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1º módulo: ler e recontar histórias

Formação continuada em Educação Infantil

POR:
GESTÃO ESCOLAR
Ler e recontar histórias. Foto: Marcelo Almeida

Agora é lei. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, do Ministério da Educação (MEC), as práticas pedagógicas nas creches e pré-escolas têm de favorecer a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio dos vários gêneros e formas de expressão - gestual, verbal, plástica, dramática e musical. Para garantir tais aprendizados, você, coordenador pedagógico, já avaliou com os professores que tipo de experiência realizar com os pequenos? Ou que ajustes fazer nessa direção? Nesta edição, iniciamos uma série especial para ajudá-lo nesse propósito. Ela foi preparada com exclusividade para GESTÃO ESCOLAR por Silvana de Oliveira Augusto, professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz (Isevec) e coordenadora de cursos a distância do Instituto Avisa Lá, ambos em São Paulo. O objetivo deste módulo é melhorar a comunicação no dia a dia e ampliar os conhecimentos das turmas por meio das rodas de leitura e do reconto. Lembrando que as atividades devem se ajustar às demandas da equipe.

Objetivo geral
Formar professores da Educação Infantil tendo em vista a promoção de experiências fundamentais às crianças entre 2 e 5 anos, como ler, conversar, conhecer o mundo natural e social, desenhar e pintar, ouvir e produzir música, dançar e brincar de faz de conta e com jogos de regras.

Objetivos específicos deste módulo
- Fazer um diagnóstico do trabalho de leitura e reconto realizado na escola.
- Orientar um plano de formação para a realização diária de roda de histórias.
- Implementar o reconto de histórias pelas próprias crianças.

Conteúdos 
- Critérios para a seleção de livros.
- Reconto de histórias como atividade de apropriação de elementos da linguagem escrita.
- Condições didáticas.
- Planejamento didático.

Tempo estimado
Dois meses e meio, com reuniões quinzenais.

Material necessário
Um computador com acesso à internet, uma filmadora e um projetor multimídia.

Desenvolvimento

1ª reunião: Levantamento dos saberes

Para iniciar o trabalho, coloque os professores em contato direto com o objeto de estudo. Reserve o projetor multimídia ou um computador com acesso à internet e um espaço para a exibição da primeira parte do vídeo Aprender a Linguagem que Se Escreve, do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (Profa), realizado pelo MEC em 2001, que está disponível no site de GESTÃO ESCOLAR. Peça ao grupo que escute a história recontada pela menina de 5 anos que aparece aos seis minutos do filme. Em seguida, dê uma pausa e proponha uma discussão:

- O que a criança demonstra saber sobre a linguagem escrita?

- Como ela adquiriu a experiência de recontar uma história longa, com elementos da linguagem escrita que não são usuais na fala cotidiana?

- Que práticas as professoras asseguraram na Educação Infantil a essa criança?

- Para favorecer as crianças a se apropriar da linguagem dessa maneira, o que precisa ser garantido na creche e na pré-escola?

Explique que o reconto representa a versão pessoal de um texto fonte e deixe claro que não se trata da simples repetição ou memorização. Após o debate, faça uma síntese dos comentários realizados. Diga que, a partir de então, as leituras de narrativas conhecidas feitas pelas crianças na escola serão analisadas regularmente com a finalidade de acompanhar o progresso do trabalho realizado e planejar intervenções. Sendo assim, faça um cronograma de modo que, em cada reunião, um ou dois docentes tragam uma gravação do reconto feito por meninos e meninas de suas turmas. Se o uso de vídeo não for possível, sugira que eles registrem por escrito a maneira exata como a criança falou, usando inclusive as mesmas expressões.

2ª reunião: Análise da prática

Esclareça que em todos os encontros você fará a leitura de um trecho de uma obra literária para despertar nos professores o gosto pela literatura (leia dicas de como conduzir essa atividade no quadro abaixo). Depois, inicie a pauta do dia com o estudo dos recontos trazidos. Peça aos docentes que observem a linguagem utilizada pelas crianças: ela traz elementos comuns da escrita segundo o vocabulário adotado, o uso de pronomes e a conjugação dos tempos verbais? Estimule uma reflexão sobre o que pode ser feito para que os pequenos avancem. Para fundamentar o debate, apresente a segunda parte do vídeo do Profa, do MEC. Se a instituição tem berçário, é interessante exibir também o vídeo que fala sobre a importância de ler para bebês, produzido pelo Projeto Entorno, da Prefeitura de São Paulo.

Em seguida, levante alguns questionamentos: por que ouvir narrativas e recontá-las é tão importante nas turmas de creche e pré-escola? O que se aprende em cada situação? A instituição possibilita às crianças contar histórias diariamente? Sabemos que, para isso, é necessário que elas tenham repertório e bons modelos. Logo, os professores precisam ler para elas. Mas será que eles fazem isso? Com que frequência? De que modo? Segundo o vídeo, que orientações as educadoras seguiram para realizar a leitura? Com base nas orientações construídas em grupo, ajude a planejar uma roda de leitura. Apresente sugestões de livros dentre os existentes na escola para que os professores usem em sala de aula. Nesse primeiro momento, ofereça o mesmo título para que eles possam comentar as diferentes reações das crianças na reunião seguinte.

Coordenador Como apoio, leia um trecho do texto A Linguagem Escrita e as Crianças - Superando Mitos na Educação Infantil

, de Silvana de Oliveira Augusto, que dá sugestões para organizar o trabalho de leitura para esse segmento. É interessante consultar também o material de formação Percursos de Aprendizagens: Leitura e Reconto - no trecho intitulado Orientações para o Planejamento do Professor -, produzido em 2012 pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

Leitura regular

Garanta um momento em todos os encontros para ler aos professores bons livros de literatura para adultos. Essa é uma maneira de revelar a eles o valor que você atribui a tal prática e estimular a formação de leitores competentes. Procure textos de qualidade e esteja atento a ser você mesmo um bom modelo de leitor. Apresente o autor, o contexto da obra e os motivos que o levaram a selecionar o trecho. Ao final da leitura, reflita com os docentes sobre a necessidade de explicitar esses comportamentos às crianças. Além de servir de referência, essa prática garante que todos tenham tempo - ao menos enquanto estão na escola - para se familiarizar com o hábito de ler por prazer e adquiri-lo. Vale também programar, em alguma reunião, uma mostra dos vídeos em que autores como Heloisa Prieto e Ruy Castro contam como se tornaram leitores.

3ª reunião: Planejamento da atividade

Depois de ler para os professores, recupere o que foi combinado - que todos trariam um relato da leitura do mesmo livro feita em sala de aula. O grupo deve trocar experiências, detalhando como organizou a roda, apresentou a obra, preparou- se para a atividade e o que propôs aos alunos como tema de discussão - as características da história e os aspectos da linguagem empregada pelo autor, por exemplo. Aproveite para ressaltar a importância de tornar o espaço acolhedor à leitura (leia no quadro abaixo uma sugestão para criar cantos com livros para as crianças e os docentes). Para aprofundar o estudo, mostre referências de outras práticas educativas. O especial Tudo sobre Leitura, do site, traz uma série de reportagens relacionadas ao assunto. Oriente os professores a navegar pela página para conhecer o conteúdo. Depois, ofereça cópias do plano de aula Descobrindo o Livro e o Prazer de Ler Histórias e peça que eles usem esse planejamento como modelo para criar uma proposta semelhante com a turma. Nas reuniões seguintes, de acordo com um cronograma previamente organizado, cada docente relatará o seu trabalho, dando continuidade às reflexões.

Ambiente leitor

Para as crianças
Incentivar os pequenos a ler desde cedo é essencial para despertar o gosto pela literatura. Oriente os professores a organizar cantos de leitura na sala de aula. Os livros podem ficar dispostos em estantes ou painéis com bolsos a uma altura adequada, que permita a cada um explorá-los sozinho, assim como ler para os colegas - mesmo que eles não saibam fazê-lo de modo convencional. O espaço deve ser confortável, com almofadas ou tapetes. Antes e depois das mudanças, fotografe o ambiente como uma forma de registrar e valorizar o empenho do grupo.

Para os docentes
Aproveite o movimento e organize você também um lugar de leitura para os professores, oferecendo títulos de literatura - adequados à faixa etária e que possam ser emprestados para ler em casa - e técnicos, que ampliem o estudo sobre o tema.

Ler e recontar histórias. Foto: Marina Piedade

4ª reunião: Seleção das obras

Muitas vezes, os professores escolhem ler para as crianças textos simples por acreditar que eles são fáceis de serem assimilados. Mas isso não é verdade. Quando bem escrito, um enredo mais complexo também pode atrair a atenção de quem está iniciando o percurso leitor. Para tanto, é interessante apresentar um repertório amplo, com histórias ricas em descrições e detalhes que possibilitem ampliar o universo cultural dos pequenos. Para se aprofundar no assunto, explique que a pauta do dia será focada nos critérios para a seleção dos títulos. Como de rotina, leia um fragmento de uma boa história. Existem muitos autores brasileiros que podem ser escolhidos. Um deles é Graciliano Ramos (1892-1953), com o capítulo que narra a morte da cachorra Baleia no romance Vidas Secas. O relato é triste, bonito e muito bem redigido. Pergunte aos professores o que mais os encantou no modo de contar essa narrativa. O que o autor faz para emocionar? Os propósitos são dois: mostrar que um bom texto faz diferença na experiência leitora e ensinar o professor a identificar uma obra de qualidade. Para provocar o grupo a pensar sobre o acervo a trabalhar em sala, ofereça uma mostra diversificada dos livros da biblioteca, misturando edições ilustradas com outras sem imagens, as de texto simples com as de redação mais aprimorada. Peça que os professores ordenem as obras segundo a linguagem, separando os que têm texto maior e vocabulário mais diversificado, com palavras e frases sofisticadas do ponto de vista sintático. Feito isso, incentive uma discussão para sistematizar os critérios que têm de ser levados em conta na escolha dos textos para a roda de leitura. Cada professor deve eleger um livro entre os mais elaborados, levá-lo para as crianças e trazer no próximo encontro um relato da leitura realizada, prestando atenção em como a turma reage diante de um texto longo e com linguagem complexa. As crianças estranharam os termos empregados? Pediram para parar ou ouviram a história, inferindo significados das palavras que não conheciam? Elas se mostraram curiosas? Que trechos os pequenos mais gostaram?

Coordenador Leia o artigo Quem Conhece Pode Escolher Melhor - A Importância de Bons Livros para as Crianças, de Virginia Gastaldi, formadora do Instituto Avisa Lá, e use-o como referência para organizar uma situação formativa semelhante.

5ª reunião: Avaliação e sistematização

Após a leitura inicial, compartilhe o desafio de conhecer melhor o trabalho da instituição com base na elaboração conjunta de uma avaliação. Isso pode ser feito usando os Indicadores de Qualidade na Educação Infantil, do MEC (veja a tabela abaixo). Com a adaptação desse instrumento, os professores podem avaliar individualmente a própria prática. Deixe claro que a intenção não é julgar o trabalho deles, mas assegurar as condições para que ele aconteça. Abra um painel para que todos comentem os tópicos da tabela, levando em consideração as descobertas e dificuldades. Enquanto isso, organize as dúvidas em um quadro síntese. Ele vai servir de apoio à elaboração do seu plano de formação tanto para direcionar a construção de orientações didáticas quanto para encaminhar ao diretor as questões institucionais - como a aquisição de materiais, a organização de espaços coletivos e a promoção do empréstimo de livros -, além de sistematizar maneiras de dar continuidade às mudanças. Informe que os indicadores mal avaliados não representam o fracasso da escola. Ao contrário, apontam para novos projetos e sequências de atividades que aprofundem o trabalho da instituição. O propósito é que os educadores se sintam valorizados e vejam como suas ações impactam a melhoria da Educação Infantil.

Tabela - Avaliação do trabalho de leitura na escola

O documento Indicadores de Qualidade na Educação Infantil, do MEC, sugere que as crianças devem ter experiências agradáveis, variadas e estimulantes com a linguagem oral e escrita. Com base nessa proposta, discuta com o grupo:

Indicadores
O que é feito nessa direção (explicar o que e como faz)
Condições que precisam ser construídas
As professoras leem livros diariamente, de diferentes gêneros, para as crianças?    
As professoras contam histórias, diariamente, para as crianças?    
As professoras incentivam as crianças a manusear livros, revistas e outros textos?    
As professoras incentivam as crianças maiores, individualmente ou em grupos, a contar e recontar histórias e a narrar situações?    

Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA
Piaget - Vygotsky, Novas Contribuições para o Debate
, José Antonio Castorina, Emilia Ferreiro, Delia Lerner e Marta Kohl de Oliveira, 175 págs., Ed. Ática, tel. 0800-11-5152, 44,90 reais

INTERNET
Documento Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, da Secretaria de Educação Básica do MEC, de 2010