Comunicação inclusiva para atender alunos com diversos tipos de deficiência
Mais do que adaptações estruturais, escolas buscam estratégias de comunicação para todos
POR: Aurélio AmaralAs letras do cartaz colado na parede do pátio da EM Noronha Santos, em Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, podem, a princípio, parecer exageradas. Contudo, não fosse a preocupação das equipes gestora e docente em escrever sempre em tamanho grande, talvez Cleiton Santana, aluno do 2º ano, não conseguisse ler o texto produzido por ele e seus colegas em sala de aula. O garoto, de 7 anos, não enxerga com o olho esquerdo e o direito tem apenas 30% de visão. No laboratório de informática, com a ajuda de uma lupa eletrônica, livros didáticos e de literatura são projetados na parede, em proporção até 40 vezes maior do que o original. Além de provas e textos usados em aula, também são impressos em versão ampliada os comunicados e as circulares, de modo a garantir o acesso a todas as informações que a escola passa à comunidade. "Não queremos correr o risco de um aluno deixar de aprender um conteúdo ou de dar um recado aos pais porque teve vergonha de dizer que não conseguia ler", diz Leonam Marques, diretora da escola.
A inclusão de alunos com deficiências físicas na rede pública de ensino está crescendo. Cerca de 83% dos municípios brasileiros têm pelo menos uma escola com sala de recursos multifuncionais. Segundo o Ministério da Educação (MEC), são 24 mil salas preparadas para deficiências física, intelectual e auditiva e 881 equipadas para receber crianças com deficiência visual. Até o meio do ano, havia 12 mil solicitações de escolas que também querem ter espaço próprio para atender os alunos com necessidades educacionais especiais. As unidades contempladas com esses equipamentos participam do programa Escola Acessível, do MEC, que oferece formação aos docentes a fim de que aprendam a usar o material e a adaptar as atividades para todos os alunos.
A inclusão, no entanto, nem sempre vai além de algumas adaptações estruturais. "As escolas se esquecem de que as necessidades educacionais ultrapassam a sala de aula e incluem também a comunicação no dia a dia", afirma Claudia Werneck, superintendente da Escola de Gente, organização que promove projetos de comunicação inclusiva. A EM Noronha Santos tem, além de Cleiton, outros 14 alunos com deficiência - entre elas, autismo, síndrome de Down e deficiência física. João Victor Pessanha, do 2º ano, usa cadeira de rodas e teria dificuldades para ler as mensagens e os trabalhos pendurados na parede não fosse a ideia da equipe gestora de posicionar os murais e as produções a 1 metro do chão. "Assim as crianças percebem que a escola toma medidas para incluí-las", conta Leonan. Embora não atenda a nenhum estudante cego, ela já dispõe de materiais de leitura feitos com colagens e texturas, o que facilita a comunicação com crianças que não dominam o braille. Tudo foi elaborado pelos professores da rede depois de um curso de capacitação dado por uma formadora da Secretaria de Educação do município.
A EM Ernani Moreira Franco, também em Niterói, envolveu a comunidade escolar para estimular a expressão dos alunos com deficiência auditiva. Além de duas professoras que ensinam a Língua Brasileira de Sinais (Libras), os estudantes surdos contam com a intérprete Priscila Ramos, o que facilita o diálogo com os outros alunos. A diretora, Angélica Borges Gomes, pediu que todos os funcionários aprendessem Libras: "As merendeiras conhecem algumas palavras e, quando é preciso, Priscila ajuda a explicar o cardápio do dia".
A preocupação em valorizar a língua dos estudantes surdos é percebida também nas paredes da escola. Indicações em Libras aparecem ao lado de palavras da língua portuguesa e todos os avisos escritos são traduzidos para os que não dominam a leitura.
Para que a escola assuma uma postura inclusiva, o ideal é que as alternativas de comunicação se estendam também aos pais. Para tanto, vale fazer uma pesquisa para saber se algum responsável tem algum tipo de deficiência. Esse estudo pode ser feito por meio de visitas à casa dos estudantes, com o apoio de um intérprete de Libras, para entrevistar as famílias, ou por questionários que tenham formatos acessíveis. "Não adianta buscar a inclusão apenas do aluno se sabemos que a família desempenha um papel importante na formação do filho e precisa acompanhar os processos de ensino e aprendizagem", diz Claudia Werneck.
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