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Leia dicas e respostas da especialista em Psicologia da Educação, Catarina Iavelberg, sobre a vida escolar dos alunos e sobre a relação entre a instituição e a família

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Catarina Iavelberg
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Revelações no banheiro

A investigação desse ambiente, que é ao mesmo tempo íntimo e público, traz também demandas educacionais

POR:
Catarina Iavelberg
Catarina Iavelberg. Foto: Tamires Kopp Nosso Aluno

Catarina Iavelberg é assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação

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Todo espaço da escola é educador na medida em que transmite informações, saberes e valores. Ao observar e analisar as funções de cada lugar e o modo como ele é ocupado, podemos descobrir o que muitas vezes transmitimos sem nos darmos conta. Os gestores têm de pensar educacionalmente em todas as áreas, investigando se os valores que são comunicados por elas estão de acordo com os princípios da instituição.

Além de abrigar fantasmas que despertam medo e curiosidade, como a loira misteriosa que dizem aparecer no espelho desde a minha época de colégio, o banheiro é um ambiente educador importante. As instalações e as condições de higiene já mostram muito sobre a relação entre os estudantes e o projeto político-pedagógico (PPP) da unidade de ensino. Ao mesmo tempo que o local se configura como reservado, é de uso coletivo e torna-se palco de manifestações públicas bastante significativas.

As cabines transmitem a sensação de proteção e privacidade e não é à toa que os estudantes vão lá para chorar, contar segredos, se esconder ou transgredir. As declarações de amor, de humor e de ódio nas paredes mostram sentimentos hostis em relação à escola e à vida.

Muitas vezes, o banheiro é o alvo preferido para expor tudo o que incomoda. Estourar bombinhas, entupir os vasos, rabiscar ofensas e grudar papel molhado no teto são meios de sinalizar a insatisfação e de mostrar que algo não vai bem. É importante fazer uma leitura analítica dessas manifestações e atuar para que as queixas que elas revelam sejam objetos de ações efetivas.

Engana-se o gestor que pensa que basta agir de forma coercitiva (aumentar a vigilância, controlar o uso do papel ou o acesso aos sanitários) para resolver a questão. O problema, contido e reprimido, será apenas deslocado e não demorará a reaparecer de forma mais intensa.

Se aquilo que não pode ser dito ou representado publicamente acaba exposto no banheiro, é preciso pensar em criar novas áreas em que a palavra possa circular e os alunos se manifestem e elaborem criticamente o que eles mesmos indicam que não pode ser silenciado.

Garantir na rotina dispositivos de comunicação e discussão, como conselhos e assembleias de classe, favorece a resolução desses conflitos. Desenhos e grafites produzidos pela turma podem ser expostos em murais. Além disso, os temas frequentes nas portas e paredes (como machismo, homofobia e racismo) e mesmo as atitudes agressivas ou a questão do uso de drogas devem ser problematizados em sala de aula, naturalmente com o apoio da equipe de professores.

Uma possibilidade é contextualizar nas aulas de História ou de Filosofia as origens, as formas e os meios de disseminação do preconceito em diferentes culturas, incluindo a nossa. Já a relação entre a violência e o consumo de drogas pode ser objeto de estudo de disciplinas como Biologia, Educação Física e Sociologia.

Temos muito a aprender com a leitura dos espaços da escola. Ela nos revela demandas educacionais e pode nos ajudar a construir um currículo com base no que os alunos precisam saber para se tornarem cidadãos capazes de reconhecer os seus sentimentos e pensamentos e os manifestarem de forma ética.