Projeto de formação ajuda escola a focar a Alfabetização
Programa de Intervenção Pedagógica (PIP), de Minas Gerais, une a avaliação à capacitação de professores
POR: Fernanda KalenaEm 2006, o estado de Minas Gerais se deparou com um grande problema no ensino público: somente 48,6% das crianças do 3º ano do Ensino Fundamental estavam alfabetizadas. E nas classes de 1º e 2º anos era comum encontrar estudantes mais velhos em defasagem idade/série justamente por não terem conseguido atingir as expectativas de aprendizagem ao longo dos anos.
Com o intuito de reverter esse quadro, o sistema estadual criou, em 2007, um projeto para formar professores e gestores. O objetivo era capacitá-los para ter todos os alunos de até 8 anos sabendo ler e escrever no final do 2º ano. É o Programa de Intervenção Pedagógica (PIP). Inicialmente dirigido às escolas da região norte de Minas, foi ampliado para todo o estado no ano seguinte ao seu lançamento. O grande trunfo da iniciativa é usar os resultados de uma avaliação externa própria da rede, o Programa de Avaliação da Alfabetização (Proalfa), como base para decidir políticas públicas de formação de gestores e professores e de atendimento às escolas.
O funcionamento do PIP envolve diversos profissionais da Secretaria de Educação (veja infográfico). Depois da prova anual do Proalfa - realizada em parceria com o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) -, que detecta o nível de alfabetização das crianças do 3º ano, as notas são sistematizadas e avaliadas por uma equipe de especialistas. No momento de análise, a preocupação dos técnicos é detectar as necessidades de aprendizagem em letramento para formular as intervenções necessárias nas escolas. Os resultados e as orientações são organizados em forma de guias e cadernos com sugestões de práticas de gestão e de sala de aula, baseadas em experiências bem-sucedidas já implementadas em outras unidades da rede.
Para o diretor, o Caderno de Boas Práticas traz temas como liderança organizacional e gestão participativa, práticas eficazes de ensino e de capacitação profissional, acompanhamento dos resultados individuais dos alunos, formação de professores e instrumentos de inclusão dos pais no aprendizado dos filhos. Já o guia do professor alfabetizador vem com conteúdos como planejamento das aulas, avaliação da aprendizagem e desenvolvimento profissional, entre outros.
As primeiras intervenções da Secretaria são feitas nas chamadas escolas estratégicas - aquelas com baixo rendimento no Proalfa. Essas instituições recebem visitas regulares de supervisores, responsáveis por acompanhar e orientar o trabalho docente, fazendo inclusive a observação de sala de aula. "O foco é detectar o que os professores precisam aprender para melhorar o aprendizado da turma", explica Maria das Graças Bittencourt, superintendente de Educação Infantil e do Ensino Fundamental da Secretaria de Estado de Educação. Além das devolutivas individuais aos educadores, essas visitas servem de subsídio para definir os temas que serão abordados nas oficinas de capacitação para os coordenadores pedagógicos e para os professores. "Nosso trabalho alia a teoria com a prática e direciona o aprendizado para o trabalho pedagógico", afirma Maria das Graças.
Aulas de reforço dão segurança e contribuem para o desempenho do aluno
Embora recebam orientações gerais, as escolas têm autonomia para decidir, dentro de um amplo cardápio montado pelos supervisores, que propostas serão implementadas. As aulas de reforço estão entre as ações recomendadas e foram adotadas na EE Osório de Morais, em Coromandel, a 537 quilômetros de Belo Horizonte. "Esse trabalho coloca o aluno em contato com o conteúdo por mais tempo. Assim ele consegue acompanhar o que é ensinado em sala", conta Janaína Junqueira Valasse, coordenadora pedagógica. O reagrupamento dos alunos de uma mesma turma, segundo o grau de dificuldade, é outra prática recomendada. A diretora da EE Tiradentes, Sueli Alves, conta que, no início, alguns educadores resistiram à proposta: "Contudo, ao ver os resultados, todos foram se engajando".
Em 2010, 86,2% dos alunos do 3º ano estavam plenamente alfabetizados. O PIP foi ampliado para o 4° e o 5° ano. Atualmente, abrange 2.343 escolas e 524 mil crianças entre 6 e 10 anos. Em 2012, ele deverá incluir também os anos finais do Fundamental.
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Mais informações sobre o Programa de Intervenção Pedagógica, da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais.