fosse assim, não é mesmo? A verdade é que dificilmente vamos encontrar um profissional que é especialista em múltiplas áreas e com o coordenador não é diferente. No entanto, ele pode, sim, ser a figura que articula e mobiliza pessoas com conhecimentos específicos em prol da aprendizagem das crianças. É como diz a sabedoria popular: “não sei tudo, mas sei quem sabe”. E assim aconteceu em nossa escola.

Diante das dificuldades encontradas no início deste ano em nossa escola, fomos buscar um especialista dentro da nossa própria equipe para dar formações semanais. Rodrigo Emídio, um professor que possui licenciatura em Matemática e Física e que estava na função de vice-diretor, propôs atividades que iam desde a análise das sondagens ao trabalho com o Quadro Valor Lugar (conhecido como QVL), passando pela resolução de situações que partem do cotidiano escolar até jogos (através dos quais o grande tabu sobre a Matemática vai sendo quebrado). O grupo passou a se sentir mais seguro para abordar essa área do conhecimento, o que gerou mudanças imediatas no trabalho com as crianças.

As soluções encontradas
Com base no que foi compartilhado, os professores adaptaram as atividades aos seus respectivos planejamentos. Após um período relativamente curto, já era possível perceber os grandes avanços das turmas – mesmo que ainda exista um longo caminho a percorrer. Compartilho aqui algumas das atividades realizadas com os professores:

Sondagem de Matemática
Para identificar as fragilidades das crianças em Matemática, o grupo elaborou com o suporte do vice-diretor Rodrigo uma sondagem de números e situações problemas do campo aditivo e multiplicativo. Ele também elaborou uma planilha para lançamento dos dados coletados na sondagem, gerando gráficos que destacavam as maiores dificuldades da turma (separamos um modelo para você. Clicando aqui, você pode conferir nossa planilha). Nos estudos sobre sondagem, professores puderam compreender a importância da escolha dos números e sua classificação. Os docentes também aprenderam que, diferente de uma sondagem escrita, a sondagem de Matemática pode ser feita com toda a turma de uma vez (veja aqui a sondagem proposta para nossos alunos).

Quadro numérico
Trata-se de um ótimo recurso para trabalhar a sequência numérica e favorece que a criança compreenda a lógica por trás do sistema de numeração decimal. Assim, é possível se distanciar da tradicional escrita repetida e memorização de numerais de um determinado intervalo numérico, como se fazia antigamente, por exemplo, escrever no caderno de zero a cem, quinhentos, mil...

Crédito: Acervo EPG Manuel Bandeira 

Com o quadro é possível trabalhar conceitos como antecessor e sucessor, comparação entre números (maior e menor) e, quando lacunado, permite que a criança seja desafiada a descobrir as regularidades do sistema de numeração decimal. A formação veio acompanhada de um grande quadro numérico distribuídos para cada uma das salas de aula do Ensino Fundamental.

Quadro Valor Lugar (QVL)
Quando pensamos em formas de trabalhar a escrita dos numerais, nos deparamos com algumas dificuldades que as crianças apresentam em reconhecer o valor posicional dos algarismos, o que dificulta a escrita e a leitura dos mesmos. O QVL permite que, ao representar um determinado valor, seja possível analisar a que ordem e classe o algarismo pertence, facilitando sua leitura e escrita, além da comparação entre números e outras possibilidades.

Crédito: Acervo EPG Manuel Bandeira 

É interessante que os números que serão dispostos no quadro sejam de grandezas diferentes, mas que possuam relação entre si. Na atividade realizada com os professores, por exemplo, foi proposto um roteiro de pesquisa com diversos valores relacionados a curiosidades envolvendo dados demográficos (veja a atividade aqui).

A experiência revela que não podemos esquecer que dentro do grupo de professores e gestores temos profissionais com as mais diversas formações, voltadas para as áreas de ciências exatas, humanas e biológicas. Assim, é muito importante conhecer estas formações e criar, inicialmente na própria escola, uma rede de compartilhamento de conhecimentos e práticas. As horas de trabalho pedagógico coletivo (HTPC) são ideais para a construção deste espaço formativo, em que o profissional se sente valorizado, contribuindo com o crescimento do grupo.

Assim como a experiência de formação em Matemática relatada, o texto de hoje também foi escrito em conjunto, tudo isso para mostrar o quanto o trabalho em parceria é essencial e necessário dentro das escolas, afinal, como diz um sábio provérbio africano: “é preciso toda uma aldeia para educar uma criança”.

Um abraço,

Camila Zentner e Rodrigo de Mendonça Emídio

Camila Zentner Tesche é formada em Pedagogia com especialização em Educação Infantil pela Universidade de São Paulo (USP) e está na coordenação pedagógica da Escola da Prefeitura de Guarulhos Manuel Bandeira há 10 anos. A EPG atende a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I e, desde 2015, faz parte do mapa de escolas inovadoras do MEC.

Rodrigo de Mendonça Emidio é formado em Matemática e Física pelas Faculdades Integradas de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos. Foi professor de Matemática da Rede Estadual de São Paulo e da Rede Municipal de Guarulhos, vice-diretor e atualmente está como diretor da Escola da Prefeitura de Guarulhos Manuel Bandeira.