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Colunas Ética na escola

Confira os artigos de Terezinha Azerêdo Rios, doutora em Educação, a respeito das dúvidas e dos desafios enfrentados pelos gestores no dia a dia da escola

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Terezinha Azerêdo Rios
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A escola e a cidade

Uma das principais tarefas dos educadores é promover a aprendizagem dos conceitos de cidadania e democracia

POR:
Terezinha Azerêdo Rios

Consulto o dicionário: "Cidadão: 1. Indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este. 2. Habitante da cidade". Passo para o verbete Cidade e encontro uma citação do arquiteto Lúcio Costa (1902-1998): "É a expressão palpável da necessidade humana de contato, comunicação, organização e troca - numa determinada circunstância físico-social e num contexto histórico". Vou ao livro De uma Vez por Todas, do poeta amazonense Thiago de Mello, e leio Cidadania: "Cidadania é dever de povo./ Só é cidadão/ quem conquista o seu lugar/ na perseverante luta/ do sonho de uma nação./ É também obrigação:/ a de ajudar a construir/ a claridão na consciência/ de quem merece o poder./ Força gloriosa que faz/ um homem ser para outro homem/ caminho do mesmo chão,/ luz solidária e canção".

Procuro, então, trazer para a escola as formas diferentes de definir os conceitos, uma vez que, nas propostas ali elaboradas, há sempre o objetivo de formar cidadãos, ou seja, os habitantes de nossas cidades. Qual a responsabilidade da instituição na construção da cidade, na configuração que se quer dar a ela e na articulação com os projetos propostos pelo Executivo municipal? Será mais desafiador se considerarmos, como o pensador italiano Antonio Gramsci (1891-1937), que o papel da escola é o de formar governantes. Para ele, o cidadão com consciência de seus direitos e deveres, que amplia seu conhecimento do mundo e de si mesmo e procura intervir de maneira crítica e criativa na construção do contexto em que vive e ao qual pertence, terá a possibilidade de ocupar o lugar de representante de sua comunidade, de sua cidade e de seu país.

O educador mineiro Neidson Rodrigues (1942-2003) afirma que a escola cumpre sua missão política não quando elabora no seu interior um discurso sobre a política, mas quando, por meio da prática educativa, prepara "o cidadão para a vida da pólis, para a vida política, isto é, para a compreensão da totalidade social onde ele está inserido". O cidadão somente se sentirá dono do espaço em que vive se aprender a construí-lo. E promover esse aprendizado é uma das nossas tarefas mais importantes como educadores. É o que vemos apontado por Gramsci e encontramos no poema de Thiago de Mello, no qual somos levados a explorar outro conceito, também ligado ao de cidadania: o de democracia. Ele diz respeito à criação e manutenção da vida comum com dignidade, igualdade no convívio das diferenças e a possibilidade de desenvolvimento das capacidades de todos.

O objetivo da escola é a socialização do conhecimento e do saber acumulado pela sociedade, levando à criação de novos saberes. Entretanto, não há neutralidade nesse processo, pois ele se realiza na perspectiva de determinados interesses. A escola está posicionada entre as forças da sociedade em que se insere e, portanto, serve ou às que lutam para perpetuá-la ou às que querem transformá-la.

Colaborar na construção da democracia é um desafio que se coloca para as escolas e seus dirigentes, que devem ter "claridão na consciência", esforço na definição de metas e ações para atingi-las, indo ao encontro das necessidades da cidade para que ela efetivamente pertença a cada um e a todos.