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O que aprendi sendo gestora

Lúcia Cortez trabalha com gestão escolar há 25 anos e compartilha seus aprendizados nessa trajetória

POR:
Lúcia Cristina Cortez
Crédito: Getty Images

Ao longo destes 25 anos exercendo o cargo de gestora escolar fui me reinventando e me reconstruindo como profissional da Educação. Foram muitos desafios enfrentados neste complexo mundo da Educação. A partir deles, fui refletindo sobre a minha prática, vendo os erros e acertos cometidos em busca de um ensino de qualidade.

Sempre fui consciente do meu papel como líder e das minhas responsabilidades no estabelecimento de ensino enquanto gestora. Para tal, acreditava que tinha que ser exemplo de pessoa e de chefe. Uma exímia cumpridora dos meus deveres, em excesso. Eu me cobrava demais, sempre muito séria e rigorosa com os horários, entrega de documentos e todas as outras atribuições que me cabiam.

Nesta busca rígida e incansável pela perfeição na gestão escolar, posso citar algumas lições que a vida me ensinou ao longo desta jornada:

1. Equilibrar as ações administrativas e pedagógicas
O gestor não pode se deter apenas nas questões administrativas e financeiras, isto é, nas ações burocráticas. Não podemos esquecer que a gestão pedagógica é a atividade primordial da escola, mas para que tenhamos bons resultados educacionais, temos que ter uma boa gestão administrativa. Portanto, temos que ter um bom planejamento para equilibrar as duas áreas, para que possamos garantir a aprendizagem das crianças e a satisfação a todos os envolvidos no processo.   O gestor tem que que ter clareza que o projeto político pedagógico (PPP) da escola é o norteador de todas ações desenvolvidas, inclusive das administrativas. Não se pode permitir ações de separação entre o administrativo e pedagógico.

2. Gerenciar no coletivo, não podemos ficar isolados
Precisamos aprender a trabalhar em equipe. Uma andorinha só não faz verão. Todas as ações da escola devem ser pensadas e executadas no coletivo. Assim, envolvemos a todos no processo educativo, para que se sintam integrados e alinhados aos objetivos propostos. É preciso proporcionar uma gestão democrática, participativa e crítica. Envolver todos os atores da comunidade escolar. Trazer os pais e responsáveis para participarem ativamente das atividades desenvolvidas na escola, como também a comunidade dos moradores do entorno. Todos precisam se sentir acolhidos e pertencentes ao grupo. Temos que ter uma participação ativa com respeito e espírito de colaboração, numa perspectiva coletiva e solidária.

3. Garantir uma boa comunicação escolar
É fundamental que tenhamos uma boa comunicação entre gestor, alunos, pais, funcionários e comunidade para evitar os ruídos que surgem no dia a dia da rotina escolar.   A escola contemporânea precisa estar alinhada às novas gerações que se utilizam seus smartphones como ferramenta para se comunicar e resolver seus problemas. Temos que conhecer, nos adaptar e dinamizar a cultura da informação às novas práticas pedagógicas para que possamos estar conectados com todos os segmentos da escola e demais envolvidos no processo.

4. Motivar a todos os sujeitos do processo
Temos que ser entusiastas na direção escolar. Precisamos valorizar os funcionários, alunos, pais e comunitários para se engajarem com afinco no chão da escola. É preciso dar subsídios para desempenhem seu papel de forma integrada, buscando melhorar as relações interpessoais e intrapessoais para ter um alto clima escolar de satisfação. É preciso ajudar a construir um espaço propício para se criar vínculos com as pessoas e com o espaço educativo. Precisamos promover a empatia  e estabelecer relações recíprocas de amizade, respeito, alegria, tolerância e com muita afetividade. A escola é um lugar de harmonia e pessoas alegres. Precisamos fazer a diferença não só no pedagógico, mas também para proporcionar um clima escolar agradável. Para que tenhamos qualidade de vida no trabalho e com saúde, é fundamental termos uma boa convivência e um bom relacionamento entre todas as partes envolvidas. O magistério exige resiliência.

5. Incentivar a pesquisa e a formação continuada em serviço
O gestor tem que ser um articulador e incentivador para que todos sejam protagonistas da sua própria aprendizagem e que sejam pesquisadores. Estamos em processo constante de aprendizagem, portanto, temos que nos manter informados e atualizados na Educação. Todos os sujeitos envolvidos no processo educacional devem participar das formações. Profissionais administrativos, da cozinha da limpeza e demais áreas para que se sintam comprometidos e atuantes no processo. Todos os profissionais precisam investir e buscar conhecimento e colocá-lo em prática que possamos ampliar experiências educativas com foco na criatividade e inovação. Temos que criar espaços de formação continuada na escola, para troca de experiências, discussão, reflexão da teoria e prática. O gestor tem que ser o líder pedagógico para construção coletiva de um projeto formativo.

6. Inovar na escola
Os processos educativos no século 21 devem estão alinhados a novas competências desta geração. Portanto temos que buscar metodologias e práticas inovadoras. O gestor precisa ter a coragem para liderar processos de transformação, quebrar barreiras e romper com o tradicional. Trocar mobiliário, acabar as filas, tirar o foco da lousa. Incentivar o protagonismo e estimular o exercício da cidadania. Lutar por autonomia pedagógica e administrativa. Reconhecer que a Educação acontece nos diferentes espaços escolares. Assim, a sala de aula deixa de ser o único território de aprendizagem e o professor assume o papel de mediador e facilitador do conhecimento. Dessa forma, criamos espaços de interação, fazemos e aprendemos juntos, colocando o aluno no centro das atenções da escola. Promovendo uma gestão democrática e a Educação integral, valorizando o discente em todas as suas dimensões.

7. Ser flexível e aberto ao diálogo
A escola tem que ser um espaço de escuta e de diálogo. Não dá para o gestor ter uma postura inflexível, ditatorial, autoritária e centralizadora. Temos que acabar com a hierarquia para criarmos relações mais humanas e horizontais, em que as pessoas se sintam acolhidas e possam formar uma rede colaborativa em um movimento cíclico. Temos que resolver os conflitos e o absenteísmo com uma conversa franca, sincera e com empatia. Temos que ser mais flexíveis para sermos mais felizes e desfrutarmos de uma melhor qualidade de vida na escola. Uma boa conversa tem o poder de mudar concepções de vida, de quebrar e superar as adversidades. Precisamos ter certeza que estamos no mesmo lado. Não somos inimigos, mas parceiros. Poderemos ter pensamentos divergentes, mas poderemos ter uma convivência de respeito e harmonia entre os sujeitos.

Enfim, não foi e não é fácil realizar mudanças na escola e na vida. No decorrer destas aprendizagens houve muita resistência por parte de funcionários, alunos e comunidade externa. Mas é questão de tempo para todos se adaptarem e perceberem como as inovações fazem bem para o ambiente escolar e para as pessoas. A Educação tem que ser libertadora e formadora de cidadãos críticos e reflexivos. Uma escola que respeite a heterogeneidade e a individualidade da comunidade escolar. Assim, asseguramos uma Educação de qualidade para todos.