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Educação Infantil: um eterno brincar, cheio de desafios e aprendizagens

Avalie se a sua escola promove situações bem planejadas que garantam o desenvolvimento integral das crianças e a integração entre elas

POR:
GESTÃO ESCOLAR, Verônica Fraidenraich, Sarah Fernandes
Crédito: Getty Images

Correr, pular corda, dançar, fingir ser um super-herói ou o viajante de uma aeronave espacial e rabiscar com lápis coloridos é comum no dia a dia das crianças. Quando duas ou mais se juntam, as brincadeiras fluem espontaneamente e a interação ocorre sem problemas. Por isso, na creche e na pré-escola, momentos como esses devem ser não só valorizados como também incorporados à rotina de forma sistemática. Porém não basta deixar que o improviso dê o tom. Ao contrário, somente um planejamento detalhado da rotina fará com que a Educação Infantil atinja os seus objetivos.

"Para garantir um bom atendimento nesse segmento, os gestores precisam ter consciência da importância de cada uma das atividades e brincadeiras no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças", afirma Maura Barbosa, coordenadora da Comunidade Educativa Cedac, em São Paulo, e consultora de GESTÃO ESCOLAR.

De fato, a brincadeira proporciona diversos benefícios nessa faixa etária, estimulando capacidades como a atenção, a memória e a imaginação. Permite, também, amadurecer no relacionamento social por meio do contato com os colegas e adultos que não são do círculo familiar. "É dessa forma que a criança começa a compreender algumas regras de convívio e os papéis sociais. Por isso, é importante ter intencionalidade no uso de cada espaço e material pedagógico, para tornar enriquecedoras as experiências e vivências dos pequenos", explica Silvana Augusto, professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz (Isevec) e coordenadora de projetos do Instituto Avisa Lá, ambos em São Paulo.

Não é uma tarefa simples para a equipe gestora dar a atenção devida à Educação Infantil, principalmente quando a escola também oferece o Ensino Fundamental. "Quando as duas etapas coexistem, é comum priorizar as turmas de alfabetização", afirma Mônica Correia Baptista, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também é coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Infância e Educação Infantil (Nepei). A pesquisa A Gestão da Educação Infantil no Brasil - realizada este ano pela Fundação Carlos Chagas (FCC) a pedido da Fundação Victor Civita (FVC), ambas em São Paulo - constatou que as pré-escolas com melhores indicadores de qualidade funcionam em instituições exclusivas para a faixa etária de 4 a 6 anos, sem compartilhar espaço com outros segmentos.

Além disso, muitas creches e pré-escolas reproduzem o modelo curricular em que a divisão de conteúdos por áreas do conhecimento é regra - o que não condiz com os objetivos de aprendizagem para os menores. "Desse modo, corre-se o risco de reduzir a Educação Infantil à simples preparação para o 1º ano", ressalta Helena Cristina Ruiz, coordenadora pedagógica da EMEI Professora Maria Alice Pasquarelli, em São José dos Campos, a 94 quilômetros de São Paulo, e uma das responsáveis pelo blog Coordenadoras em Ação, do site de GESTÃO ESCOLAR.

O estudo da FVC mostrou também que, mantidas as mesmas condições de estrutura, as creches e pré-escolas que fazem a autoavaliação do seu trabalho chegam a melhores resultados do que as que não costumam usar esse procedimento. Infelizmente, os Indicadores da Qualidade na Educação Infantil, do Ministério da Educação (MEC) - ferramenta de avaliação que envolve os professores, os funcionários e as famílias no diagnóstico do atendimento realizado - ainda é pouco utilizado.

Nesta reportagem, selecionamos cinco eixos da Educação Infantil - Conhecimento de Si e do Mundo, Linguagem Oral e Escrita, Diferentes Meios de Expressão, Cuidado e Higiene e Recursos Tecnológicos - para mostrar a importância de cada um deles. Fizemos também, com a ajuda de especialistas nessas áreas, um check-list para vocês, diretor e coordenador pedagógico, certificarem-se de que esses conteúdos estão garantidos e sendo bem trabalhados. A ideia é que, com base neles, vocês elaborem novos questionários que tratem dos outros eixos previstos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, também do MEC, como Conhecimentos Matemáticos, Mundo Físico e Social, Tempo e Natureza, Biodiversidade e Sustentabilidade da Vida na Terra, Vivências Éticas e Estéticas e Manifestações e Tradições Culturais Brasileiras.

Agradecemos às equipes da escola Grão de Chão e da Emei Dilson Funaro, ambas em São Paulo, pela disposição em receber GESTÃO ESCOLAR e autorizar a realização das fotos que ilustram esta reportagem.

Conhecimento de si e do mundo
Os vínculos com os adultos da escola e com os colegas contribuem para a formação da criança


A construção do sujeito
Desde os primeiros meses de vida, o bebê usa o corpo e os sentidos para construir os conhecimentos sobre si mesmo e o mundo que o rodeia. Ele identifica os adultos que cuidam dele e atendem às suas necessidades básicas, assim como aprende a se localizar e se movimentar. Passa também a reconhecer a própria imagem no espelho e assim se diferencia dos outros. Investir em atividades de movimentação, nesse período, ajuda a criança a valorizar o próprio corpo, descobrir os seus limites e expressar os sentimentos. Por meio de experiências sensoriais, no contato com objetos e brinquedos de diferentes texturas, tamanhos e formas, a criança compreende conceitos - grande e pequeno, leve e pesado - e constrói significados sobre o meio físico e social.

Ao perceber a si e aos demais como diferentes, a criança começa a acionar recursos próprios para entender regras e valores e considerar o ponto de vista pessoal e do outro. Ela pode até tomar algumas decisões dentro de seu universo de possibilidades. "É importante que cada um escolha o que quer comer e manifeste as preferências no brincar, construindo as expressões para atuar no ambiente em que vive", afirma Sandra Denise Pagel, coordenadora de projetos educacionais do Instituto Natura, em São Paulo.

Para ter um ambiente e uma rotina que propiciem desafios corporais e sensoriais

Você, diretor:


- Organiza mudanças no espaço físico e na organização do mobiliário para garantir a diversidade de ambientes?

- Autoriza a aquisição e a reposição de brinquedos que ampliem as experiências sensoriais dos bebês e das crianças?

- Assegura a compra e a conservação de mobiliário adequado e o dispõe de forma a não atrapalhar a movimentação dos pequenos?

- Acompanha a rotina das salas com o propósito de ajustar o tempo aos diferentes ritmos de sono, alimentação e banho?

- Ajusta as atividades da equipe de apoio às necessidades das crianças?

- Incentiva as reuniões entre professores e auxiliares para que haja troca de informações sobre a rotina?

Você, coordenador:

- Orienta e supervisiona a organização de espaços que permitam a movimentação da criança por diversos ambientes da sala?

- Conduz a organização de brinquedos e materiais não estruturados - como tábuas, cordas e tecidos --, favorecendo as experiências sensoriais?

- Oferece aos professores oficinas de produção de materiais, como móbiles, objetos sonoros e outros que estimulem os sentidos?

- Observa os horários de banho, sono e atividades com o objetivo de apoiar o professor na compreensão das formas de os bebês e as crianças se expressarem?

- Promove a troca de experiência entre os professores para ajudá-los a interpretar os gestos e as expressões de quem ainda não fala?

Higiene e cuidados pessoais
Hábitos de asseio valorizam a individualidade e ajudam no desenvolvimento da autoconfiança

Higiene e cuidados pessoais. Foto: Marina Piedade

Se lavar as mãos, pentear o cabelo ou se alimentar são atividades pouco significativas para os adultos, para os bebês elas servem para estimular a autonomia e a individualidade. Quando bem trabalhados, os hábitos de higiene pessoal levam as crianças a se interessar pelo cuidado com o próprio corpo e com a saúde. Para Cisele Ortiz, coordenadora do Instituto Avisa Lá, de São Paulo, esses momentos são propícios para estabelecer uma relação afetiva com os pequenos. "Ao trocar a fralda e dar banho, o educador pode explicar ao bebê o que está fazendo e, inclusive, solicitar sua ajuda, pedindo para que levante a perna, por exemplo." Da mesma maneira, organizar as refeições em ambiente limpo, seguro e confortável propicia a socialização e a nutrição adequadas. Esses constituem um dos poucos momentos em que a criança é cuidada individualmente e isso faz com que ela se sinta valorizada, adquira confiança e aprenda a prestar atenção em si e no outro. Ao se dedicar a essas ações e dar importância a elas, o professor ajuda a criança na construção da sua identidade.

Atenção individualizada
Para garantir o bem-estar, o aconchego e a saúde das crianças

Você, diretor:


- Orienta os funcionários para que recebam bem as crianças e as tratem afetuosamente?

- Dispõe de equipe para garantir a segurança em todos os ambientes?

- Garante a prevenção de acidentes por meio da manutenção dos materiais e dos espaços?

- Indica cursos ou orienta a todos sobre como prevenir acidentes e como agir caso eles aconteçam?

- Atenta para que o horário e a duração das refeições satisfaçam às necessidades individuais das crianças?

- Orienta sobre a higiene na manipulação dos alimentos e a oferta equilibrada dos mesmos do ponto de vista nutricional?

- Mantém um número apropriado de colchonetes?

- Certifica-se de que os brinquedos, colchonetes e demais materiais são higienizados regularmente?

Você, coordenador:

- Assegura que os pais recebam um registro diário com a rotina dos filhos?

- Conscientiza os professores e a equipe de apoio sobre a importância da própria higiene?

- Orienta os funcionários a organizar a alimentação em pequenos grupos?

- Permite que as crianças com 3 anos ou mais utilizem garfo e faca sob a supervisão dos adultos e sejam orientadas quanto ao uso?

- Faz uma programação dos horários de sono?

- Supervisiona as condições de higiene durante a troca de fraldas para evitar, entre outros cuidados, que os produtos de uso pessoal sejam compartilhados?

- Encaminha o planejamento de atividades para as crianças que não dormem?

- Informa todos os funcionários sobre os problemas de saúde e as especificações da alimentação das crianças?

Diferentes formas de expressão
Desenhar, dançar e cantar permitem conhecer distintas manifestações artísticas

Diferentes formas de expressão. Foto: Marina Piedade

O trabalho com as linguagens corporal, musical e visual dá significado ao mundo imaginário das crianças em suas diferentes formas. "O mais rico é quando acontece o entrelace de experiências, que possibilita aos pequenos, por exemplo, cantar enquanto modelam o barro ou contar uma história ao mesmo tempo que desenham", diz Marisa Szpigel, formadora de professores em Arte e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10 em 2012. Para favorecer tais situações, é importante que os professores conheçam os materiais e suas possibilidades de uso. A linguagem do desenho permite expressar gestos e pensamentos. Já a da pintura favorece o contato com tintas e cores para deixar marcas no corpo e nos suportes. Argila, massas, blocos de madeira, sucatas, papelão e tubos de plástico e papel - que servem à modelagem e construção - podem ser explorados em sua plasticidade e sonoridade.

Inúmeras experimentações
Para instigar as descobertas das crianças e os processos de criação

Você, diretor:


- Adquire materiais apropriados para uso nas oficinas de criação feitas com os professores?

- Providencia a compra e reposição de materiais não tóxicos para o desenho, a pintura, a modelagem e a construção de objetos?

- Monta um acervo de instrumentos musicais, adereços e vestimentas que propiciem a integração entre as atividades musicais e corporais?

- Fornece caixas, caixotes e panos para as práticas de movimentos corporais?

- Disponibiliza aparelho de som e CDs com músicas de gêneros variados?

- Garante mobiliário adequado para o ateliê e a existência de suportes diferentes - como uma parede lavável - para a pintura?

- Proporciona a limpeza e a segurança dos ambientes para a realização de atividades?

- Mantém espaços para expor as produções das crianças e promove mostras para a comunidade?

Você, coordenador:

- Faz reuniões pedagógicas para discutir e planejar propostas de trabalho com as diferentes linguagens?

- Dá subsídios aos professores para que eles analisem o percurso criativo das crianças antes de planejar as atividades?

- Compartilha a análises das produções nos encontros formativos?

- Assegura a promoção de diferentes agrupamentos de crianças, garantindo a aprendizagem individual e coletiva?

- Certifica-se de que o planejamento das propostas respeite e desafie as potencialidades das crianças?

- Promove oficinas para que os professores e a equipe de apoio experimentem processos de criação nas diversas modalidades?

- Prevê a flexibilização de propostas para as crianças com necessidades educacionais especiais?

Linguagem oral e escrita
O contato com as palavras faz com que as crianças entendam como os mais velhos se comunicam

Linguagem oral e escrita. Foto: Marina Piedade

A linguagem é um bem cultural que permite ao ser humano enriquecer as possibilidades de comunicação e expressão. Para adquiri-la, as interações com os adultos são imprescindíveis. O professor que lê regularmente para a sua turma mostra o significado da escrita e as suas possibilidades de uso. Ao ouvir um conto, as crianças entram na narrativa e dão asas à imaginação. Isso contribui para a ampliação do vocabulário e o conhecimento sobre as maneiras de falar e de escrever. O contato com a literatura também permite o conhecimento de realidades distantes. Ouvindo relatos sobre os índios e sua cultura, por exemplo, é possível aprender sobre os hábitos e costumes desses povos mesmo sem ter visitado uma aldeia. "Cantar uma música que cite partes do corpo e sugerir que elas se toquem, por exemplo, ajuda na percepção de que é possível representar algumas vivências", afirma Mônica Correia Baptista, da UFMG.

Um ambiente letrado
Para oferecer boas práticas de leitura

Você, diretor:


- Instrui os funcionários a utilizarem uma linguagem clara e a serem atenciosos com as crianças, chamando-as pelo nome, olhando-as nos olhos e usando a linguagem corporal se necessário?

- Assegura a existência de espaços variados com acesso a livros e gibis que permitam a leitura coletiva e individual?

- Mantém o acervo bem conservado e com uma obra por criança, no mínimo?

- Garante materiais para as atividades de escrita, tais como letras móveis, papel, lápis e canetas?

- Promove a renovação da biblioteca de modo a manter o interesse das crianças?

- Incentiva projetos que contemplem o empréstimo de livros?

Você, coordenador:

- Orienta e supervisiona os professores e a equipe de apoio a realizar atividades de leitura diárias para as turmas?

- Encaminha situações de estímulo à leitura autônoma?

- Sugere propostas para o manuseio de livros, revistas e outros textos?

- Propõe aos professores que incentivem os maiores a contar e recontar histórias e a narrar situações para os menores, estimulando a oralidade?

- Dá oportunidade para que as crianças manifestem suas opiniões e comentem as próprias produções e a dos colegas?

- Conduz situações de escrita do nome pelas crianças nos desenhos, produções e pertences pessoais?

- Ajuda na flexibilização de atividades para atender as crianças com necessidades especiais de aprendizagem?

Recursos tecnológicos
Eles já fazem parte do dia a dia dos pequenos e podem facilitar o processo de aprendizagem

Recursos tecnológicos. Foto: Marina Piedade

Até na pré-escola, tem se tornado frequente a presença de gravadores, filmadoras, projetores, máquinas fotográficas, jogos eletrônicos e computadores. Esses recursos facilitam o envolvimento das crianças em diversas atividades. Instigadas a explorá-los, os pequenos estão aptos para usá-los de maneira competente e divertida para a ampliação de seus saberes. O retroprojetor, por exemplo, pode ser utilizado para a observação dos efeitos óticos de luz e sombra. Já o gravador é adequado para o registro e a audição de canções e histórias e, inclusive, da própria fala dos pequenos. No computador, alguns programas específicos permitem brincar com letras, números, linhas, formas e cores. Aos poucos, com orientação e liberdade para descobrir os inúmeros recursos, a criança se apropria de procedimentos básicos que levam à criação e transformação de imagens digitais. "É um desafio para nós, educadores, ter clareza das possibilidades que a tecnologia oferece e planejar situações que potencializem o aprendizado", afirma Helena Cristina Ruiz. Para que a tecnologia tenha sentido, ela precisa ser integrada ao projeto político-pedagógico com o propósito de servir como mais uma maneira de explorar o mundo e se expressar.

Uso com propósito
Para ampliar os saberes e as formas de expressão

Você, diretor:


- Prevê no projeto político-pedagógico o uso da tecnologia como apoio ao aprendizado?

- Promove debates com a equipe para definir quais recursos devem ser incorporados ao planejamento?

- Compra ou organiza campanhas para a aquisição de recursos tecnológicos e midiáticos que atendam aos objetivos de aprendizagem?

- Propõe regras e rotinas para uso compartilhado dos equipamentos?

- Garante a manutenção dos recursos, bem como da rede elétrica e das tomadas?

- Mantém organizado o local onde os equipamentos são guardados e define as regras para os cuidados dos mesmos?

- Orienta os funcionários quanto à instalação e ao uso adequado dos aparelhos?

- Faz descarte consciente de produtos elétricos e eletrônicos e informa a comunidade sobre essa iniciativa?

Você, coordenador:

- Sugere projetos que utilizam de forma contextualizada os recursos tecnológicos e midiáticos?

- Organiza encontros de formação para ensinar os professores a utilizar os equipamentos de forma criativa e desafiadora para as crianças?

- Discute na formação se o trabalho com os recursos tecnológicos está promovendo o aprendizado e propõe a reformulação das propostas quando necessário?

- Promove discussões entre os professores para definir os melhores recursos de acordo com os conteúdos e objetivos de aprendizagem?

- Socializa as experiências, fazendo com que os professores e a equipe de apoio tomem conhecimento das atividades realizadas?