Ir ao conteúdo principal Ir ao menu Principal Ir ao menu de Guias
Notícias
5 4 3 2 1

21 qualidades para fazer a diferença na Educação

A partir da experiência de 25 anos como gestora, a diretora Lúcia Cortez destaca o perfil dos profissionais que fazem a diferença em sua escola e que podem inspirar uma Educação transformadora

POR:
Lúcia Cristina Cortez
Crédito: Getty Images

Eu tenho orgulho de ser gestora da equipe da Escola Municipal Waldir Garcia. Não posso ignorar a inestimável contribuição de cada um dos nobres mestres docentes para o sucesso e reconhecimento da nossa escola como referência na Educação do município de Manaus (AM).

Aprendo muito com estes educadores e educadoras, os quais são exemplos de profissionais da Educação. Eles encaram os desafios da profissão com muita determinação, coragem e ousadia – o que os motivam a lutar por uma sociedade mais humana, justa e igualitária no mundo. Todos têm a consciência e vivem o seu papel como agente privilegiado de transformação, conforme diz o Paulo Freire,  a “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.”

Cada educador tem características próprias de ensinar e aprender, pois somos mediadores do conhecimento. Estamos sempre em interação com os sujeitos envolvidos no processo educacional.  Quero enaltecer as qualidades deles, que têm suas habilidades e contribuições específicas e dão o melhor melhor no processo ensino-aprendizagem das crianças. Destaco assim o perfil destes excelentes docentes que fazem a diferença na Waldir Garcia – mas que são características de educadores transformadores em todo o Brasil:

1) Engajados e comprometidos para que todos aprendam, respeitando as diferenças
2) Criativos
na prática pedagógica e incentivadores da criatividade entre os discentes. São dinâmicos e surpreendem mesmo em propostas simples
3) Pesquisadores
no dia a dia escolar, buscando aprimorar os conhecimentos trazidos da universidade. Portanto, são preocupados com a formação continuada e eternos aprendizes
4) Apaixonados
pela profissão que exercem. Eles demonstram que seguiram sua vocação ou que, apesar do magistério não ter sido sua primeira opção, é possível se apaixonar pela carreira docente
5) Humanos e amigos
. Vivem uma relação horizontal de amizade e de diálogo com os alunos, pais e responsáveis, funcionários e comunitários, criando vínculos com os envolvidos no processo educacional
6) Empáticos e solidários
, sabem se colocar no lugar do outro e ajudar quando necessário. Eles extrapolam os muros da escola e importam-se com o outro
7) Pacientes e generosos
em todos os momentos da aprendizagem e da convivência com os colegas, alunos, pais, responsáveis e comunitários
8) Sensíveis e atenciosos
para perceberem, conhecerem e ajudarem aos estudantes nas suas dificuldades na aprendizagem, bem como na vida pessoal e familiar
9) Justos e tolerantes
com a diversidade e a pluralidade cultural
10) Flexíveis
nos horários e nas atividades desenvolvidas. Assim, colaboram para promover um currículo integrado e integrador, respeitando os territórios de saberes e de aprendizagem

Os educadores da Waldir Garcia. Crédito: Acervo pessoal/Lúcia Cortez

11) Inovadores e conectados, aproveitam todos os tempos e espaços da escola como ambientes ricos de aprendizagem e colocam o aluno como centro das atenções do processo, respeitando-o em todas as suas dimensões
12) Determinados
em fazer diferente, acreditam que é possível trabalhar em uma escola contemporânea e que vivencia as competências do século XXI
13) Trabalham em equipe e em colaboração
uns com os outros, lutando contra a solidão e a competição pedagógica – comportamentos comuns nas escolas tradicionais
14) Alegres e otimistas
, apostam que todos são capazes de aprender e que não podemos deixar nenhum aluno para trás. Sem que essa missão seja um peso para eles, transformam a escola com essa atitude em um ambiente alegre e alto astral
15) Organizados
com os ambientes da escola e com os documentos, facilitam o trabalho dos outros funcionários
16) Dialogam com todos
, vivendo práticas democráticas e participativas. Eles colaboram para manter espaços de escuta entre os atores da escola
17) Compreensivos e carinhoso
s, vivem uma pedagogia de afeto, algo que enxergam como importante nas relações estabelecidas e na aprendizagem
18) Protagonistas
no seu papel de mediadores deste conhecimento e sujeitos ativos e atuantes na sociedade
19) Responsáveis
com suas atribuições profissionais e com o exercício da sua cidadania e dos que estão a sua volta. Cada um tem uma responsabilidade para cuidar da escola e as cumpre com seriedade
20) Éticos
no exercício da profissão e na vida coletiva
21) Resilientes,
pois se adaptam rápido às novas mudanças da proposta pedagógica

Nestes 14 anos como gestora desta escola, tenho presenciado muitas histórias inspiradoras e emocionantes na docência. Nossos educadores acompanham os alunos individualmente, proporcionando um acompanhamento personalizado.

Todos os dias checam a frequência da turma. Quando identificam faltas, ligam para os pais para saberem porque não foram à escola. Quando é necessário, vão às casas dos alunos e fazem o resgate. Houve um caso em que o menino não tinha aparecido na escola porque não tinha roupa limpa para vestir. De imediato, foi providenciado roupas e o trouxemos para a aula.

Na época da enchente, presenciei alguns professores andando nas pontes de madeira que dão acesso às palafitas em que muitos estudantes moram, para visitar os alunos e levar cestas básicas, colchão, roupas e outros itens de necessidade básica. Há uma preocupação entre os colegas, que compram itens com seu próprio dinheiro ou articulam campanha para adquirirem tênis, sandálias, mochilas, cadernos, lápis, borracha... enfim, todo tipo de material escolar para doarem aos seus alunos.

E, diante de tudo que esses professores fazem, preciso lembrar que a maioria dos profissionais de Educação são mulheres, chefes de família e trabalham três horários para tentarem melhorar e equilibrar o orçamento. Ainda levam trabalho escolar para casa, como correção de provas, planejamento e preenchimento de diários. Tudo isto, tendo que ser conciliado com os trabalhos domésticos. São verdadeiras guerreiras no exercício do magistério.

Temos que lutar para termos melhores condições de trabalho e valorização profissional para que a carreira do magistério seja mais atrativa para os jovens acadêmicos, conforme diz a Meta 17 do Plano Nacional de Educação,(Lei nº 13.005/2014): “Valorizar os (as) profissionais do magistério das redes públicas de Educação Básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao do(as) demais profissionais com escolaridade equivalente...”

Esta valorização perpassa por maior destinação de recursos à Educação e aos salários dos professores com mais investimentos voltados para infraestrutura e material pedagógico. Há uma grande insatisfação por parte dos professores do Brasil com a falta de infraestrutura adequada, falta de recursos pedagógicos e com os baixos salários.

A Meta 18 do Plano Nacional de Educação, obriga que a União, os estados, municípios e Distrito Federal garantam planos de carreira e remuneração para os profissionais da Educação escolar básica pública, denominação definida no artigo 61 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Mas, das leis ao chão da sala de aula, continuamos aguardando por um bom plano de carreira que atenda aos nossos anseios. É visível a insatisfação por parte  dos que estão na escola com o atual plano de carreira e remuneração.

Registro aqui o reconhecimento e a gratidão a quem, com sua dedicação e profissionalismo contribui para a formação de todos os profissionais do planeta. A base para um país desenvolvido está no avanço da Educação. Portanto, temos que ter políticas públicas sérias para garantir melhores condições de trabalho do educador.

"Não queremos ser heróis, nem bandidos, apenas um profissional que quer valorização e reconhecimento" (Pilar Lacerda).

Um abraço,

Lúcia

Lúcia Cristina Cortez é professora de Língua Portuguesa e especialista em gestão escolar, com 34 anos de experiência; diretora da Escola Municipal Professor Waldir Garcia, em Manaus (AM), desde 1995