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Como organizar a rotina diária de alfabetização

Veja como determinar quais os momentos de leitura e escrita nos anos iniciais do Ensino Fundamental

POR:
Camila Zentner
Uma professora sentada em uma cadeira lê e mostra o livro para alunos sentados em semicírculo no chão de tábuas de madeira clara
Foto: Getty Images

A alfabetização costuma ser uma das maiores preocupações das escolas que trabalham com os anos iniciais do Ensino Fundamental. Mesmo considerando a importância de todas as áreas do conhecimento, a formação de leitores e produtores de textos acaba sendo uma das maiores metas de seus professores e professoras.

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O desejo dos professores é ter todos os seus alunos alfabetizados. Mas também existe uma cobrança externa por parte das famílias, que compartilham do mesmo anseio, assim como de seus gestores, secretarias municipais, estaduais e federais. Neste ano, com a implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), uma nova preocupação surge: a alfabetização dos alunos até o 2º ano do Fundamental (anteriormente o ciclo de alfabetização era até o 3º ano)

O coordenador pedagógico não foge dessa expectativa. Entre tantas pressões e anseios, por vezes, ele se vê apenas circundando o processo de alfabetização: analisando as sondagens dos alunos em meio a gráficos e dados a lançar, dialogando com os professores nas reuniões pedagógicas e prestando atendimento às crianças com dificuldades de aprendizagem e suas famílias, por exemplo.

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O acompanhamento pedagógico passa a ser um importante aliado do coordenador para garantir que esta aprendizagem aconteça. Uma das formas que ele pode ser feito é, por exemplo, por meio da observação de sala de aula ou através da leitura dos planejamentos semanais dos professores. A partir dessas atividades, é possível analisar se as propostas têm favorecido, de fato, a formação dos futuros leitores e produtores de texto, fazendo as devidas mediações.

As dicas que compartilho são fruto da experiência, mas especialmente são indicações que aprendi com a minha ex-diretora de escola Solange Turgante Adamoli, que é especialista na área da alfabetização e me ensinou muito sobre o tema (obrigada, Solange!). Outra inspiração foram os estudos da professora Suely Amaral Mello.

Práticas para rever e para investir

Cada vez mais temos percebido que atividades mecânicas, como treinos de letras ou escritas sem significado para a criança, pouco ou nada contribuem para a aprendizagem da escrita. Para que nossos alunos gostem de ler e escrever é necessário promover diversas atividades em que as crianças percebam a escrita em seu uso social. Ou seja, como uma forma de expressão, registro e memória – não apenas uma tarefa que deve ser feita porque a professora mandou.

Para isso, é essencial:
1) propiciar vivências em que as crianças sintam o desejo de se expressar. Rodas de conversa, assembleias de classe e autoavaliação, por exemplo, são possibilidades em elas são colocadas a discutir e opinar sobre os problemas da turma, construir combinados e avaliar como foi o dia;
2) fazer com que as crianças convivam com textos escritos, como um jornal da turma, um fichário coletivo, troca de cartas entre escolas ou qualquer outra possibilidade de registro das experiências vividas sob a forma individual ou coletiva; e
3) neste processo, serem desafiadas a refletirem sobre o sistema de escrita em suas relações entre letras e sons.

Ao fazer o acompanhamento da ação docente por meio de visitas em sala de aula ou na leitura dos planejamentos semanais, o coordenador pode propor ao professor que essas atividades sejam desenvolvidas. Mais especificamente sobre a reflexão do sistema de escrita, é possível sugerir a organização de uma rotina para as turmas em processo de alfabetização com atividades diárias de leitura do professor, leitura do aluno, escrita do professor e escrita do aluno, é sobre elas que quero falar um pouco mais no texto de hoje.

Leitura do professor

Também conhecida como “leitura fruição” ou “leitura deleite”, deve ser realizada no início da rotina do dia e em gêneros variados, como conto de fadas, suspense, poemas, reportagem de jornal ou de internet, por exemplo. É preciso ter cuidado na escolha das obras, porque o grande objetivo desta atividade é desenvolver o gosto pela leitura. Da mesma forma, o professor não deve substituir palavras consideradas “difíceis” por sinônimos, imaginando que as crianças não vão compreendê-las – muitas vezes é possível entendê-las pelo contexto. É imprescindível não interromper a leitura para fazer exercícios de interpretação de textos ou explicações. O que pode ser feito, ao final, é perguntar se eles não entenderam o sentido de alguma palavra e, assim, buscar o significado coletivamente. Antes de começar a leitura, é importante ler com as crianças as informações da capa do livro, como título, autor, ilustrador e editora, que vão criando na turma um repertório de preferências literárias.

Atividade de Leitura do Aluno

As famosas atividades impressas (na evolução das antigas atividades mimeografadas) podem ser valiosos instrumentos de aprendizagem se planejados e utilizados dentro de objetivos corretos. Atividades como pintar o nome da imagem, ligar figura com o nome, álbum de figurinhas, ditado circulado, pintar a resposta de uma adivinha, fazer um X no quadradinho que indica o nome da figura, cruzadinha com banco, circular uma palavra no texto dado, acompanhar a leitura de um cartaz contendo um texto de memória (leitura de ajuste), montar um texto fatiado, montar na lousa a rotina do dia com as tiras contendo as atividades diárias... são atividades que propiciam a criança a pensar como se escreve a partir de uma referência dada – sem ter que se preocupar nesse momento com o traçado das letras –, trabalhando especificamente com o exercício da leitura.

Atividade escrita do professor

Assim como as atividades acima citadas, todos os dias o professor deve prever momentos em que ele escreve junto com as crianças na lousa ou em um cartaz, sendo ele o escriba da turma. Situações como essa são cruciais para que as crianças reflitam coletivamente sobre o sistema de escrita, observem os sons, argumentem e sejam confrontados em suas hipóteses na construção de novos conhecimentos. Nessas atividades, o ideal é que sejam utilizados textos de memória. No desenvolvimento dele, o professor vai questionando como se escreve as palavras, com qual letra começa, o que vem depois e assim por diante. A atividade pode ser a escrita do cartaz para o trabalho na semana, um trava-língua, uma adivinha, uma cantiga, uma lista de palavras, a própria rotina do dia, entre outras tantas possibilidades.

Atividade de escrita do aluno

Nesta ação, as crianças são desafiadas a escreverem, de fato, sozinhas, em duplas ou pequenos grupos. Assim, elas são colocadas em situações em que precisam refletir sobre quais letras devem usar para escrever. Atividades como escrever nomes de imagens, textos de memória e listas reais de mercado, feira, aniversário, convidados de uma festa, alimentos, enfeites, ingredientes para uma receita (que após a escrita, por exemplo, a receita pode ser feita e degustada pela turma) são opções que podem ser usadas para a prática de escrita do aluno. A escrita não precisa ser sempre feita com lápis e papel, ela também pode ser feita com alfabeto móvel, com giz de lousa no chão ou na parede de lousa ou mesmo no tanque de areia.

E na escola de vocês? Como as práticas diárias de alfabetização acontecem?

Um abraço,

Camila Zentner

Camila Zentner Tesche é formada em Pedagogia com especialização em Educação Infantil pela Universidade de São Paulo (USP). Foi coordenadora pedagógica da Escola da Prefeitura de Guarulhos Manuel Bandeira por 10 anos e atualmente é coordenadora de programas educacionais, atuando com formação de professores na Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos.

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