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Como lidar com a pré e posvenção do suicídio na escola

Ações de acolhimento e escuta dos alunos podem prevenir casos de bullying e o surgimento de transtornos mentais

POR:
Giovanna Diniz
Crédito: Getty Images

O mês do setembro amarelo intensifica as discussões sobre a saúde mental na escola. A campanha de prevenção de suicídio busca conscientizar a sociedade em relação ao cuidado e acolhimento de pessoas que necessitam de apoio emocional. O suporte pode vir de um profissional da psicologia,  mas também pode vir da família, amigos e da instituições de ensino.

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Nesse contexto, quando falamos de crianças e adolescentes, o ambiente escolar pode fazer toda diferença na prevenção do suicídio e promoção de apoio emocional já que é o principal espaço de socialização de crianças e adolescentes. Além disso, é o lugar em que eles buscam pertencimento e formam sua identidade. Se a escola não oferece um clima escolar saudável, em que os membros da comunidade se sentem à vontade para colocar suas ideias e engajados com as ações e pessoas, conflitos podem aparecer, afetando a saúde mental, desenvolvimento e formação dos alunos. Um clima escolar ruim, não se reflete apenas nos estudantes, mas em toda comunidade – incluindo professores e gestores.

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Saiba a diferença entre prevenção e posvenção da saúde mental
É preciso entender que a escola não deve agir apenas quando se depara com algum caso de depressão, automutilação ou suicídio entre seus membros. Antes de tudo, deve-se focar na promoção de ações para observar não só os comportamentos de risco que causam adoecimento psíquico, mas também em práticas que permitam aos alunos expressarem suas emoções e conversarem sobre seus problemas. Ações que visam promover a saúde mental e evitar que casos graves, são chamadas de prevenção.  

“A promoção em saúde mental considera fomentar ações que aumentam o bem-estar, a qualidade de vida e buscam fortalecer os fatores que atuam positivamente na saúde do indivíduo e da coletividade”, diz Alcione Marques, psicopedagoga e diretora da NeuroConecte. De acordo com a especialista, ações com esse foco contribuem para prevenir o surgimento de transtornos mentais.

Já a posvenção é o apoio dado aos sobreviventes ou pessoas que sofrem o luto após o suicídio de alguém próximo. É uma intervenção quando a comunidade se depara, por exemplo, com o suicídio de um colega de classe ou mesmo um professor. Situações como essas podem abalar a saúde mental coletiva, trazer angústia e exigir um trabalho de intervenção.

A posvenção busca também evitar que a prática influencie outros comportamentos de risco ou que cause estresse na comunidade. Atividades de suporte e assistência dentro da escola trazem alívio ao sentimento de perda e conscientizam sobre o tema. Homenagens ou atividades para lembrar o aluno devem ser feitas com bastante respeito e cautela, sem compartilhar detalhes de como foi o suicídio. “É importante que a morte seja celebrada como qualquer outro tipo de morte para que não haja nenhuma romantização ou interpretação do suicídio como um ato heroico”, completa a Ana Carolina D’Agostini, psicóloga, pedagoga e consultora do projeto de Saúde Mental do Educador da NOVA ESCOLA.

Outro ponto importante é recomendar profissionais para o atendimento dos alunos mais afetados, próximos ou não da pessoa que cometeu o suicídio. A escola pode buscar parcerias com serviços públicos de saúde para conectar a comunidade com esses profissionais. Flávia Vivaldi, pedagoga e mestre em psicologia educacional pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), hoje Secretária de Educação em Poços de Caldas, destaca a importância da escola ter um psicólogo ou psiquiatra disponível, além de realizar escutas individuais e de grupo. “A escola deve acolher durante o momento de angústia, mas não é competência do gestor e dos educadores fazer consulta, apenas indicar profissionais”, acrescenta.

Cuidado especial à adolescência
Se a prevenção é essencial para evitar casos de suicídio, o grupo que merece maior atenção é o dos adolescentes. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), transtornos mentais correspondem a 16% das doenças e lesões em adolescentes, sendo a depressão a mais frequente. Ainda de acordo com a OMS, metade dos casos de problemas de saúde mental aparecem até os 14 anos de idade. No Brasil, o número de pessoas com idade entre 10 a 19 anos que cometem suicídio tem aumentado nos últimos anos, principalmente nos grandes centros urbanos.

A passagem da infância para a vida adulta é marcada por muitas transformações físicas, hormonais e de identidade, o que muitos adolescentes podem ter dificuldade de compreender e enfrentar de forma saudável. Transtornos relacionados à imagem, corpo e relacionamentos podem aparecem nessa fase. Por isso, a importância de se conversar sobre essas mudanças dentro da escola.

É preciso que toda a comunidade escolar esteja atenta a sinais como: problemas de socialização, dificuldades de aprendizado e desinteresse, mudanças bruscas negativas no rendimento escolar, comportamento antissocial, irritabilidade, automutilação e verbalização da vontade de morrer ou cometer suicídio.

Ações voltadas aos adolescentes podem incluir o fortalecimento de fatores de proteção (que atuam diretamente em situações de risco para a saúde mental), bem como também trabalhar o desenvolvimento de habilidades emocionais, que auxiliam os alunos na compreensão de suas emoções e na solução de problemas. “Perceber as próprias emoções, saber identificá-las e pensar em formas diferentes e melhores de reagir ampliam a inteligência emocional”, afirma a diretora da NeuroConecte. Alcione ressalta que os impactos positivos não acontecem só na vida escolar mas também vida pessoal e, futuramente, adulta dos alunos.

Projeto pedagógico deve abordar questões ligadas ao clima escolar
Uma boa gestão da saúde mental da instituição de ensino não foca apenas em ações pontuais de prevenção, posvenção ou palestras durante o mês do setembro amarelo. Elas devem estar previstas no projeto pedagógico para funcionarem de forma contínua. Isso significa também preparar os educadores para resolverem conflitos e oferecerem apoio aos alunos. “É preciso oferecer formação aos profissionais que estarão à frente desse processo, explicar como funciona, qual é o tipo técnica de linguagem para garantir o espaço para todos e como abordar com os alunos as regras e sanções da escola”, afirma Flávia Vivaldi.

De acordo com a Secretária de Educação, os educadores devem abordar os fatos relacionados à saúde mental e o clima escolar e não pessoas ou casos específicos da escola. Também é importante preparar esses profissionais para reconhecerem comportamentos de risco dos alunos para comunicar aos gestores e à família imediatamente, poupando o sofrimento da criança ou adolescente. “A escola tem que orientar como o professor ou outro adulto deve atender a um pedido de ajuda, a quem deve procurar na escola para relatar suas percepções e quais providências deverão ser tomadas em cada situação”, alerta Alcione, do NeuroConecte.

Em relação às práticas efetivas que podem estar planejadas no projeto pedagógico, Flávia cita a construção de espaços de diálogos em que os alunos possam se expressar com autonomia e sem julgamentos nem críticas. “Os adolescentes podem trazer aspectos negativos e positivos sobre a escola em assembleias e rodas de conversa”, diz.

O gestor pode ainda envolver a família no combate de posturas nocivas e prevenção de comportamentos suicidas, seja na participação de reuniões ou através da distribuição de materiais informativos sobre comportamentos de risco e demais dados sobre saúde mental e bullying. Ações efetivas para a aprendizagem socioemocional dos alunos podem também contribuir para a resolução de conflitos e ainda para a diminuição do bullying. “O aprendizado socioemocional possibilita aos adolescentes desenvolverem habilidades como empatia, capacidade de oferecer ajuda e apreciar as diferenças”, diz Alcione Marques.