6 elementos para incluir na formação continuada de professores na Educação Infantil
Se a formação não dialoga com as necessidades docentes, ela pode ser encarada apenas como uma obrigação a ser cumprida na escola
POR: Camila ZentnerEm propostas de formação continuada na escola, envolver todos os professores para objetivos comuns é muitas vezes um desafio. A formação continuada precisa fazer sentido para todos que participam desse momento ou então, ela pode ser encarada apenas como uma obrigação a ser cumprida.
O primeiro passo para encontrar esses objetivos em comum é fazer uma pesquisa dos interesses, dúvidas e anseios dos professores e gestores. Outra fonte rica de insumos é fazer um levantamento das questões apresentadas pelas crianças e do diálogo com as famílias. O roteiro de formação deve ser planejado a partir das necessidades reais e específicas da realidade em que a sua escola está inserida. Só assim ela dialogará com os professores e cumprirá sua função de auxiliar e aprimorar a prática docente.
Outro ponto importante para que o momento de formação seja bem aproveitado é elaborar, coletivamente, os combinados do grupo para essas ocasiões em que estarão juntos: participação, metodologia do trabalho, uso do celular... Sendo assim, cada proposta de formação será única, própria do grupo e sua realidade, a partir do significado que é atribuído por seus membros.
Para o trabalho focado nos professores da Educação Infantil, compartilho algumas estratégias podem ser utilizadas nesse momento. Utilizo as sugestões abaixo em minha prática e considero que são importantes na hora de estruturar uma boa proposta de formação:
1) Momentos de leitura
Todo encontro formativo é iniciado por uma leitura deleite. O texto pode ser um trecho de um livro infantil ou adulto, escolhido pelo coordenador ou pelos professores voluntariamente, de acordo com sua preferência. Geralmente, são livros que marcaram em algum momento a vida de cada um e que consideram significativo compartilhar. Seu objetivo é incentivar (manter vivo) entre os adultos o prazer pela leitura, além de criar uma coletânea de livros e histórias para os membros daquele grupo de formação. É essencial que o professor seja um leitor assíduo e que carregue essa paixão pela leitura dentro de si para formar bons leitores, trazendo assim a magia da leitura para os pequenos.
2) Registros
Um professor por encontro, voluntariamente, é solicitado a escrever como foi a formação em um caderno dedicado aos encontros. O registro pode ser através de um relato descritivo, reflexivo, esquemas, tópicos, desenhos, imagens, poema... a forma que desejar! O caderno torna-se a memória daquele grupo, durante e ao final do percurso. Os encontros formativos são retomados sempre com a leitura do caderno de registros. Ao fazer a leitura do registro para seus pares, o grupo é convidado a opinar fazendo acréscimos se necessário, conhecendo a forma escolhida pelo colega para registrar. Os professores são convidados a exercitarem a observação e a escrita, assim como deve ser na prática com as crianças.
3) Ofereça repertório
Durante a formação promova junto aos professores brincadeiras, jogos, músicas, experiências em vivências significativas, de forma a criar um novo repertório junto ao grupo. Muitas vezes, o professor não muda sua prática porque não conhece outra forma de fazer. Por isso, aproveite os momentos juntos para cantarem novas músicas, conhecerem outras brincadeiras (inclusive de culturas diferentes), jogos, experiências de contato com a natureza, etc. Para além de contar como fazer, permita que o grupo vivencie essas atividades e sinta novamente a alegria, o prazer e a descoberta do brincar, percebendo que em momentos assim os participantes tendem a falar mais alto, ficarem mais agitados, assim como acontece com as crianças (e não há problema).
4) Diálogos com a prática
Devemos nos atentar à nossa postura nas formações. É comum usar um discurso que difere da prática que estamos realizando. Ou seja, se desejamos com nossos encontros formativos incentivar a mudança na prática pedagógica dos professores, desenvolvendo propostas em que a criança é sujeito ativo de seu conhecimento, nas formações com os professores precisamos fazer o mesmo. Formações exclusivamente expositivas, que somente o coordenador fala sobre o novo conteúdo abordado e os demais escutam, não considera os professores sujeitos de sua aprendizagem. Isso não significa que a parte expositiva não apareça. Mas ela não pode ser a única forma de trabalho. Espaços para o diálogo entre os envolvidos em pequenos grupos e para todo o grupo, troca de experiências, fazendo a reflexão constante sobre a prática, são fundamentais.
5) Pesquisa
A prática docente deve ser fonte contínua de pesquisa do professor. Por meio de estudos de caso ou em buscas individuais, o professor precisa exercer ao longo do seu percurso formativo sua figura de professor-pesquisador. Durante a pesquisa podem ser utilizados vídeos das crianças realizando atividades, áudios, portfólio do professor, relatos, entre outros materiais que contem sua prática em sala de aula, para serem analisados e discutidos com o grupo. O embasamento teórico surge também como parte essencial desse processo. Ele permitirá conhecer sobre o desenvolvimento da criança, como ela aprende, bem como compreender o porquê escolhemos determinada prática e não outra, fundamentando nosso trabalho.
6) Autoavaliação
Ao final de cada encontro ou de seu percurso formativo, os professores realizam autoavaliação, retomando quais foram os conhecimentos adquiridos nesse período, como foi sua participação, analisando o que a formação contribuiu para sua atuação profissional, se trouxe mudanças na prática, se ficaram questões não respondidas, etc. O professor Loris Malaguzzi, fundador das escolas de Reggio Emilia na Itália, referência em Educação Infantil, ao final do dia, quando encontrava seus professores, sempre perguntava: “O que te encantou hoje?”, esse exemplo de avaliar como foi o dia, era uma provocação para os professores não se esquecerem da magia da infância e do quanto devemos acreditar na criança e seu potencial criador.
Como tem sido a participação dos seus professores nos momentos de formação continuada da escola? Você percebe mudanças na prática pedagógica? De que forma são organizados os momentos de formações? Que assunto não pode faltar? Continuaremos falando mais sobre isso nos próximos textos, aguardem!
Abraços,
Camila Zentner
Camila Zentner Tesche é formada em Pedagogia com especialização em Educação Infantil pela Universidade de São Paulo (USP). Foi coordenadora pedagógica da Escola da Prefeitura de Guarulhos Manuel Bandeira por 10 anos e atualmente é coordenadora de programas educacionais, atuando com formação de professores na Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos.
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