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Volta às aulas: como acolher os adolescentes

No Fundamental 2 e no Ensino Médio, eles querem ser ouvidos e precisamos usar estratégias para impedir que acabem reprovando ou desistindo da escola

POR:
Joice Lamb
Os alunos do Fundamental 2 podem ser mais desafiadores do que os pequenos, mas é preciso encontrar maneiras para ouvi-los e fazê-los se sentirem bem-vindos na escola. Foto: GettyImages

Na rede municipal na qual atuo há mais de 28 anos, a maior parte da escolas tem apenas o Fundamental 1, algumas oferecem também os dois primeiros anos do Fundamental 2 e bem poucas, o Fundamental completo. A EMEF Profª Adolfina J. M. Dienfenthäler, onde sou coordenadora pedagógica desde 2012, é uma delas.

Trabalhar com adolescentes é, para nossa rede, um desafio do qual nós não podemos nos desviar. Por causa da fase que estão passando, é natural que sejam mais questionadores, irritadiços e se façam ouvir de todo jeito, mesmo que seja com pichações, brigas ou se isolando. Quando não sabemos lidar com esses fatores acabamos caindo em velhos (e graves) problemas: a reprovação e a evasão.

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Aqui na Adolfina, tivemos de transformar essa escola que produzia fracasso e que excluía a adolescência pobre e periférica das suas práticas para transformá-la numa escola de acolhimento, onde esses adolescentes pudessem prosperar.

O que nós fizemos?

1. Criamos um projeto para diminuir a distorção idade/série que não criava classes de aceleração, mas que atendia os alunos no contraturno e tentava reclassificá-los no meio do ano letivo. Sem segregação, mas com apoio pedagógico, conseguimos diminuir de 14% para 4% os alunos em defasagem.
2. Desenvolvemos um monitoramento de aprendizagem e de comportamento que permitia fazer intervenções mais eficazes durante o ano letivo, não deixando apenas para os momentos de conselho de classe.
3. Começamos a discutir com as turmas os resultados do desempenho e do comportamento deles e a construir soluções conjuntas.
4. Implementamos uma proposta de gestão baseada em assembleias por segmentos (alunos, professores, funcionários e pais). Os alunos fazem assembleias mensais nas turmas para discutir suas questões e levam suas demandas para a direção.
5. Criamos uma proposta de iniciação científica na qual os alunos podem escolher os grupos de trabalho (mesmo entre alunos de outras turmas), os temas das pesquisas e os professores orientadores. Essas pesquisas são apresentadas na nossa feira anual.
6. Iniciamos o projeto #foradacaixa. Nesse projeto, os alunos eram misturados em grupos multisseriados e participavam de oficinas com diversos professores. Cada semana uma oficina diferente.

Os efeitos de uma escola mais inclusiva
Oferecemos para estes adolescentes acompanhamento, acolhimento e possibilidade de sucesso através do estudo e do conhecimento. Eles estavam desejosos de pertencer, de produzir coisas bonitas, de merecer reconhecimento.

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Hoje podemos dizer que na nossa escola essa transição é tranquila. Todos os nossos alunos de 4 aos 14 anos convivem juntos no intervalo e, muitas vezes, os professores propõem aulas de que eles podem participar juntos.

Em 2019, finalizamos o ano com apenas três reprovações e duas evasões, entre os mais de 300 adolescentes que atendemos. Esse bom resultado, se comparado com outras escolas, acaba por não ser bom para nós, porque perdemos cinco jovens no meio do caminho, e isso não pode ser esquecido nem minimizado. Nossa consciência diz que temos que fazer mais ainda no próximo ano. Não porque tivemos culpa, mas porque temos responsabilidade e sabemos do nosso trabalho.

Fazer da escola um lugar de acolhimento não deve ser desafio, porque deve ser meta pensada e organizada para dar certo. E é função da gestão escolar definir essas metas e encabeçar a problematização da realidade a fim de conhecer quais são os reais problemas da escola que precisam de atenção. Espero ter podido ajudar contando um pouco do que fizemos.

Um abraço,
Joice Lamb.

Joice Lamb é professora da rede municipal de Novo Hamburgo (RS) desde 1991 e já teve turmas em quase todos os anos do Fundamental 1 e 2. Atualmente, atua como coordenadora pedagógica da EMEF Profª Adolfina J. M. Dienfenthäler. É formada em Letras, tem especialização em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica. Foi uma das vencedoras do Prêmio Educador Nota 10 e escolhida Educadora do Ano em 2019.

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