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Assembleias dão voz a alunos e docentes

Gestora Nota 10 democratizou as decisões por meio de reuniões e estimulou a liderança dos professores em sala de aula

POR:
Aurélio Amaral
aluna coloca sugestão na caixa Caixa de sugestões da turma Ao longo da semana, os alunos depositam nos envelopes críticas, sugestões e felicitações professora reune bilhetes e cartas dos alunos Preparação para a assembleia Um dia antes da assembleia, o professor elabora a pauta com base nos bilhetes, agrupando temas parecidos e estabelecendo uma ordem para o debate professora se reúne com os alunos para discutir os temas apresentados Reunião com os alunos Os assuntos são abordados de maneira genérica. Para não expor os alunos, o professor coloca em discussão sempre as atitudes, nunca os autores criancas opinam em assembleia da turma Participação ativa Depois que o professor introduz a questão, todas as crianças têm direito de opinar criancas votam juntas em assembleia Hora de votar O docente reúne as opiniões e põe em votação regras para resolver o problema gestores e funcionários unidos na resolução de problemas Unidos na resolução Caso as sugestões de solução extrapolem a sala de aula, o professor leva a demanda à equipe gestora

As assembleias de classe revolucionaram o dia a dia da EMEF Francisco Cardona, em Artur Nogueira, a 142 quilômetros de São Paulo. Os encontros são realizados semanalmente em todas as turmas, do 1º ao 5º ano. O que é possível se resolve com debate e votação. O restante é encaminhado à diretora, Débora Del Bianco Barbosa Sacilotto. "Muitas vezes, tenho de mobilizar professores, funcionários e até a Secretaria Municipal de Educação para que as sugestões saiam do papel", explica.

O projeto institucional rendeu a Débora o Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10 na categoria Gestor. Quando deu início ao trabalho, em maio de 2011, ela não esperava receber tantas sugestões que afetassem a gestão. O objetivo principal era reduzir os conflitos entre alunos mandados com frequência para a sala da direção. Além de atrapalhar a rotina da equipe gestora, o hábito sinalizava que os docentes não estavam conseguindo solucionar os problemas na sala de aula. Com as assembleias, eles passaram a resolver essas pequenas brigas com a ajuda dos próprios alunos e a refletir antes de levá-las a outras instâncias.

O processo funciona da seguinte maneira: ao longo da semana, as crianças escrevem bilhetes e os depositam em envelopes com os dizeres "eu critico", "eu felicito" e "eu sugiro". O docente os lê antecipadamente e elabora a pauta da discussão. Todos são orientados a não expor colegas e funcionários, focando as mensagens sempre nas atitudes - nunca nas pessoas. Após a leitura coletiva dos textos, os participantes sugerem encaminhamentos e estabelecem, em conjunto, normas de convivência (leia sobre as principais mudanças já realizadas no quadro abaixo).

"Como os estudantes definem as regras, o comprometimento em respeitá-las é maior. E, com o tempo, eles passam a esperar a assembleia para discutir o que os incomoda", explica Ariane Tagliaferro Molina, professora do 1º ano, que deu a ideia do projeto. Ela havia feito um estágio em uma escola onde a iniciativa tinha dado bons resultados. Sugeriu, então, experimentar com sua turma e convidou Débora para assistir. "Fiquei impressionada com a qualidade das questões levantadas", conta a diretora.

Para implantar a atividade em toda a escola, Débora elaborou um projeto de formação junto com a vice-diretora e as coordenadoras pedagógicas. Nos encontros com toda a equipe, estudaram o livro Assembleia Escolar: Um Caminho para a Resolução de Conflitos, de Ulisses Ferreira de Araújo (104 págs., Ed. Moderna, tel. 0800-172-002, edição esgotada) e assistiram a um documentário sobre o tema.

Mesmo com as referências teóricas e as discussões prévias, contudo, as assembleias podem reservar algumas surpresas. Afinal, o canal de comunicação também abre espaço para desabafos, sugestões às quais não se pode atender e críticas, às vezes duras, dirigidas aos educadores. "Não é fácil ouvir um aluno apontando um defeito meu", afirma Camila Natalia Prado Santos, professora do 2º ano. "Mas aos poucos percebemos que nós também temos de mudar a postura." Para que todos entendam que tipo de demanda deve ser levada a esse espaço, as regras têm de ser constantemente apresentadas e revisadas.

Débora ainda instituiu encontros mensais voltados aos docentes. Neles, todos expõem os assuntos que afetam seu trabalho. Com isso, também têm a chance de se colocar no lugar dos alunos e saber como eles se sentem durante os debates realizados na sala de aula. As discussões já renderam alguns ajustes na rotina: os conselhos de classe agora são marcados fora do horário de atividade coletiva e o controle de entrada e saída dos funcionários foi alterado para evitar as faltas sem justificativa.

Além das mudanças práticas desencadeadas, as reuniões ampliaram o poder de comunicação da meninada e reforçaram a capacidade dos educadores de gerir a sala de aula. Ana Benedita Brentano, formadora de professores do Instituto Avisa Lá e selecionadora do Prêmio, considera que o projeto de Débora e sua equipe é ousado por reforçar o papel da escola como um lugar onde crianças e adultos dialogam sobre suas ideias. "Para chegar a isso, ela teve de mudar o prisma da gestão, de centrada na direção a compartilhada com todos", diz.

A turma pediu, a gestora atendeu
Conheça alguns problemas apontados e como eles foram resolvidos

Antes


- As refeições eram servidas pelas merendeiras, o que gerava desperdício.
- A única opção de talher era a colher.
- O cardápio era repetido semanalmente.
- O cheiro forte de água sanitária incomodava.
- A sala de informática ficava fechada e ociosa.
- O barulho do pátio e do corredor atrapalhava as aulas.
- Os alunos faziam alongamento deitados no concreto da quadra esportiva.
- As luzes da quadra ficavam acesas.
- Uma funcionária era ríspida com as crianças.

Agora

- As crianças fazem o próprio prato e o desperdício é monitorado em um quadro.
- Garfo e faca também estão disponíveis.
- Novas receitas são preparadas.
- Os produtos de limpeza têm menos cloro.
- O laboratório funciona, e com novas máquinas.
- Representantes da turma que reclamou pedem silêncio aos colegas de outras classes.
- Nas aulas de Educação Física são distribuídos colchonetes.
- As lâmpadas são desligadas durante o dia.
- Ela não trabalha mais na escola.