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Qualidade na gestão ganha certificação

Com a implantação do ISO 9001, escola do Amazonas acaba com a evasão e a reprovação

POR:
Ocimara Balmant
Visita domiciliar. Foto: Fábio Nutti
Visita domiciliar Esse novo procedimento implantado evita faltas e aproxima a escola da comunidade

Quem entra no pátio da EE Roxana Pereira Bonessi, na periferia de Manaus, logo se depara com um diploma um pouco diferente: uma placa de alumínio, afixada no mural, atesta que aquela escola tem uma gestão de qualidade e que os procedimentos usados para atingir as metas estão de acordo com as normas internacionais. É o certificado ISO 9001 (leia o quadro na próxima página), tão perseguido por empresas que buscam a excelência em produtos e serviços, mas uma novidade para as escolas, principalmente as públicas.

Para a Roxana Bonessi, tudo começou em 2009, quando a Secretaria Estadual de Educação (SEE) do Amazonas quis aumentar a eficiência da gestão a fim de atender melhor a pais e alunos. "Lançamos a ideia em um programa piloto. Depois de um trabalho intenso, que durou um ano, duas escolas conseguiram se qualificar. A Roxana foi uma delas", conta Rossieli Soares da Silva, diretor de administração da infraestrutura da SEE e coordenador do projeto (saiba como conseguir a certificação no quadro abaixo).

O passo a passo da certificação. Ilustração: Mario Kanno

Com o início do ensino integral, oferecido a 500 alunos da primeira etapa do Ensino Fundamental, a escola teve de criar novas rotinas e rever algumas que não eram eficientes. Para receber o selo, foi preciso também alterar a estrutura física e estabelecer indicadores de qualidade e de satisfação da equipe, dos alunos e da comunidade. "Mudamos tudo por aqui", afirma Francisca Lima, diretora da unidade.

A organização melhora os índices de aprendizagem

Relatórios individuais. Foto: Fábio Nutti
Relatórios individuais Para agir rápido, a equipe se mantém bem informada sobre a aprendizagem

Uma das novidades é a elaboração de relatórios detalhados sobre a evolução da aprendizagem de cada estudante, que são produzidos pelos professores e compartilhados com os colegas e a equipe gestora. No documento, constam números que atestam a frequência em sala, o desempenho nas atividades propostas em aula e para a casa e o resultado das avaliações. Dessa forma, quando surge algum problema de aprendizagem, é possível reunir os educadores responsáveis pelo aluno e fazer as intervenções necessárias. Duas ações propostas rapidamente entraram em vigor: o reforço individual para casos específicos e a visita domiciliar quando alguma criança falta várias vezes sem justificativa.

Entre os processos revistos e aperfeiçoados está o serviço psicológico, que já era realizado na instituição, porém sem monitoramento. Para garantir uma assistência eficiente, criou-se um fluxograma de acompanhamento individual, em que são incluídos os dados sobre o aluno durante todo o período do atendimento, o registro das reuniões e dos contatos feitos com a família e, quando é o caso, os relatórios de outros órgãos, como o conselho tutelar.

Para identificar esses e outros pontos que exigiam intervenção, a SEE contratou uma assessoria especializada. Mais do que uma ajuda externa, o serviço funcionou como um programa de formação de gestores e professores, que se envolveram em todas as etapas do processo. Os consultores ofereceram cursos para que os educadores e funcionários aprendessem a desenhar fluxogramas e formulários de acompanhamento das ações - e hoje são usados mais de 60 desses documentos. Ficou a cargo da equipe também a arrumação dos arquivos, a revisão dos critérios de avaliação, o replanejamento e a organização do período de matrículas (no qual novos documentos chegam à secretaria) e a criação de procedimentos para melhor receber os pais. Dessa forma, o processo de certificação não somente promove melhorias como também delega responsabilidades e cobra atitudes.

Após seis meses de mobilização e de trabalho intenso de toda a equipe, foi realizada uma auditoria. Com o resultado satisfatório, a instituição recebeu o certificado. "Ficamos felizes, porém sabíamos que esse era apenas o começo. Ganhar a certificação é fácil. O difícil é mantê-la", afirma a diretora.

As visitas de manutenção do ISO 9001 acontecem a cada semestre. Basta algum procedimento estar em desacordo com o que foi estabelecido para os auditores darem um sinal de alerta - ou, dependendo da gravidade do problema, até retirarem a certificação. Tudo o que foi definido anteriormente será cobrado: se a própria instituição decidiu que haveria reuniões semanais entre diretor e coordenador com registro em ata, por exemplo, isso será verificado.

Para evitar falhas nos processos, é possível criar uma espécie de avaliação interna, com os funcionários de uma área acompanhando sempre os procedimentos de outra: o atendente de secretaria, por exemplo, pode ficar encarregado de verificar se as merendeiras estão cumprindo os combinados para manter a segurança alimentar e o diretor avaliar se o diário de classe dos docentes está de acordo com os planejamentos feitos por período.

Os resultados de todo esse esforço se refletiram na aprendizagem. Na EE Roxana Pereira Bonessi, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) saltou de 3,3, em 2007, para 5,3, em 2009. Desde 2010, a escola não tem nenhuma ocorrência de reprovação nem de abandono. "Os professores trabalham em regime de dedicação exclusiva e têm acesso aos materiais pedagógicos apropriados. Isso só ajuda a aumentar a satisfação dos alunos, que estão cada vez mais interessados em estudar", afirma Francisca Lima.

Como o projeto piloto deu bons resultados, este ano a SEE publicou um edital para selecionar 25 unidades que poderão concorrer à certificação. Antes da inscrição, ocorreram visitas técnicas sem aviso prévio a fim de observar processos e avaliar os índices educacionais e as ações e os serviços - como a execução do projeto político-pedagógico e o acompanhamento da preparação da merenda. O caminho para a aquisição do selo ISO 9001 já está sendo trilhado.

O certificado vale por três anos e, ao longo desse tempo, são realizadas auditorias periódicas. Segundo a Secretaria de Educação, o custo foi de 30 mil reais por escola, porém esse valor varia de acordo com o número de unidades participantes e as formações necessárias. "Os diretores sabem que o ISO 9001 não é um presente. Ele exige um trabalho intenso em todas as áreas. Mesmo assim, tivemos 152 inscrições para concorrer às vagas de certificação. Sinal de que muitas unidades estão interessadas em trabalhar no aperfeiçoamento da gestão", conclui Rossieli.

O que é o ISO 9001?

É um conjunto de normas criado na década de 1980 pela International Organization for Standardization (ISO), uma entidade internacional com sede em Genebra, na Suíça, para mensurar e padronizar a qualidade de produtos e serviços. No Brasil, o órgão que representa a entidade é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Consultorias especializadas realizam a implementação de processos e a pré-auditoria. A certificação é feita por instituições especializadas autorizadas, como a Fundação Carlos Alberto Vanzolini, em São Paulo, e o Bureau Veritas Quality International, uma rede internacional com sede em Paris.

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CONTATOS
EE Roxana Pereira Bonessi, tel. (92) 3624-0160
International Organization for Standardization
SEE do Amazonas, tel. (92) 3614-2200 

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