Quer um conselho? Forme um
Como ter um colegiado presente e atuante com representantes de todos os segmentos da escola
POR: Noêmia LopesQuando se fala em conselho escolar, é comum ouvir relatos de que esse colegiado se limita a validar documentos e pouco se envolve na tomada de decisões - e, muitas vezes, existe somente no papel. Tais queixas vão na direção oposta ao que deve ser um bom conselho: um órgão que conta com representantes de todos os segmentos - professores, funcionários, alunos, pais e membros da comunidade - e tem como objetivo contribuir para a gestão administrativa, financeira e pedagógica da escola. "Ao promover o envolvimento coletivo no cuidado e nas ações necessárias para a criação de um ambiente favorável à formação e à aprendizagem, a escola conquista uma gestão democrática e pedagógica de boa qualidade", afirma Heloísa Lück, diretora educacional do Centro de Desenvolvimento Humano Aplicado (Cedhap), em Curitiba (leia exemplos de conselhos que colaboram para o bom funcionamento escolar nos quadros desta reportagem).
Mas o que faz essa participação ser realmente significativa? O mais comum é que esse grupo atue como fiscal financeiro, acompanhando a movimentação de recursos e a documentação. Esse é, de fato, um de seus papéis. Contudo, não é o único - e restringir a atuação dele a esse tópico é um engano (leia mais equívocos no quadro abaixo). O conselho precisa de apoio e autoridade para desempenhar plenamente as suas quatro funções:
- Deliberativa Tomar decisões a respeito do projeto político-pedagógico (PPP), ajudando a definir a missão da escola e estabelecendo prioridades em termos de recursos físicos e humanos; elaborar as normas internas de funcionamento administrativo, financeiro e pedagógico; aprovar encaminhamentos de problemas; e assegurar o cumprimento das normas.
- Consultiva Analisar as demandas de todos os segmentos da comunidade escolar e propor ideias que, nesse caso, podem ou não ser aceitas pelos gestores.
- Fiscal Acompanhar as ações administrativas, financeiras e pedagógicas, observando se estão de acordo com as normas acordadas e as leis em vigor e se contribuem com a qualidade educacional e social de alunos, professores, pais e funcionários.
- Mobilizadora Promover a participação dos diferentes segmentos da comunidade em atividades que contribuam para consolidar a gestão participativa.
Para incentivar a implantação de colegiados atuantes, a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC) criou o Programa Nacional de Fortalecimento de Conselhos Escolares. Há cursos presenciais para conselheiros e à distância para técnicos das Secretarias de Educação. "De tempos em tempos, novos conselheiros são eleitos e precisam de formação para conhecer seus papéis e desempenhá-los bem", diz Maria Luiza Martins Alessio, diretora de apoio à gestão educacional da SEB. A criação desse colegiado não é regulamentada, mas o governo federal determinou um repasse de transferências extras às prefeituras que implantarem normas específicas para o seu funcionamento.
Os erros mais comuns
Evite as situações que podem comprometer o bom funcionamento do conselho:
- Formar o grupo sem promover debates A eleição é um processo democrático que exige discussão, voto único e apuração transparente.
- Permitir que os membros ajam como se tivessem autoridade especial na escola O colegiado só existe quando está reunido e todas as decisões são tomadas coletivamente.
- Não dar voz a opiniões contrárias às da maioria do grupo Todos têm o direito de se expressar e colocar novas ideias em votação.
- Considerar que o colegiado ameaça a autoridade dos gestores A participação deles só tem a contribuir para o aprendizado.
- Não incluir os suplentes nas discussões Se estimulados a participar, eles estarão aptos a exercer o direito de voto caso o titular falte.
Transparência e democracia na escolha dos integrantes
Um conselho escolar deve ser composto de presidente, conselheiros e suplentes. Muitas vezes, o diretor ocupa a presidência, ficando responsável pela convocação de reuniões e a divulgação da pauta. Porém isso não é regra: é possível que o próprio colegiado defina critérios diferentes para distribuir funções. "O gestor já é membro permanente. Ao não ocupar o cargo principal, ele dá mais espaço ao aparecimento de novos líderes", defende Maria Cecília Luiz, professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e coordenadora do curso à distância em Conselhos Escolares, promovido pela instituição em parceria com o MEC.
Os conselheiros e suplentes são os representantes dos vários grupos que compõem a comunidade. O número de integrantes é estabelecido no regimento interno, respeitando a proporcionalidade de cada segmento e as diretrizes da rede de ensino. Em qualquer caso, o total de participantes deve ser ímpar para que não haja empate nas votações. Há estados e municípios que definem 50% das vagas para alunos e pais e 50% para educadores e servidores. A recomendação do MEC é que todos sejam escolhidos por eleições diretas. "Cabe à rede definir uma mesma data para a eleição em todas as escolas para que a prefeitura possa divulgar o evento, estimulando a participação dos eleitores", sugere Maria Luiza, da SEB.
Depois que pais e moradores do entorno se candidatam - ou são convidados pelos gestores a se candidatar é preciso promover a apresentação de propostas à comunidade, o que pode acontecer em debates abertos ao público na própria escola, nos murais da entrada ou dos corredores da instituição ou no corpo a corpo com o eleitor. Por último, a eleição deve acontecer por voto secreto ou por aclamação em assembleias que tenham representatividade.
Necessidades da escola e da comunidade em pauta
Para cumprir suas funções integralmente, é essencial que o conselho se reúna com regularidade. Em geral, os encontros são mensais, em horário adequado para a maioria dos membros. Os conselheiros devem conhecer os assuntos que serão discutidos com antecedência (podem ser definidos no encontro anterior ou informados por comunicado pelo presidente dias antes da reunião). Com a pauta em mãos, cada um tem por obrigação informar os temas ao segmento que representa e coletar sugestões a serem levadas ao colegiado. Tudo o que for debatido e votado deve ser registrado em atas, assinadas por todos os presentes e divulgadas para a comunidade.
Para conselhos recém-formados, a primeira questão a ser introduzida é o regimento interno do próprio colegiado a fim de estabelecer o calendário de reuniões, as regras para a substituição de conselheiros e as condições de participação dos suplentes. O passo seguinte é a análise do PPP para sugerir mudanças e acompanhar sua implantação. A partir daí, entram em cena temas como regimento escolar, currículo, calendário letivo, ações de valorização da cultura local, indicadores educacionais (evasão, aprovação, reprovação e distorção idade-série), formação dos conselheiros e aplicação de recursos financeiros.
Deliberar, assessorar e fiscalizar em prol das demandas da escola e da comunidade dá bastante trabalho. Uma boa dica é o conselho montar subgrupos e dividir tarefas. Cada um tem de ter um plano de ação definido coletivamente. Como aponta Maria Luiza, da SEB, "sem dúvida, é uma tarefa desafiadora para todos. Mas o gestor que investe nos conselhos descobre um grande aliado".
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CONTATOS
EIEF Odete Barroso, tel. (88) 3695-8114
EMEF Professor Anísio Teixeira, tel. (51) 3264-1540
EMEI Cecap, tel. (12) 3952-7780
EMEIEF Professora Mariângela Ferreira Aranda Fuzetto, tel. (11) 4453-8513
Heloísa Lück
Maria Cecília Luiz
Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, tel. (61) 2022-8355
BIBLIOGRAFIA
Concepções e Processos Democráticos de Gestão Educacional, Heloísa Lück, 136 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2233-9000, 19,70 reais
NA INTERNET
Disponível para download o material produzido para o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares.