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Como organizar boas saídas pedagógicas

Trabalhos fora da escola abrem novas possibilidades de aprendizagem. Veja como a equipe gestora pode planejá-los

POR:
Aurélio Amaral
Aluno da EMEF Herbert José de Souza, de Alvorada, na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. Foto: Tamires Koop
Respirando arte Aluno da EMEF Herbert José de Souza, de Alvorada, na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre

Lugar de aprender não é apenas na escola. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) destacam a importância de os alunos conhecerem e valorizarem as características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais e de se perceberem integrantes e agentes transformadores do ambiente. Esses pontos podem ser trabalhados em aula, mas as atividades de campo permitem comparar e confrontar, no mundo real, os conteúdos estudados. "Na sala, fazemos uma leitura da realidade, como em uma filmagem, mas não estamos diretamente diante dela. A saída pedagógica abre espaço para uma observação pessoal da realidade sem recortes", explica Sueli Furlan, doutora em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.

Embora importantes, as saídas não são muito frequentes em escolas públicas, de acordo com Maria Cristina Dias do Nascimento, professora da Faculdade de Ciências Jurídicas Professor Alberto Deodato, em Belo Horizonte. Autora da dissertação de mestrado Viagens Escolares: Ampliação da Cultura, Aprendizagem e Sociabilidade, ela teve dificuldade em encontrar instituições em que essa atividade constasse do projeto político-pedagógico (PPP). Segundo ela, os principais motivos são a falta de verbas, a dificuldade de logística e o receio em se responsabilizar pelos alunos. Mas essas questões podem ser solucionadas com planejamento e o envolvimento da equipe gestora.

As saídas pedagógicas - diferentemente de passeios e excursões - fazem parte do conteúdo curricular e não podem deixar ninguém de fora. Em muitas redes, a cobrança de qualquer valor é proibida, pois contraria os princípios de igualdade de oportunidades e de gratuidade expressos pela Constituição e pela Lei de Diretrizes de Bases da Educação (LDB).

Soluções simples permitem que todos participem das atividades

A turma da EM Oswaldo Lima Filho, de Recife, caminha até o mangue para estudar Ciências. Foto: Cristiana Dias
Pertinho da escola A turma da EM Oswaldo Lima Filho, de Recife, caminha até o mangue para estudar Ciências

Para programar os trabalhos de campo, o primeiro passo é sugerir aos professores que façam uma boa pesquisa e procurem na internet e em guias de turismo e cultura informações detalhadas sobre destinos e eventos adequados ao currículo, ao projeto-político-pedagógico (PPP) e ao público atendido pela escola.

Vários museus e instituições culturais públicas e privadas de diferentes locais do Brasil recebem grupos gratuitamente e até oferecem ônibus para os alunos se a visita for agendada com antecedência. Fundações e empresas que organizam exposições e eventos temporários também costumam ser receptivos e alguns planejam ações que incluem monitoria especializada, orientação para os professores e transporte para atender às escolas. Vale consultar ainda as Secretarias de Educação, de cultura e de esporte do município e do estado para se informar sobre os projetos destinados a estudantes, além de considerar a possibilidade de negociar valores e de utilizar verbas definidas pelo Conselho Escolar para viabilizar as saídas.

Em Alvorada, na Grande Porto Alegre, a prefeitura oferece transporte gratuito para trajetos dentro do município desde que planejados com no mínimo 15 dias de antecedência. Uma vez por semestre, as unidades da rede têm um ônibus à disposição para saídas intermunicipais. Além das opções oferecidas pelo poder público, os gestores da EMEF Herbert José de Souza buscaram alternativas gratuitas para viabilizar outras atividades. A professora de Arte, Cecília da Silva Camilio, por exemplo, trabalhou com a turma do 6º ano os elementos formais da Arte - linhas, cores, texturas etc. - e organizou uma visita de observação com os alunos à Fundação Iberê Camargo, na capital. O museu - que, além do acervo do artista gaúcho, abriga exposições temporárias e realiza eventos ligados à arte contemporânea - oferece entrada gratuita e transporte para estudantes de instituições públicas.

É possível também organizar ações que dispensem grandes deslocamentos. Fique alerta, pois muitas vezes há opções de locais próximos que são perfeitos para trabalhos de campo. A EM Oswaldo Lima Filho, em Recife, por exemplo, aproveita a proximidade com um manguezal - localizado no Bairro do Pina, a apenas cinco minutos de caminhada da escola - para realizar aulas de Ciências com alunos da primeira etapa do Ensino Fundamental. Embora qualquer saída exija cuidados (leia dicas na página seguinte), passeios desse tipo prescindem de grande logística: não geram gastos com transporte, têm menos chance de extrapolar o tempo previsto e podem até dispensar alimentação das crianças no local, sendo portanto menos sujeitos a imprevistos. Esses fatores, segundo a diretora Ana Lúcia Ferreira, garantem a adesão total: "Como são atividades que fazem parte dos conteúdos regulares, é preciso que todos os alunos estejam presentes. E, nesses moldes, há menos resistência dos pais em autorizar a participação".

Para evitar o improviso, é preciso investir na organização

Estudante de Paisagismo de Pinhais: descobertas no Jardim Botânico, em Curitiba. Foto: Marcelo Almeida
Jardim sensorial Estudante de Paisagismo de Pinhais: descobertas no Jardim Botânico, em Curitiba

Qualquer que seja o projeto, cabe à equipe de coordenação pedagógica avaliar como a saída se encaixa no conteúdo curricular e colocar em discussão as opções de locais e de atividades. Nesse momento, é fundamental valorizar as iniciativas e sugestões dos professores e destacar as possíveis interações entre diversas áreas de estudo. O ideal é que a equipe docente apresente por escrito seus objetivos e indique como o tema será trabalhado para que as informações sobre o passeio sejam compartilhadas e discutidas com todos nas reuniões de formação.

De acordo com a pesquisa desenvolvida por Maria Cristina Dias do Nascimento, a adequação da visita ao planejamento pedagógico da escola é um pré-requisito para seu sucesso do ponto de vista da aprendizagem. "Quando a iniciativa é de um único professor, sem integração com o grupo, o resultado geralmente são ações improvisadas e desarticuladas dos conteúdos trabalhados em aula", diz Maria Cristina.

O Centro Estadual de Educação Profissional Newton Freire Maia, em Pinhais, na Grande Curitiba, oferece, além do ensino regular, formação profissional. Lá as atividades práticas são frequentes e valorizam muito as oportunidades de os alunos conhecerem de perto os exemplos que serão reproduzidos nas aulas. Andreia Vasconcelos Farias, professora de Paisagismo e Composição Estética, e Ana Paula Andrades, coordenadora pedagógica do curso de Paisagismo, promoveram logo no início do ano uma série de discussões para propor o projeto de um jardim sensorial que seria feito pelos alunos. A ideia consiste em desenvolver um ambiente paisagístico que, além da contemplação visual, tem como objetivo explorar a audição, o olfato, o tato e o paladar e pode ser especialmente interessante para alunos com deficiência.

Os alunos do 1º e do 2º ano do Ensino Médio da instituição estudaram em sala de aula as espécies vegetais que poderiam compor esse espaço diferenciado e analisaram a planta baixa do prédio para escolher o melhor local para a intervenção.

Faltava à classe, no entanto, a experiência de ver, tocar e sentir esse tipo de ambiente. Na visita ao jardim sensorial do Jardim Botânico de Curitiba, os estudantes deram uma volta com os olhos vendados e depois com a visão desimpedida. "A atenção que damos ao tato é totalmente diferente em cada situação", contou Guilherme Santil, aluno do 1º ano. Depois dessa vivência, a turma planejou que no futuro jardim da escola os visitantes poderão passear vendados e também descalços para ampliar sua percepção.

Constatada a relevância dessas saídas, além de garantir a adequação da atividade ao projeto político-pedagógico (PPP) da escola, a equipe gestora deve informar-se sobre os detalhes da visita e assumir a organização da saída, considerando os aspectos práticos envolvidos e compartilhando informações e responsabilidades com os professores.

Um planejamento cuidadoso é a melhor maneira de evitar imprevistos e garantir que a visita seja positiva para todo o grupo. De volta à escola, a turma vai disseminar o que aprendeu e fazer planos para outras "aventuras". Professores e gestores podem trabalhar juntos para que as saídas sejam frequentes e se tornem experiências reais de aprendizagem.

Bom passeio!
Veja o que a equipe gestora deve fazer para oferecer apoio ao grupo numa saída pedagógica

- Planejamento Solicite ao professor responsável informações sobre o local a ser visitado, o percurso, o trabalho que será realizado, a duração estimada, o número de participantes e o material necessário. Verifique os custos envolvidos e tome as providências para obter os recursos de que o grupo vai precisar.

- Equipe Além do professor responsável, que deve conhecer o local e participar de todo o planejamento, pelo menos mais um adulto deve acompanhar os estudantes. O recomendável é ter três responsáveis para cada 40 crianças ou adolescentes.

- Alimentação Antecipar a merenda é uma boa solução para atividades de curta duração. Se a permanência fora da escola for longa, oriente a equipe para optar por lanches fáceis de transportar. Certifique-se de que haverá um local para os estudantes comerem.

- Autorizações A autorização antecipada dos pais é obrigatória para toda saída da escola. No caso de atividades mais demoradas, deve-se incluir um campo para informações sobre eventuais alergias e medicamentos que o aluno utilize, além de telefones de contato. Anexe à autorização informações sobre a programação e os objetivos da atividade.

- Identificação É recomendável que a turma use o uniforme. Se não for possível, um crachá ou uma etiqueta com o nome do participante e da escola e um telefone para contato é uma boa alternativa.

- Transporte Verifique as condições do ônibus, confira se há cintos de segurança e lugar para todos e fale com o motorista, reforçando a responsabilidade do trabalho de transportar estudantes. Em trajetos a pé, se for preciso solicite a ajuda da guarda municipal.

- Documentação O professor responsável deve receber uma pasta com a lista de presença e as informações sobre medicamentos e alergias. Os alunos devem trazer uma cópia de um documento com foto e entregá-la ao professor. As autorizações ficam na escola.

- Roteiro Entregar aos estudantes um roteiro das atividades, com indicação de horários de saída e de reencontro, reforça o compromisso do grupo com o trabalho e com a pontualidade.

- Comunicação Peça ao docente responsável que telefone quando chegar ao local de destino e que ligue mais vezes durante o dia. Oriente-o para comunicar a escola imediatamente se houver qualquer imprevisto. O gestor fica responsável por manter os pais informados.

Quer saber mais?

CONTATOS
CEEP Newton Freire Maia, tel. (41) 3551-1554
EMEF Herbert José de Souza, tel. (51) 3447-3243
EM Oswaldo Lima Filho, tel. (81) 3355-3959

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