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Quem pode apoiar a formação continuada na minha escola?

Conheça alternativas para quando a escola sente necessidade de aprofundar o conhecimento docente em um tema, mas a expertise interna não é suficiente

POR:
Renan Simão
Crédito: Getty Images

A escola é um espaço de formação continuada. A atividade é respaldada pelo artigo 62 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), destacando ações a serem feitas “no local de trabalho”. Por meio dos Horários de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), semanalmente, debates e trocas de experiência em prol do aprendizado dos alunos podem acontecer. A ideia é que o compartilhamento de práticas pedagógicas, aliado à expertise de membros da comunidade escolar, possa aprimorar o processo ensino e aprendizagem.

Mas, alguns entraves são comuns: e se a expertise não for suficiente? E se a equipe gestora tem dificuldade em fazer diagnósticos das práticas com a participação da própria equipe?

Para apresentar alternativas, a participação das secretarias de ensino nos processos de formação continuada é essencial. É a secretaria que intermedia desde formações curtas (cursos e palestras pontuais) até formações permanentes ao longo de um ano letivo inteiro – para aprimorar a formação de temas como alinhamento aos referenciais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Apesar do dever legal de promover formações continuadas à sua rede de ensino (artigo 70 da LDB), a secretaria municipal ou estadual tem uma atuação programática com suas escolas. Há um catálogo de atividades e cursos definidos com base na BNCC, no Plano Nacional de Educação e nos Planos Municipais de Educação. Eles compreendem uma série de demandas e temas comuns às escolas, como as relacionadas à Educação Infantil, Educação Integral, Educação Inclusiva e avaliações externas como as do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). E os conteúdos podem ser tão numerosos quanto diversos: letramento, diversidade étnico-racial, cultura indígena, Língua Brasileira de Sinais (Libras), idiomas, sustentabilidade socioambiental, tecnologia na educação, entre outros.

Frente a um desafio tão amplo, que visa a atender centenas e, às vezes, milhares de escolas por rede de ensino, as demandas para formações específicas partem geralmente da escola, e não o contrário.

“Percebo o coordenador da escola como a ponte para que a formação chegue até os professores”, afirma a coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos Camila Zentner. “[A secretaria] não consegue dar essa formação para todos os professores? Então, [ela] forma os coordenadores para que eles façam essa formação nas escolas. É por isso que eles ‘tiram’ o coordenador da escola a cada 15 dias, pelo menos, para as formações”.

A participação de gestores escolares (e, em casos menos frequentes, dos professores) é, muitas vezes, insuficiente por questões de tempo, logística e interesse – ainda que ganhem pontos para o plano de carreira público, muitos cursos de formação têm comparecimento facultativo.

O papel de coordenador-formador, que diagnostica necessidades da equipe docente e dos alunos e transmite vivências tidas com técnicos da secretaria é fundamental. Cabe à coordenação pedagógica conhecer as necessidades de formação, reconhecer as habilidades e, sobretudo, interesses de seus professores.

“Se o coordenador traz uma pauta ‘do nada’, não vai surtir o efeito esperado com o grupo. Cada escola é uma realidade. É por isso que não adianta fazer [formações] em um apenas um formato, porque não vai funcionar”, afirma Camila.

Após passar uma década na gestão escolar e agora atuar na Secretaria, a coordenadora Camila destaca também que técnicos da secretaria dificilmente podem ficar mais de um dia acompanhando uma escola. Portanto, para haver continuidade na formação, a iniciativa pode ter o apoio da secretaria, mas tem de ser liderada pela escola. "Muitos municípios chegam no final do ano e percebem que a formação continuada teve lacunas, que não houve diálogo com as reais necessidades dos alunos", afirma Palmira Tolotti, assessora pedagógica e especialista da plataforma Conviva Educação.

Para ela, formações continuadas ineficazes são resultado de um ciclo vicioso entre escola e secretaria:
1) a escola, com poucos recursos financeiros, solicita para a secretaria uma demanda específica de formação;
2) a secretaria não tem o profissional especializado, disponibilidade para gerir a demanda ou falta verba para contratar serviços externos para
executar a formação; e
3) a escola aguarda a formação geral da rede e não atuando sobre as lacunas de formação.

Boas práticas
"Hoje, como a unidade escolar tem uma conta com CNPJ, não precisa esperar somente pela secretaria. Pode fazer parcerias público-privadas com universidades e centros profissionalizantes, por exemplo", aponta Palmira. Muitas vezes, ela acrescenta, a contrapartida não precisa ser financeira e outros acordos podem ser feitos sob um termo de cooperação técnica para formalizar a parceria junto à secretaria. A solução é paliativa, mas a presença de especialistas contratados (pela secretaria ou pela escola, com gastos independentes) ou mesmo professores em residência pedagógica, estagiários e voluntários pode preencher parte das demandas da comunidade escolar.

“Uma das parcerias mais importantes que temos é com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)”, diz Solange Adamoli, diretora do Departamento de Orientações Educacionais e Pedagógicas da rede de Guarulhos. “Os estudantes de pedagogia fazem suas residências nas nossas escolas. Temos como contrapartida fazer formação [continuada] junto com eles e, quando precisamos, a gente pede a ajuda deles.”

Nos tempos de coordenadora na Escola da Prefeitura de Guarulhos Manuel Bandeira, Camila Zentner conta que manteve contato por anos com representantes da Unifesp, o que ajudou a trazer estudantes e profissionais daquela universidade para formações com duração acima de seis meses.

Caso parecido aconteceu com o professor Marcus Vinicius Basso, coordenador do Centro de Formação Continuada de Professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Forprof-UFRGS). “Isso muitas vezes nos ocorre, de um professor conhecer um professor, e dessa conversa nascer uma parceria. Por seis anos, iniciamos um trabalho de extensão com uma professora de  Biologia dessa forma”.

O Forprof da UFRGS oferece cursos de formação continuada como do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic) e de saberes indígenas com cargas-horárias de 100 e 200 horas/aula, respectivamente. Escolas do estado podem solicitar a presença de alunos de mestrado e doutorado em suas escolas, de acordo com suas demandas. O centro prepara um documento com boas práticas de formação continuada baseado em pesquisas e cursos oferecidos.

Também é possível buscar alternativas baseadas em recomendações. É o caso da formação entre pares (buscando a troca de experiências dentro de uma mesma área de conhecimento) e a prioridade por elaborar planos didáticos a partir de vivências mais próximas a questões práticas da sala de aula.