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Propor a falta para reprovar

Essa medida absurda tem sido indevidamente usada em escolas que aderiram à progressão continuada. Porém ela só prejudica o aluno

POR:
Karina Padial
Assim não dá: propor a falta para reprovar. Foto: Thiago Cruz

O ano está no fim e o desempenho de alguns alunos está abaixo do esperado. O que fazer se a instituição, que adotou o sistema de progressão continuada, mas não ofereceu reforço pedagógico, só pode reprová-los ao fim de cada ciclo - que pode durar até quatro anos, dependendo da rede de ensino? Pode parecer sem nexo, porém há gestores e pais que fazem um acordo: o jovem deixa de ir às aulas até dezembro e, assim, ele é reprovado por faltas - com 25% de abstenção, isso pode acontecer, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

Resultado de um acordo verbal e não explícito, esse artifício fere a legislação, ao subtrair o direito da criança de ir à escola, e contraria a essência de um formato de organização do ensino que propõe o respeito aos diferentes ritmos e formas de aprender. "A família e o próprio estabelecimento tendem a resistir à progressão continuada, pois creem que a reprovação é um instrumento que força o aluno a estudar", diz Márcia Aparecida Jacomini, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

As pesquisas têm mostrado que, em geral, os estudantes com dificuldades retidos têm um rendimento inferior aos colegas que avançam, sendo necessário oferecer apoio pedagógico a eles.

Cabe à equipe gestora implantar as medidas para evitar que o aluno chegue ao fim do período letivo sem os conhecimentos esperados. Também é dever do diretor conscientizar os pais da importância de o filho não abandonar os estudos e promover reuniões para explicitar a proposta da escola.

Realizar avaliações com regularidade é uma boa maneira de analisar a evolução da turma e os conteúdos que precisam ser aprofundados. A periodicidade desse diagnóstico é importante para que os problemas sejam superados tão logo sejam detectados. Para isso, é interessante pensar em estratégias de reforço e recuperação paralela, realizadas no horário regular ou no contraturno, durante todo o ano.

Foi o que fez a EM Eugênio Nelson Ritzel, de Novo Hamburgo, a 42 quilômetros de Porto Alegre, ao designar um professor para atender pequenos grupos de alunos, fora do período de aula, e ajudá-los nos assuntos que eles não haviam compreendido. Some-se a isso um acompanhamento semanal da frequência dos estudantes. O projeto - parte do programa municipal Pacto pela Aprendizagem, que visa reduzir em 50% a repetência na rede - fez com que o índice de 150 jovens retidos em 2010 caísse para zero em 2011.