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Culpar a família

Antes de responsabilizar os pais pela não-aprendizagem, a escola deve se livrar de preconceitos e repensar seu projeto de formação

POR:
Caroline Ferreira
Assim não dá: culpar a família. Ilustração: Thiago Cruz

"As famílias são desestruturadas." "Os pais não participam das reuniões nem querem saber se o filho faz a lição de casa." Infelizmente, frases como essas são muito usadas pelos educadores para justificar o baixo desempenho dos alunos. Segundo um levantamento feito pelo movimento Todos pela Educação, de São Paulo - com base nas respostas do questionário respondido pelos professores durante a aplicação da Prova Brasil de 2009 -, aproximadamente 88% dos docentes do 5º ano do Ensino Fundamental afirmam que a principal causa dos problemas de aprendizagem é a falta de assistência e acompanhamento do trabalho pedagógico por parte da família. A porcentagem de docentes que compactua com essa ideia é assustadora - principalmente porque ela é um grande equívoco. Ao atribuir as razões do sucesso ou do fracasso a uma única instituição - e ainda por cima externa -, a escola está repassando suas incumbências e abandonando justamente aquele que mais precisa de apoio: o aluno.

Os pais têm um papel muito importante na Educação e devem ser constantemente convidados a conhecer o trabalho pedagógico e a participar dele. Porém a aprendizagem ou não dos conteúdos curriculares está diretamente ligada à forma como eles são ensinados - e, portanto, à capacidade dos docentes de bem exercer sua função. "É preciso deixar claro que a responsabilidade de construir o conhecimento formal é da escola", destaca Alexsandro Santos, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Ele explica que a origem desse tipo de transferência pode ter origem na idealização que há em torno do estudante perfeito: "Espera-se que a criança chegue à sala de aula já imersa na cultura letrada, quando sabemos que a realidade é completamente diferente. Para grande parte dos matriculados nas redes públicas, é na escola que acontece a aproximação - ou, às vezes, o primeiro contato - com o mundo da escrita".

Para acabar com essa forma de preconceito, a equipe gestora deve investir na formação dos professores - com recursos pedagógicos, eles poderão ensinar a todos, independentemente das condições familiares - e assim atingir bons resultados. E também investir na integração da família ao processo de ensino. "Uma das maneiras é usar os encontros com os pais para explicar o que está sendo feito na escola para que os alunos aprendam e a importância desse processo para a vida deles", afirma Priscila Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação.