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Para garantir a inclusão

O apoio de outras instituições foi decisivo para a escola se tornar referência no atendimento a crianças com necessidades educacionais especiais

POR:
Iranildes Correira de Deus Saraiva
Garantir a inclusão. Foto: Regiclay Saadi
Uma escola para todos Além de buscar mais recursos, Iranildes (à direita) envolveu todos os alunos no projeto

Nas primeiras semanas de aula de 2004, quando a recém- inaugurada EE Clarisse Fecury iniciou o atendimento, percebemos que havia um número elevado de crianças com deficiência física e intelectual. Fomos pegos de surpresa, já que nas fichas de matrícula os pais não incluíram essas informações - talvez com medo de ter o pedido de vaga rejeitado. Assim, não tivemos como nos preparar com antecedência para atender bem essas crianças e precisamos correr atrás da estrutura necessária. Tornar a escola de fato inclusiva foi um dos maiores desafios que enfrentei mesmo já tendo 28 anos de experiência como educadora. Na época, era a diretora da escola - hoje sou coordenadora pedagógica.

Ninguém da equipe havia trabalhado com inclusão. Percebi que a primeira coisa a fazer era buscar ajuda. Primeiro procurei o Programa Saúde na Escola - dos ministérios da Saúde e da Educação. Fiquei admirada: já nas primeiras conversas, consegui apoio das equipes de assistência social e de saúde, que mandaram pediatras e psicólogos para fazer diagnósticos detalhados. Informamos aos pais da visita desses profissionais, que, além de avaliar clinicamente as crianças, poderiam fazer os encaminhamentos ao serviço médico da rede pública se necessário. Continuamos participando do programa e mantemos as visitas periódicas dos médicos - com o reforço de uma fonoaudióloga, semanalmente na escola.

O atendimento personalizado era importante, mas não suficiente. Chegamos a ter 20 alunos com deficiência e precisávamos de um especialista aqui dentro para nos orientar. Procuramos então a Gerência de Educação Especial da Secretaria de Educação do Estado para nos ajudar. No início, esse professor nos visitava duas vezes por semana, acompanhava os alunos em sala e participava da formação. Com o aumento da demanda, elaboramos um projeto solicitando à Secretaria que ele prestasse serviço exclusivamente para nós. Deu certo.

Por intermédio da mesma gerência, fizemos parcerias com instituições focadas no atendimento a deficientes, como o Centro de Ensino Especial Dom Bosco e o Centro de Apoio ao Surdo (CAS), que fazem o treinamento da equipe pedagógica, oferecem oficinas para a comunidade e ajudam na confecção de materiais adaptados. Desde então, não paramos de buscar parceiros e recursos oficiais para nos ajudar a viabilizar os projetos de melhoria do ensino. Cada vez que chega um estudante com uma necessidade nova, vamos atrás de informações para dar apoio aos educadores.

Atualmente temos alunos com paralisia cerebral, baixa visão, deficiência física e múltipla, síndrome de Down, transtorno mental e surdez. Graças aos especialistas e aos docentes bem preparados, todos os alunos estão envolvidos nas atividades regulares e têm uma convivência saudável com os colegas. O mais difícil no processo foi conseguir a aceitação dos pais. Nos começo, alguns reclamaram pois não queriam que os filhos estudassem com crianças deficientes. Tivemos de conversar com as famílias sobre legislação e direitos humanos e, principalmente, envolvê-las nos projetos de inclusão. Por outro lado, os familiares de alunos com necessidades especiais muitas vezes não acreditam no potencial de aprendizagem deles e negligenciam a ida à escola. Esses também exigiram atenção da nossa parte para mostrar como a frequência na sala de aula pode ajudar no desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças.

Hoje temos uma sala de recursos e um time bem preparado. Contamos com três professores intérpretes de libras, dois de atendimento educacional especializado e duas técnicas em enfermagem atuando como cuidadoras. Além dos professores, todos os funcionários e gestores estão envolvidos no processo de inclusão. Participamos de um projeto-piloto de escolas bilíngues, com aulas de libras para todos os alunos e também para professores, pais e demais interessados.

Tornamo-nos uma referência na região e agora o desafio é dar continuidade a esse trabalho. Acreditamos que todas as crianças são capazes, respeitando-se as suas especificidades.

Iranildes Correira de Deus Saraiva é coordenadora da EE Clarisse Fecury, em Rio Branco, no Acre.

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