Ir ao conteúdo principal Ir ao menu Principal Ir ao menu de Guias
Notícias
5 4 3 2 1

Conheça 4 gestoras que transformaram a infraestrutura da escola

Elas apostaram na mudança e transformaram o espaço escolar com o apoio da comunidade, da rede de ensino e do poder público

POR:
Ocimara Balmant

Tudo em ordem o tempo todo

Maria Fernanda Martins Ferreira. Foto: Raonni Madallena
Maria Fernanda Martins Ferreira, diretora da EE Dona Brasília Castanho de Oliveira, que atende mil alunos do Ensino Médio e da segunda etapa do Fundamental em Guarulhos, Grande São Paulo.

"Quando me perguntam sobre que estratégia eu uso para garantir que a escola esteja sempre bem cuidada - sem lâmpadas queimadas, vidros quebrados e pichações -, respondo sem demora: 'Não é mágica nem influência política. É uma questão de saber o que precisa mudar e fazer um planejamento adequado ao orçamento'. Minha escola recebe proporcionalmente o mesmo recurso que outras unidades da rede de ensino. A diferença é a gestão financeira. Todo início de ano, organizo uma reunião com o corpo docente, funcionários e familiares da Associação de Pais e Mestres (APM) para discutir quais serão as prioridades orçamentárias. É a hora de definir se vamos reformar o refeitório, a quadra de esportes ou as salas de aula. Além do mais, sempre que surge uma nova demanda, nos reunimos para avaliar como atendê-la.

Os serviços de manutenção e conservação são pagos com os recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e com as verbas quadrimestrais enviadas pelo governo estadual. Também temos acesso a projetos específicos da Secretaria de Educação. Para pintar o prédio, por exemplo, usamos o Trato na Escola, que fornece a tinta e o material necessários para a pintura do prédio - a escolha da cor, no entanto, fica por nossa conta.

Como as decisões são tomadas coletivamente, todos se sentem corresponsáveis. Esse engajamento foi uma mudança de postura, que se reflete no dia a dia. Qualquer problema tem de ser resolvido o mais rápido possível, da falta de papel higiênico ao vazamento de água de uma torneira. Não é fácil manter a escola organizada. O ideal seria que o gestor recebesse capacitação específica para a gestão de recursos."

Gestão eficiente dos recursos

Planejamento
Definir quais são as prioridades de investimento é o primeiro passo para uma boa gestão financeira. Todos os anos, Maria Fernanda reúne o corpo docente, demais funcionários e membros da Associação de Pais e Mestres (APM) para discutir as demandas em relação à infraestrutura, como serviços e aquisição de materiais diversos. Juntos, eles estabelecem quais as resoluções mais urgentes.

Orçamento
Após elencar as necessidades, é hora de fazer a adequação ao recurso disponível. As verbas do Governo Federal e da rede de ensino estadual, à qual a escola está vinculada, são direcionadas a serviços de manutenção, como conserto de torneiras, válvulas de descarga e disjuntores, além de reparos na rede elétrica.

Acompanhamento
O uso diário das instalações físicas, dos equipamentos e do mobiliário exige cuidados de conservação constantes. No dia a dia, toda a comunidade fica alerta, mas cabe principalmente aos inspetores esse monitoramento. São eles que verificam se há luzes queimadas, torneiras com vazamento ou fios soltos ou desencapados.

Prestação de contas
Qualquer solicitação de serviço ou aquisição de material tem de ser registrada. Para tanto, a diretora guarda os documentos que comprovam a necessidade da obra ou do reparo, assim como os orçamentos levantados e as notas fiscais. As compras são feitas com cheques descontados diretamente da APM e o relatório dos gastos é apresentado à Secretaria de Educação, aos programas de financiamento federais com os quais realizou parceria e à comunidade.

Requisições
O que não cabe no orçamento ou não se enquadra como pequeno conserto deve ser requisitado à Secretaria de Educação. No ano passado, a diretora precisou acionar o governo estadual após fortes ventos destruírem parte do telhado. Além da reforma, a escola recebeu 80 carteiras novas para substituir o mobiliário quebrado.

Conscientização
Envolver a comunidade para discutir os investimentos é uma forma de fazer com que todos se sintam responsáveis pela manutenção da escola. O consumo de material de limpeza, por exemplo, diminuiu desde que os serventes entenderam como o uso exagerado inflava o orçamento. Os alunos também fazem sua parte - não picham muros, não quebram vidros nem desperdiçam papel higiênico.

Calçada literária incentiva a leitura

Carmen Senna Afonso. Foto: Gustavo Lourenção
Carmen Senna Afonso, diretora da EMEB Prof. Lellis do Amaral Campos, entre março de 2004 e julho de 2011, que atende 308 alunos da Educação Infantil ao Ensino Fundamental em Bebedouro, a 385 quilômetros de São Paulo.

"Como intervir sem magoar ou expressar qualquer tipo de preconceito? Essa era a pergunta que eu me fazia todos os dias quando assumi a direção e vi que a situação precária do prédio refletia o próprio bairro de periferia. Devido à falta de investimentos, a escola apresentava sinais de depredação - paredes pichadas, vidros quebrados e pátio sujo.

Após refletir, entendi que só mudaria aquele cenário se incluísse toda a comunidade, principalmente os pais. Minha primeira ideia foi oferecer um café da manhã para conhecê-los e expor meu plano de transformar aquele espaço com a participação de todos. Deu certo. Consegui, inclusive, empregar alguns deles para cuidar de serviços de limpeza e jardinagem.

Ao mesmo tempo, busquei apoio de comerciantes locais. Pintamos o prédio com tintas doadas por uma loja, montamos o parque com os brinquedos cedidos por um espaço de festas e equipamos o refeitório com talheres doados por outra escola da região.

Com a casa em ordem, expandimos o espaço pedagógico. Os pais trabalharam para transformar o terreno baldio próximo em praça ecológica e o muro da indústria do outro lado da rua virou tela para o grafite feito pelos nossos estudantes. Na frente da pintura, colocamos mesas e cadeiras - nascia assim a calçada literária. Com as mudanças, passamos a ser a referência cultural do bairro. Foi pelo telão instalado na praça que todos assistiram aos jogos da Copa do Mundo em 2010. Até festas de casamento e de aniversário de 15 anos já foram feitas no pátio. Mas o maior benefício foi mesmo para a Educação. As leituras na calçada mudaram a relação das crianças com os livros. Muitas delas tinham dificuldade de alfabetização e hoje escrevem poesias e letras de músicas com temática social."

Fortalecimento do vínculo com a comunidade

Diagnóstico 
A análise da realidade de cada espaço ajuda a sinalizar a melhor forma de atuação. Após um ano de observação e experiência na direção, Carmen entendeu que a infraestrutura da escola só seria valorizada e conservada se a reforma tivesse a participação da comunidade.

Parcerias 
Para conseguir a aproximação dos pais e falar das propostas de melhorias, a diretora promoveu eventos, como um café da manhã. Ela também conseguiu, por meio de um programa de empregabilidade do município, que alguns deles se tornassem profissionais assalariados da escola, cuidando da limpeza e jardinagem. Ao mesmo tempo, a equipe gestora fez contato com comerciantes locais - uma loja de tintas doou latas sobressalentes para a pintura do prédio e um espaço de festas infantis repassou brinquedos em desuso.

Iniciativas 
O engajamento da sociedade trouxe benefícios para além dos muros da escola. Os alunos produziram um trabalho de grafite na fachada do estabelecimento em frente ao colégio. A calçada ganhou mesas e cadeiras para as oficinas literárias, tornando-se também um ponto de encontro cultural dos moradores. Um terreno baldio se transformou numa praça ecológica, com bancada construída com garrafa PET. No local, os estudantes participam de aulas de circo, música, dança e teatro.

Reflexos 
Bons exemplos inspiram mudanças. Hoje é possível perceber no bairro atitudes ambientalmente responsáveis, como a coleta seletiva de lixo e a separação do óleo de cozinha utilizado. Até o colorido da pintura que muitas casas da vizinhança ganharam é fruto das transformações ocorridas. Na escola, os familiares participam em atividades diversas, como a colaboração na costura de roupas para a apresentação de Carnaval.

Aprendizagem 
Com as melhorias de infraestrutura e o envolvimento da comunidade, a escola realizou adequações de espaço, material e pessoal para implantar a Educação de tempo integral. Desde 2008, a carga horária foi ampliada para sete horas para aumentar a oferta de atividades curriculares e de lazer.

Salas de aula funcionam na quadra de esportes

Adriana Kampa. Foto: Marcelo Almeida
Adriana Kampa, diretora do Colégio Estadual Yvone Pimentel, que atende 1,2 mil alunos de Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Curitiba.

"O desafio de batalhar pela transformação daquele espaço foi o que me motivou a dar uma pausa ao ensino para assumir a direção. Era o ano de 2009 e as instalações físicas apresentavam muitos problemas: as salas eram mal iluminadas e sem ventilação adequada e a fiação era muito antiga, dando margem para um acidente. Sem falar no caso de uma viga que cedeu e corria o risco de desabar.

Nos dias de chuva, a situação piorava. Havia goteiras por todos os lados. Os computadores precisavam ser virados de ponta cabeça depois da chuva para escorrer a água. O cheiro de mofo no assoalho molhado provocava doenças respiratórias nos alunos. Como a acústica era ruim, ninguém se ouvia e isso facilitava a dispersão dos alunos durante a aula. Estávamos num local que, além de ter grandes chances de acidentes, não facilitava o aprendizado.

Por isso, minha primeira providência foi pedir a realização de uma vistoria técnica. O resultado foi rápido: o prédio deveria ser demolido. Avisamos a Secretaria de Educação do estado e cobramos por uma resposta. Demorou muito. Foram três anos de luta intensa até conseguir, em março, transferir as aulas para um lugar seguro.

Nessa batalha, foi preciso mobilizar o poder público, os alunos e a família. Acionamos o Ministério Público, entregando a eles um dossiê completo: laudo das vistorias, fotos e vídeos das goteiras e uma lista com todas as ligações telefônicas com a data, a hora e o nome do interlocutor. Até carta para o governador, nós mandamos. Ao mesmo tempo, instituímos uma comissão de pais e continuamos cobrando por meio de um abaixo-assinado, manifestações e visitas à Secretaria. Houve até uma proposta de mudança para um prédio alugado, mas não conseguimos um adequado na região e os pais tiveram receio de os filhos terem de estudar longe de casa.

Finalmente, em 2011, conseguimos uma solução temporária. A rede estadual adaptou a quadra de esportes e a transformou em 15 salas de aula. Neste ano, faremos desse ginásio a nossa escola. Enquanto isso, o prédio oficial será reformado e ampliado - ele não pode ser destruído porque se encontra em área de preservação ambiental (APA). Mas continuo de olho no cronograma. Em 2013, queremos estar de casa nova e definitiva."

Mobilização do poder público

Comunicação
Numa situação de risco, é importante comunicar a Secretaria de Educação sobre os problemas. Ao assumir a direção, Adriana enviou um relatório com fotos que mostravam a condição precária da escola: goteiras, piso danificado e fiação antiga. Vistorias do Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Obras determinaram a demolição do prédio.

Dossiê 
Documentar todo o processo facilita a cobrança pelos resultados. Ao perceber que, apesar da ordem de demolição, nenhuma providência seria tomada, a diretora informou aos pais sobre o perigo a que seus filhos estavam expostos e acionou o Ministério Público. Ela entregou ao órgão um dossiê com todos os contatos telefônicos, e-mails e requisições, além de fotos e vídeos.

Pressão 
Quando todos estão mobilizados, cresce a chance de sensibilizar a opinião pública. Além de reuniões frequentes com as famílias, houve uma vez em que os alunos foram dispensados das aulas e, acompanhados dos pais, fizeram vigília na escola durante o dia. A ação culminou numa assembleia popular à noite.

Resposta 
Diante da cobrança da comunidade e do Ministério Público, o secretário de Educação visitou o espaço e a reforma foi enfim anunciada. O prédio não será demolido, pois está em área de preservação ambiental, mas, durante todo este ano, será restaurado e ampliado.

Adaptação 
Enquanto isso, os alunos terão aula na quadra poliesportiva. Divisórias de gesso a transformaram num espaço de 15 salas de aula, com projeto arquitetônico que leva em conta a ventilação e a iluminação adequadas. A obra na escola deve ser entregue no início do próximo ano letivo.

Casa de professora vira escola provisória

Marileide Cahuas. Foto: Danny Yin
Marileide Cahuas é diretora da Escola Municipal São João do Tupé, na região ribeirinha de Manaus, que atende 65 alunos de Educação Infantil e Ensino Fundamental em salas multisseriadas.

"A história de nossa escola ribeirinha pode ser contada em três atos: o antes era ruim, o agora está angustiante, mas o depois promete ser muito bom. É com essa esperança que atravesso o rio Negro no início de semana para encontrar 65 alunos ansiosos para ter um ambiente com salas de aula iluminadas, laboratório de informática e telhado novo.

Se considerarmos o calor intenso durante o ano todo e a temporada de seis meses de chuvas ininterruptas na Amazônia, dá para imaginar o sufoco de conviver com goteiras, telhas de zinco e quebras frequentes do gerador de energia. Era esse o cenário quando me tornei diretora, em 2010.

Solicitei a reforma, ciente de que uma escola ribeirinha tem tantas particularidades que era preciso que eu atuasse em todo o processo. Por isso, fiz um planejamento e apresentei um relatório minucioso, no qual, além da construção das salas, expus a necessidade de construir um novo poço de água e um alojamento confortável para os professores itinerantes. Essa questão da acolhida é essencial. Sem hospedagem apropriada, os docentes acabam desistindo do trabalho e os alunos, que viajam 40 minutos de lancha para chegar à escola, correm o risco de não ter quem dê aula a eles.

A obra teve início em abril de 2011 e, com ela, surgiu outro problema: onde a escola funcionaria durante esse período? Para que os estudantes não perdessem todo o ano letivo, uma das professoras emprestou sua casa. No espaço de lazer, com cobertura de palha, funcionam as aulas do 5º ao 9º ano. Ao lado, em uma estrutura com telhado de zinco, ficam os alunos da Educação Infantil e das primeiras séries do Ensino Fundamental.

Está tudo bem improvisado, mas foi a única forma de garantir a continuidade do ensino. Se os prazos de entrega forem obedecidos, ainda em abril vamos nos mudar para as novas instalações. O próximo passo é construir uma quadra de esportes, uma biblioteca, uma cozinha e um refeitório. Entrarão no planejamento de 2013."

Atuação conjunta com a rede de ensino

Retrato
Em 2010, a escola funcionava em uma estrutura precária de madeira. No longo período de chuvas da Amazônia (cerca de seis meses ao ano), era comum o gerador elétrico quebrar e os alunos, depois de viajarem 40 minutos de lancha, serem dispensados por causa das goteiras. Sem alojamento organizado, a rotatividade dos professores itinerantes também era grande. Havia épocas em que a unidade ficava sem docente.

Solicitação
Assim que assumiu, Marileide colocou a reforma do prédio como ação prioritária. Ciente das particularidades da situação, ela fez um planejamento detalhado da obra à Secretaria Municipal de Educação, com destaque para o telhado, o alojamento dos professores e o laboratório de informática com gerador próprio.

Adaptação
As obras foram aprovadas e começaram em abril de 2011. Enquanto isso, os alunos estudam na propriedade de uma das professoras. Ela cedeu um galpão e uma estrutura de teto de palha para as aulas e hospeda em sua casa os professores itinerantes. Eles dividem o único cômodo da residência com ela e sua família.

Reforma
A obra está pronta e a inauguração será em breve, assim que a rede hidráulica e o novo gerador estiverem instalados. A estrutura original do prédio foi mantida, porém a reconstrução utilizou madeira de área de manejo. Outros dois ambientes de alvenaria abrigam o laboratório de informática e os alojamentos dos professores.

Pendências
Ainda há muito o que fazer para que a escola ribeirinha fique apropriada. No planejamento de 2012, Marileide irá relatar a necessidade de construir uma cozinha e um refeitório, uma biblioteca e uma quadra para a prática de esportes. Hoje, as aulas de Educação Física acontecem em um campo de areia da comunidade.