Coordenação em foco
Clareza da função e bom uso de estratégias de capacitação são destaque da Gestora Nota 10
POR: Verônica FraidenraichCoordenar a formação de professores de uma escola é uma tarefa de grande responsabilidade. Antes de mais nada, o educador que assume essa função deve ter claro o seu papel de orientador dos docentes nos processos de ensino e de aprendizagem. Ele também precisa ter conhecimento didático e promover estratégias que permitam avaliar as práticas desenvolvidas em sala de aula e incentivar que os alunos avancem cada vez mais.
É assim que trabalha Maria Inês Miqueleto, coordenadora pedagógica do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental da EE Professora Maria Aparecida dos Santos Oliveira, em Ibitinga, a 370 quilômetros de São Paulo. Pelo projeto Instrumentos de Acompanhamento das Aprendizagens dos Alunos - uma série de atividades permanentes de formação que ela desenvolve desde 2010 -, ela recebeu o título de Gestora Nota 10 do Prêmio Victor Civita deste ano.
No cargo desde 2008 - antes foi vice-diretora -, ela desenvolveu uma rotina de ação baseada na formação em serviço, no acompanhamento da aprendizagem e na avaliação permanente da atividade docente. Seu material de trabalho são a observação da prática docente e os registros de sala de aula, com a produção dos alunos e as atividades dos professores. Dessa maneira, Maria Inês identifica os conteúdos que devem ser aprofundados nos encontros formativos. "Preciso garantir que as reuniões pedagógicas sejam, de fato, momentos de estudo e de troca de experiências", afirma. Para que isso aconteça, ela prepara os encontros com antecedência e estuda em profundidade as didáticas específicas de cada área. E principalmente delega a outros profissionais da escola tarefas que não são de sua responsabilidade.
Para conseguir evitar os desvios de função e manter o foco no aprimoramento do trabalho, é preciso ter o apoio da direção. E isso Maria Inês tem de sobra. "Vale a pena investir na capacitação docente, pois os resultados na aprendizagem são enormes", comenta Cleuza Maria Estronioli de Castro, diretora da escola, que já foi coordenadora e reconhece a importância da função. Ela garante que a educadora tenha o espaço, o tempo e o material necessários para promover os grupos de estudo. Ao menos uma vez por semana, toda a equipe gestora - formada pela diretora, pela vice e pelas duas coordenadoras pedagógicas - se reúnem a fim de discutir questões diversas da escola e fazer os encaminhamentos necessários. "Eu e minha colega de coordenação não cuidamos das demandas que aparecem de última hora justamente para priorizar a formação", afirma Maria Inês.
Anotações como ponto de partida
O trabalho de Maria Inês começa na reunião de planejamento do início de ano. Nessa ocasião, ela organiza uma pasta para cada professor. Nela estão o quadro curricular com a carga horária por disciplina, o calendário letivo, as tarefas da rotina semanal, textos para orientar os estudos individuais e coletivos e a lista com o nome dos alunos. O material inclui ainda alguns plásticos a mais para que os docentes façam um portfólio bem completo com o que foi produzido pelas crianças. Desde os primeiros meses, eles vão juntando as atividades de avaliação inicial, os diagnósticos posteriores e os registros feitos em sala.
A cada dois meses, Maria Inês recolhe as pastas e se instala na biblioteca. São dois ou três dias em que analisa cada relato. Em um caderno, ela registra suas impressões. Afinal, depois tudo será discutido com os professores nas devolutivas periódicas. No fim do ano, a pasta é arquivada e fica à disposição dos outros membros da equipe.
As observações da prática pedagógica constituem outra ferramenta sempre presente. A cada 15 dias, ela planeja com o professor uma visita à sala de aula. Senta-se no fundo e registra o que observa: as reações da turma às atividades propostas, a interação das crianças umas com as outras e as intervenções do docente. Todo esse processo também rende devolutivas individuais e coletivas. "Por mais que eu acompanhe o planejamento inicial dos professores, é essencial vê-los em ação e perceber como os estudantes se saem durante as atividades."
Outro instrumento para a formação é o simulado da prova do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp). Os resultados obtidos no teste, tabulados e transformados em gráficos, são apresentados nas reuniões de equipe. "Ainda que o exame tenha sido feito apenas com os alunos de 5° ano, chamo o grupo todo para a discussão, pois os que ensinam nas turmas iniciais também são responsáveis pelo resultado que eles atingem no fim do segmento", conta.
Os professores reconhecem os benefícios desse apoio. "Sempre que entro na sala de aula, tenho muito claro o que quero trabalhar", diz Francine de Traque Somensi Barbosa, que leciona no 2º ano. Ela atribui parte dessa segurança ao acompanhamento de Maria Inês. A capacitação feita na EE Professora Maria Aparecida serviu até de atrativo para alguns professores, como Raquel Eloísa Barros Francelino Nakada, que pediu transferência para lá por causa da seriedade das reuniões pedagógicas: "A gente estuda para valer, não tem perda de tempo".
Boas notas e baixa rotatividade
Focado em Língua Portuguesa, o projeto de Maria Inês possui resultados visíveis após dois anos. Um dos pontos em destaque está relacionado à linguagem escrita. "As produções textuais melhoraram muito em relação à ortografia, à coesão e à coerência", comemora a coordenadora. Cleuza, a diretora, diz perceber um maior envolvimento dos estudantes com a escola. "Percebemos que eles chegam à segunda etapa do Ensino Fundamental muito bem preparados", afirma. A iniciativa também elevou a nota no Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp). Em 2010, a escola atingiu a pontuação de 5,12 para as séries iniciais, sendo que a meta proposta durante o planejamento era 4,5.
Outra consequência positiva da capacitação em serviço é uma significante diminuição na rotatividade dos professores. Por estar localizada em um bairro de periferia, a escola tinha dificuldade em encontrar profissionais dispostos a lecionar ali. "Eles só vinham quando realmente não tinham outra alternativa", conta a diretora. Esse cenário mudou e hoje a instituição tem um quadro fixo de docentes - 13 dos 15 professores da primeira etapa do Ensino Fundamental são efetivos. "Isso me permite avançar nos encontros e nas formações sem ter de retomar um assunto já trabalhado cada vez que chega um educador novo", afirma Maria Inês.
Debora Rana, selecionadora da área de Gestão do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10, afirma que o domínio com que Maria Inês exerce a função e a autonomia com que usa o material pedagógico do programa Ler e Escrever, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, foram aspectos decisivos para a escolha dela como Gestora Nota 10. "Ela tem clareza de que precisa provocar a reflexão dos professores", avalia. Debora também ressalta o compromisso da coordenadora com a comunidade escolar: "Maria Inês conhece todos os alunos pelo nome e sabe o que cada um precisa aprender".