9 coisas que todo gestor precisa saber sobre setembro amarelo e prevenção do suicídio
A taxa de suicídios é preocupante entre os jovens na faixa de 10 a 19 anos
POR: Giovanna DinizA campanha do setembro amarelo é usada desde 2015 para conscientizar os brasileiros sobre a prevenção de suicídio. O setembro amarelo é um desdobramento da campanha mundial: o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, que acontece em 10 de setembro. A iniciativa é do Centro de Valorização da Vida (CVV) em conjunto com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Nos últimos anos, a discussão se amplificou e não é por acaso: no Brasil, a cada 45 minutos uma pessoa comete suicídio. Veja abaixo nove razões pelas quais a escola precisa entrar nessa conversa:
1. O número de suicídios entre adolescentes cresceu 24% nos últimos anos
A taxa de suicídios é ainda mais preocupante para os jovens na faixa de 10 a 19 anos. Entre 2006 e 2015, o número cresceu 24% nas seis maiores cidades do Brasil (Porto Alegre, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro). Considerando todo o país, o aumento foi de 13%, segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que o suicídio é a segunda principal causa de morte de jovens de 15 a 24 anos, seguida por acidentes de carro. Outros estudos estimam ainda que para cada suicídio existem 20 tentativas malsucedidas. Estima-se que o número seja muito maior, já que, devido ao estigma relacionado à saúde mental e ao suicídio, nem sempre as estatísticas refletem o tamanho do problema.
2. Ignorar o tema não evita suicídio
Por se tratar de um tema delicado, o suicídio ainda é um tabu. Pela falta de proximidade com o assunto ou receio de que trazer à tona a discussão possa incentivar comportamentos suicidas, muitos preferem evitar falar sobre. No entanto, o silêncio pode criar ainda mais espaços de solidão para quem está em sofrimento.
Para Jackeline Giusti, psiquiatra da Infância e Adolescência do Hospital das Clínicas de São Paulo (FMUSP), muitas escolas não estão preparadas para discutir sobre o tema, se isentando na hora de observar e tomar atitudes em relação ao problema. A especialista aponta que um ambiente onde as metas são difíceis de serem alcançadas e onde os conflitos escolares não são resolvidos pode ser prejudicial e promover sofrimento aos alunos. “O suicídio é prevenido em uma escola em que os alunos são valorizados nas suas habilidades e são encorajados a melhorarem aquelas em que não são tão habilidosos”, completa.
3. Nem tudo que parece é
Falar sobre o assunto é uma forma de diminuir o estigma criado em torno do suicídio – inclusive para que a escola tenha ferramentas para identificar comportamentos de risco e atuar na prevenção. Sem estar familiarizada com o tema, determinados comportamentos de atenção à saúde mental podem ser interpretados como “preguiça”, “falta de vontade” ou “indisciplina”. No entanto, essas atitudes podem ser, na verdade, o reflexo de outras situações que o jovem está lidando: angústia, solidão, falta de espaços de confiança para compartilhar as frustrações ou mesmo algum transtorno que necessite de acompanhamento psicológico.
O mês do setembro amarelo é uma oportunidade para derrubar alguns tabus e mitos sobre o tema, ampliar a conscientização sobre comportamentos de risco e facilitar medidas de prevenção. “A principal forma de prevenir o suicídio é falar sobre para que a escola possa realizar ações e jogar luz sobre isso para que as pessoas próximas possam saber o que fazer e reconhecer os sintomas”, diz Ana Carolina D'Agostini, psicóloga, pedagoga e consultora do projeto de Saúde Mental do Educador de NOVA ESCOLA.
4. A escola é um dos principais espaços de convivência dos estudantes
Como um espaço de socialização e formação, a escola é onde as crianças e os adolescentes passam a maior parte do tempo. Portanto, ela é um espaço que dá visibilidade para comportamentos como isolamento, queda do rendimento escolar, dificuldade de relacionamento com outros colegas, verbalização da vontade de morrer, sinais de automutilação e abuso de álcool e drogas. Com isso, as instituições de ensino desempenham um papel importante na prevenção e acolhimento de crianças e adolescentes.
5. Um bom clima escolar faz toda a diferença
O clima escolar impacta na saúde mental coletiva. Uma escola que possui brigas frequentes, falta de colaboração, engajamento da equipe escolar, altos índices de bullying e violência traz sinais de que há algo errado na convivência da escola. Assim, é importante que a escola avalie o clima e desenvolva planos de ação para reverter o cenário. Uma comunidade colaborativa e empática, por exemplo, pode acolher melhor seus membros.
6. Vítimas de bullying são três vezes mais propensas ao suicídio
Entre os comportamentos da comunidade escolar que merecem atenção e atuação da escola está o bullying. Segundo pesquisa recente publicada no Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, crianças e adolescentes vítimas da prática são três vezes mais propensos a cometerem suicídio. Para Jackeline, os educadores devem estar atentos ao bullying, além de instruir outros alunos a serem responsáveis, já que estes compartilham outros espaços fora da escola e podem ajudar a promover um ambiente mais saudável ajudando os colegas com problemas emocionais ou de outra ordem. “É importante estar mais atento a mudanças de comportamento entre os alunos, identificando aqueles que não estão inserindo nos grupos de colegas e pensando em ações e atitudes para promover esta integração”, afirma Jackeline.
7. Envolver os familiares na conversa é fundamental
As ações de conscientização e escuta não devem se encerrar nas escolas. É importante que os pais e responsáveis estejam também atentos às atitudes dos alunos dentro e fora da escola. A escola pode oferecer orientação através de rodas de conversa ou trazer isso nas reuniões de familiares para que os pais possam saber lidar com os sintomas sem julgamento, mas ouvindo e oferecendo ajuda e, se necessário, encaminhamento para um profissional. “Os pais e responsáveis podem ser orientados sobre como conversarem com os adolescentes sobre emoções, tendo cuidado especial para deixá-los confortáveis para se expressarem sem julgamento ou crítica”, sugere a psicóloga Ana Carolina.
O diálogo deve ser constante para prestar atenção em sinais de alerta, como o aluno está se comportando em casa e na escola, se há algum conflito ou no caso de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Durante o Setembro Amarelo, por exemplo, a escola pode trazer o assunto para trabalhar a prevenção e como observar esses sinais de alerta.
8. Adultos também podem ser vítimas
Apesar da taxa de suicídio ter aumentado de forma mais significativa entre crianças e adolescentes, é importante abordar a prevenção do suicídio com toda comunidade escolar. Síndrome de burnout, depressão e faltas constantes podem se tornar fatores de risco para os docentes e funcionários. Ao cuidar da sua comunidade interna, a escola não pode esquecer dos seus adultos.
“O gestor escolar deve ser responsável por criar na escola uma cultura de diálogo, dando voz e envolvendo professores e funcionários, além de criar um senso de comunidade e pertencimento para toda a equipe”, comenta Ana Carolina.
Como estes estão em contato com os alunos e serão responsáveis também pela conscientização sobre o tema, é possível trabalhar com eles assuntos relacionados em sua formação e abrir espaços de escuta e acolhida, dando atenção especial aos sentimentos e escuta nos momentos de conversa e reuniões. A psicóloga indica ainda trazer atividades temáticas para trazer mais bem-estar como caminhadas, confraternizações e outros eventos para trabalhar o diálogo e proximidade entre professores e demais funcionários.
9. Ações de prevenção devem acontecer o ano todo, não apenas durante o setembro amarelo
O mês do setembro amarelo traz o tema à tona para falar sobre conscientização e prevenção do suicídio, mas a transformação da escola de um ambiente saudável para todos deve ser contínua e entrar no planejamento curricular. Ações pontuais, como uma palestra anual ou apenas fixação de um cartaz, não garantem espaços suficientes de suporte para quem está em sofrimento.
“Alunos e professores podem se envolver nas ações”, diz Ana Carolina. “Seja numa comissão de alunos ou os professores durante a reunião, é importante criar momentos de rodas de diálogo e conversa”. Ela sugere trazer profissionais que possam orientar as ações. Práticas como a das rodas de conversa não só auxiliam na manutenção de um bom clima escolar, como também faz com que os alunos se sintam mais confortáveis e acolhidos em situações de estresse, problemas com colegas ou em casa, dificuldades nas disciplinas, entre outros.
Da mesma maneira, trabalhando o tema com os professores e funcionários torna possível para estes identificarem comportamentos dos alunos ou se sentirem confortáveis para procurar ajuda médica para problemas de saúde mental ou em caso de ideações suicidas.
Se o estigma do assunto traz discriminação e impede que o aluno busque ajuda, é importante que a escola promova espaços para a prevenção do suicídio e acolhida da comunidade. Para poder ajudar as escolas e outras instituições, o CVV oferece palestras e materiais sobre a prevenção do suicídio, disponíveis aqui.
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