Tecnologia: soluções virtuais para problemas concretos
Feira em Londres mostra como a inovação tecnológica pode melhorar a aprendizagem, avaliar os resultados e promover a interação
POR: Paola Gentile, GESTÃO ESCOLARSistemas de avaliação que registram imediatamente as respostas dos alunos e as organizam em gráficos e tabelas. Lousas e mesas interativas, com acesso à internet. Mesa para autistas produzirem animações. Jogos e desenhos em 3D, com conteúdos de todas as disciplinas. Para descrever todas as novidades exibidas nos 700 estandes da 28ª British Education Training and Tecnology (Bett Show), que aconteceu em Londres entre os dias 11 e 14 de janeiro, precisaríamos de um catálogo com centenas de páginas. O London Olympia Exhibition Centre - pavilhão de estilo vitoriano de 35 mil metros quadrados -, recebeu este ano cerca de 30 mil visitantes e mostrou, em cada canto, como os avanços tecnológicos servem cada vez mais à Educação.
Uma programação inteiramente dedicada aos líderes mostrou - além dos equipamentos e programas para facilitar a administração financeira e fazer o controle da entrada e saída de funcionários e alunos - as soluções que várias escolas do Reino Unido e de outros países estão buscando para problemas da gestão da aprendizagem, do espaço e da comunidade e nas áreas de avaliação e inclusão.
Gestão da aprendizagem
Ênfase na interação
"Crianças e adultos gostam de aprender explorando, experimentando, lendo e interagindo com outras pessoas. A tecnologia oferece todas essas possibilidades", afirmou Miles Berry, especialista em tecnologia da Educação da Universidade de Roehampton. A lousa e a mesa interativas facilitam o compartilhamento de informações entre alunos e entre eles e o professor. Emma Chandler, que leciona Estudos Sociais na Emerson Park School, em Essex, condado a sudeste do Reino Unido, contou como coordenou a produção de um texto para o jornal da escola enviando e recebendo mensagens pelo Twitter - recurso, aliás, que ela utiliza três ou quatro vezes durante a aula para lembrar a turma sobre a programação do dia e sugerir que sigam algum especialista da disciplina. Na WestField Junior School, em Yateley Hampshire, ao sul do país, atividades de pesquisa preveem entrevistas pelo Skype - ferramenta também usada para que os alunos ensinem os colegas (estudantes da escola exibiram durante a feira uma explicação feita por um deles sobre como resolver contas de multiplicação por decomposição, usando animação e voz via internet).
Gestão do espaço
Fim das barreiras físicas e tecnológicas
Darren Murphy, consultor de tecnologia educacional da Hall School, em Londres, disse que a escola do futuro terá um computador por aluno, com telas que respondem ao toque para facilitar o manuseio e a inclusão, posicionadas de forma que todos possam ver e serem vistos - inclusive o professor - e um sistema de administração de atividades de comunidades online, como o Moodle (sigla de Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment). Mas isso não é tudo. O espaço físico precisa abrigar não somente os equipamentos mas também uma maneira de ensinar que privilegie a autonomia dos jovens. "Temos escolas com ambientes para até 120 alunos chamados de base de aprendizagem", contou John Sibbald, da Manchester Communication Academy. Enquanto grupos de diversos níveis desenvolvem diferentes tarefas, os professores das várias áreas dão orientações. As vantagens do espaço aberto: otimização do uso da tecnologia, colaboração entre alunos e entre professores, trabalho multidisciplinar e inclusão.
Gestão da comunidade: reunião de pais em ambiente virtual
A Featherstone High School, na periferia de Londres, tem 77% de alunos que não têm o inglês como primeira língua. São 41% indianos, 21% somalis e 15% paquistaneses. A relação com os pais dos jovens mudou quando a escola começou a usar o site da instituição para se comunicar com eles. Os gestores criaram um ambiente virtual amigável com vídeos nos diversos idiomas falados na comunidade. A família pode acessar as notas e as avaliações descritivas feitas pelo professor. "Não queremos apenas jogar os números no ar, mas criar uma cultura de acompanhamento da aprendizagem", afirma Neil Bradford, um dos gestores da escola. Usando uma ferramenta de bate-papo online, os pais que não podem ir às reuniões conversam com o orientador educacional. Pesquisa feita com as famílias indica: 98% dos pais têm no fato de serem permanentemente informados sobre o progresso dos filhos o fator de maior satisfação com a escola.
Avaliação
Rapidez nas tomadas de decisão
O professor faz uma pergunta e disponibiliza as opções de resposta em itens. Para participar, basta que os alunos cliquem na tecla correspondente de um dispositivo móvel e os resultados apareçam na tela do computador do educador (outra versão permite o uso de qualquer aparelho com acesso à internet). Um programa organiza as informações em gráficos e tabelas, dando subsídios ao replanejamento da aula. Claro que uma avaliação completa não se sustenta somente com essa ferramenta. O olhar atento do professor e o resultado de outras avaliações devem ser registrados - como acontece na Featherstone High School. Assim, os gestores têm acesso imediato às informações por aluno, turma, segmento e disciplina e podem cruzar os dados. Fica mais fácil decidir se é preciso formar grupos de reforço, providenciar a formação de professores em determinado conteúdo, planejar projetos institucionais de valorização da diversidade e atividades extracurriculares para corrigir distorções tão logo elas aparecem.
Inclusão: tecnologia a serviço de todos
É na área de atendimento às necessidades especiais de aprendizagem que a tecnologia mostra toda a sua potencialidade. No espaço Special Educational Needs (SEN), da Bett, vimos monitores gigantes em que crianças com baixa visão ou dificuldades motoras desenvolvem as atividades criadas pelo professor por meio do toque; mesa de animação para autistas, que nela produzem vídeos posteriormente compartilhados com os colegas em um telão; programas que usam o som e o movimento do corpo - também para autistas - estimulam a comunicação e a aprendizagem; canetas que escrevem e leem textos e os arquivam em forma de nota e áudio para os disléxicos, entre muitos outros. Para Arran Smith, coordenador da British Dyslexia Association (BDA), tecnologias muito mais simples ajudam na inclusão - como o celular e os diversos programas gratuitos disponíveis: "Basta que os professores aceitem e saibam orientar os estudantes a usá-los bem". Essas tecnologias ainda não estão nas escolas brasileiras - assim como não chegaram a todas as escolas inglesas, norte-americanas ou de outros países. Mas é um caminho sem volta e, para isso, todos temos de estar preparados - professores e gestores. Os alunos, sem dúvida, já estão!