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Assim não dá! Aula de informática desconectada do conteúdo

A tecnologia faz mais sentido se for inserida na sala de aula por meio de ações que favoreçam o aprendizado

POR:
Larissa Teixeira, Rosi Rico
Assim não dá: aula de informática desconectada do conteúdo. Raphael Salimena

As ferramentas tecnológicas têm ganhado cada vez mais espaço no cotidiano de todos e, em consequência, também nas salas de aula. Porém, quando elas entraram no ensino, o objetivo era que os alunos aprendessem sobre os recursos disponíveis. Para isso foram criados laboratórios específicos. "A tecnologia chegou como se fosse uma disciplina à parte. A escola se organizava para dar aulas de informática desvinculadas do currículo", diz Helena Mendonça, coordenadora de Tecnologias Educacionais na Escola da Vila, em São Paulo. Apesar dos avanços, esse método pode ser observado até hoje em muitas instituições. Segundo Luciana Allan, diretora técnica do Instituto Crescer, em São Paulo, a tecnologia deve ser vista como um instrumento para auxiliar o processo de ensino e de aprendizagem e pode trazer vantagens quando inserida nas atividades didáticas, como facilitar o acesso à informação, promover a troca de ideias e permitir a organização de apresentações e de materiais que auxiliem na produção de conhecimento. "O objetivo principal não é mostrar como se usa essas ferramentas, mas ajudar o aluno a adquirir determinadas habilidades previstas no currículo."

Em Introducción a La Tecnología Educativa, o pesquisador espanhol Manuel Area Moreira resume as condições para incorporar a tecnologia na escola: disponibilidade de materiais digitais; fácil acesso a eles a qualquer momento e em qualquer lugar, tanto para docentes quanto para alunos; e qualificação técnica e pedagógica dos professores para colocar em prática e avaliar experiências de aprendizagem que sigam essa linha.

Para Sérgio Amaral, pesquisador do Laboratório de Inovação Tecnológica Aplicada na Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), muitas vezes o professor tem dificuldade em saber como articular a tecnologia com a prática em classe. A maioria das formações, diz ele, prioriza o aprendizado técnico dos recursos disponíveis, e não as habilidades necessárias para que eles façam sentido dentro do projeto pedagógico.

Esse problema é agravado pela falta de tempo dos docentes para conhecer os softwares e os equipamentos e planejar atividades com eles. "O professor precisa saber o que está disponível e ter orientação de como acessar e usar esses recursos. Muitas vezes essa política não é clara, e por isso ele não os utiliza", diz Luciana. Para resolver isso, ela diz que os gestores podem criar momentos de planejamento, e até convidar especialistas para a orientação. Outra opção é construir um ambiente colaborativo, em que cada educador compartilhe as atividades que realiza e assim sirva de exemplo para os outros.

Uma alternativa para evitar uma aula de informática isolada é não ter o espaço do laboratório. "O investimento em uma rede sem fio traz uma mudança enorme no uso de tecnologia e permite que o aluno acesse a internet em qualquer lugar", destaca Helena. No entanto, isso nem sempre é possível, seja pela falta de infraestrutura ou pela limitação financeira. O uso do laboratório, portanto, pode ser feito, mas ele deve estar a serviço dos conteúdos. Além disso, esse ambiente deve ser coordenado por um profissional que dialoga com os professores e sabe o que está sendo trabalhado em cada disciplina.

É o que ocorre na EMEB Doutor Vicente Zammite Mammana, em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo. Lá, a educadora Silvia Marques de Souza é responsável pelas ferramentas digitais e faz o planejamento das aulas junto com os outros docentes. "Com a professora do 2º ano do Fundamental, que queria trabalhar o tema ‘africanidades’, por exemplo, combinamos que os alunos iriam fazer pesquisas na internet, que depois resultaram na construção de um dicionário digital de palavras que vieram da cultura africana e são usadas no Brasil", diz Silvia. As atividades desenvolvidas são exibidas em uma tevê durante o intervalo, como um mural eletrônico. Assim, os estudantes acompanham o que está sendo feito pelas demais turmas, e as famílias, quando vão à escola, também podem verificar o que é produzido.

Além de auxiliar aulas no laboratório, Silvia acompanha o uso na sala dos netbooks, adquiridos por meio do Programa Um Computador por Aluno (Prouca), do Ministério da Educação (MEC). A diretora, Regina Maura Mazzari Viegas, considera importante abandonar a visão de que o uso da tecnologia ocorre apenas em um lugar determinado. "Ela ultrapassa as barreiras do laboratório e está em todos os espaços", diz.

Para este ano, Silvia e a equipe gestora estão desenvolvendo um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) para complementar a formação dos docentes. Nessa plataforma, eles poderão criar fóruns de discussão, compartilhar notícias e utilizar uma biblioteca com textos e materiais de estudo. "No espaço, também ficarão disponíveis as discussões, reflexões e produções dos professores", explica Regina. Assim, aprender com a tecnologia ganha cada vez mais sentido na escola.