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Para pesquisador, é preciso melhorar a qualidade do Enem

Nílson José Machado, da USP, acredita que o exame é bastante conteudista, repete questões sobre o mesmo tema e as contextualiza em excesso

POR:
Raissa Pascoal

Ao longo dos últimos anos, os educadores acompanharam o crescimento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que se tornou o principal instrumento de seleção do Ensino Superior no país e a cada dia tem maior influência sobre o currículo das escolas. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 90% dos estudantes do último ano do Ensino Médio devem fazer a avaliação, que acontece nos dias 26 e 27 de outubro. Com tamanha importância, garantir uma prova de qualidade é fundamental. No entanto, na opinião de Nílson José Machado, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), o exame peca por ser extremamente conteudista, repetir questões sobre o mesmo tema e contextualizá-las em excesso.

Machado fez parte do grupo que, em 1997, criou a primeira Matriz de Referência do Enem - documento que define os conteúdos cobrados na prova e orienta a elaboração das questões. Na época, o exame tinha como objetivo ser um instrumento de auto avaliação do desempenho dos estudantes egressos da etapa final do Ensino Básico e uma alternativa ao vestibular tradicional. O modelo original da prova, com uma redação e 63 questões interdisciplinares baseadas em cinco competências e em uma lista de 21 habilidades, foi aplicado entre 1998 a 2008.

Em 2009, ocorreram mudanças drásticas na estrutura do Enem. A nova matriz absorveu características da Matriz de Referência do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e passou a ser divida em quatro áreas do conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências Naturais, além da redação. E, para atender à pressão das universidades, que até então resistiam em usar o exame em seu processo seletivo, incorporou outros componentes curriculares. O exame passou a ser realizado em dois dias, com 45 questões cada. "O aumento no tamanho da prova, no entanto, não veio acompanhado de qualidade. Antes, o controle de produção [das questões] era melhor", diz.

Hoje, a nota do Enem é usada para a concessão de bolsas em instituições de Ensino Superior privadas, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que oferece vagas em universidades federais; e na certificação do Ensino Médio para pessoas que não completaram os estudos na época esperada. Em 2013, também se tornou uma exigência para os alunos que desejam concorrer a uma bolsa de estudos do programa Ciências sem Fronteiras.

Para o pesquisador todas essas novas funções explicam o aumento no interesse pela prova. Entre 1998 a 2013, as inscrições no Enem passaram de 157 mil para mais de 7 milhões, alcançado a marca de segundo maior exame do mundo, perdendo apenas para a China, com 9 milhões.

A pedido de GESTÃO ESCOLAR, Nilson analisou algumas questões do Enem depois da reformulação. Veja nas páginas seguintes os vídeos em que ele fala sobre os principais pontos estruturais da avaliação. 

1. Prova conteudista

O novo Enem busca explorar mais os conhecimentos específicos de cada área. No entanto, ao enfatizar em demasia esses conteúdos, deixou de trazer questões relacionadas às situações cotidianas - que eram marcas da proposta original do exame. Assista ao comentário do professor.

 2. Repetição de conteúdos

Ao longo do exame é possível encontrar diferentes questões que cobram os mesmos conhecimentos. De outro lado, a implicação evidente é que vastas partes do currículo deixam de ser aferidas pela avaliação. Assista ao comentário do professor.

 3. Excesso de contextualização

Os enunciados da prova permanecem longos e, muitas vezes, servem apenas para justificar a existência da pergunta, em vez de contribuir para a resolução. Dados e informações não substituem, por exemplo, lógicas de raciocínio e fórmulas que ainda precisam ser memorizadas. Assista ao comentário do professor.

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