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A hora de passar o bastão para o novo diretor

Manter os documentos em ordem e conversar sobre a rotina ajudam o gestor que vai assumir a direção da escola

POR:
Aurélio Amaral
Antes de assumir o cargo, Elck foi convidado por Susana para observar a rotina dela. Foto Pedro Motta/Ilustração Melissa Lagoa
Quinze dias de imersão Antes de assumir o cargo, Elck foi convidado por Susana para observar a rotina dela

Imagine começar a trabalhar em uma escola sobre a qual se tem pouca ou nenhuma informação com a missão de tomar decisões e liderar uma equipe que você ainda não conhece. Adaptar-se ao cargo de gestor e às responsabilidades que ele traz leva tempo. Por isso, todo apoio que vier da Secretaria de Educação e do próprio colega que está deixando a função é de grande valor para quem está chegando. Se você, diretor, está prestes a deixar a função, vale lembrar que uma boa gestão deve também garantir as condições para que ela tenha continuidade.

Segundo a pesquisa Práticas de Seleção e Capacitação de Diretores Escolares, realizada em 2009 pela Fundação Victor Civita (FVC), com a coordenação de Heloísa Lück, do Centro de Desenvolvimento Humano Aplicado (Cedhap), em Curitiba, é muito comum que gestores tenham de começar uma administração do zero, geralmente por falta de planejamento na transição. "Em caso de eleições conflituosas, chega-se ao absurdo de apagar a memória do computador para que o candidato eleito não tenha acesso aos registros", conta Heloísa Lück.

A fim de evitar situações que possam provocar o emperramento da escola nessa transição, o ideal é que as redes de ensino conduzam o processo, detalhando a documentação necessária que deve ser apresentada ao novo diretor e o prazo em que ambos devem trabalhar juntos, antes de o antecessor deixar a escola. Caso a Secretaria de Educação não estabeleça regras, o próprio gestor pode tomar a iniciativa e organizar a passagem. A tranquilidade desse processo depende do hábito de registrar rotineiramente as ações da escola. "O bom gestor normalmente tem orgulho do trabalho que realiza e faz questão de descrever as ações no papel", analisa Kátia Siqueira de Freitas, professora de políticas da Educação da Universidade Católica de Salvador.

Antes de tudo, é recomendável manter em ordem registros como as atas de reuniões de pais e do Conselho Escolar, o balanço financeiro da gestão, a descrição da estrutura física do prédio, os relatórios sobre a articulação com a equipe docente e funcionários e o projeto político-pedagógico (PPP) - que contém as diretrizes da instituição, as informações sobre o entorno escolar e os dados sobre a aprendizagem -, como os índices de aprovação, as taxas de evasão e os resultados de avaliações externas.

Além da documentação detalhada, o contato pessoal tem um papel decisivo para que a nova gestão comece com sucesso. "Ainda que haja um longo processo de formação do gestor, há detalhes que só são descobertos com uma boa conversa", explica.

Reuniões temáticas ajudam a organizar a transição

Antes do início das aulas, Luiza teve tempo para apresentar Marildes aos funcionários. Foto Aelson Ribeiro/Ilustração Melissa Lagoa
Passagem em janeiro Antes do início das aulas, Luiza (à esquerda) teve tempo para apresentar Marildes aos funcionários

Maria Luzia Barbosa, diretora até 2009 da EE Djalma Ferreira de Souza, em Cuiabá, reservou 20 dias para acompanhar e tirar as dúvidas da sucessora, Marildes de Barros, que vinha da direção de uma instituição em Poconé, a 100 quilômetros da capital. "Fiz o possível para que todos os professores viessem à escola conhecê-la", conta Luzia. Como a rotina da escola estava suspensa, as duas tiveram tempo de visitar as instalações, conversar com os funcionários e esclarecer as dúvidas sobre a gestão de cada espaço.

É mais difícil haver essa troca de experiências pessoal quando o cargo é desocupado de repente. Susana Torres, por exemplo, precisou de um tempo para se mudar de Curvelo, a 165 quilômetros de Belo Horizonte, para a capital mineira quando foi assumir a direção da EE Doutor Simão Tamm Dias Sortes, cujo diretor havia pedido exoneração. Quando Susana chegou, ele já havia feito as prestações de conta e deixado registros detalhados da administração, que foram repassados pela supervisora da Secretaria de Educação.

Como o restante da equipe gestora se manteve, coube à secretária e à coordenadora pedagógica apresentá-la à comunidade e explicar o funcionamento da escola, desde as questões mais corriqueiras até os problemas que ela teria de enfrentar. "Foi a minha primeira experiência na função e elas me puseram a par de tudo", conta Susana. Ao deixar o cargo, em outubro do ano passado, ela cuidou pessoalmente da passagem, sempre orientada pela supervisora da Secretaria. Primeiro, convidou o novo diretor, Elck Marra Neto, para um período de adaptação. Ele acompanhou as reuniões e a rotina de Susana por duas semanas. "Foi um tempo adequado para observar o trabalho da equipe e as condições de ensino", diz Elck. As dúvidas que foram surgindo depois da posse ainda puderam ser esclarecidas por Susana, pois ela continuou na equipe como vice-diretora por dois meses, até ser removida para Betim, na Grande Belo Horizonte, onde voltou a ser professora.

Francismar participou das reuniões e das tomadas de decisão ao lado de Glorinha, sua antecessora. Foto Tharson Lopes/Ilustração Melissa Lagoa
Transição gradual Francismar participou das reuniões e das tomadas de decisão ao lado de Glorinha, sua antecessora

É claro que a passagem de uma gestão para outra fica muito mais fácil quando o sucessor já trabalha na escola. Nesse caso, em vez de um período de imersão, o repasse das informações pode ser diluído em vários horários previamente agendados. Foi o que aconteceu com Francismar Bispo da Silva, diretor da EM Pedro Ludovigo Teixeira, em Colinas do Tocantins, a 270 quilômetros de Palmas. Ele já era professor na instituição e membro do conselho escolar e tinha um conhecimento razoável de boa parte das decisões tomadas pela então gestora, Glorinha Pereira da Silva. Após as eleições, os dois passaram a aproveitar os horários livres e algumas horas depois do expediente para discutir as responsabilidades que seriam transferidas.

Mesmo antes de assumir, Francismar foi regularmente informado - e até consultado - sobre os procedimentos que seriam tomados em relação à renovação de matrículas, às mudanças no transporte escolar e à reorganização do espaço físico para a construção de uma sala de recursos multifuncionais. "Eram deliberações que entrariam em vigor no ano seguinte. Ouvir a opinião dele ajudou a tomar as decisões adequadas", conta Glorinha.

Em Colinas do Tocantins, a eleição é a modalidade de provimento de diretor nas 13 escolas municipais com mais de 100 alunos. Muitas vezes, o candidato eleito já é conhecido da comunidade. Mesmo assim, a Secretaria de Educação não deixa de marcar esse processo para que os pais e os alunos conheçam o futuro gestor e deixem de associá-lo apenas à função anterior. Além de coordenar o repasse de documentos e a prestação de contas, a Secretaria organiza uma cerimônia que sela a passagem e apresenta o diretor à comunidade. "Sem essa formalidade, pode ficar a impressão de que a saída de um gestor deixou um vácuo de liderança na instituição. É importante mostrar aos pais e alunos que existe alguém que vai continuar zelando pela escola", explica Odalea Sarmento, supervisora da Secretaria.

A pauta do novo gestor

A pessoa que vai deixar o cargo deve repassar todas as informações e os documentos presentes na rotina do gestor para facilitar o início do trabalho e a adaptação do sucessor. No entanto, quem está chegando também deve preparar algumas perguntas sobre os dados básicos, que servirão para formar um bom panorama da escola. O procedimento serve, inclusive, para quem já está na instituição há tempo. "Nem sempre os membros da equipe conhecem em detalhe os aspectos da escola ligados ao cotidiano da gestão", explica Heloísa Lück. Para não se perder em meio aos assuntos que devem ser tratados, o ideal é o diretor que está assumindo explorar pontos específicos em diversas reuniões, que podem tratar dos seguintes temas:

- Os dados gerais da escola Organização de turmas, programas desenvolvidos no contraturno, indicadores de aprendizagem, metas estabelecidas para os próximos anos. 

- As características do corpo docente Formação dos professores de todos os segmentos e disciplinas, organização do horário de trabalho pedagógico coletivo e carga horária reservada para os encontros com a coordenação pedagógica.

- A estrutura da instituição Número de salas, as condições de uso dos materiais, o estado das instalações elétrica e hidráulica e a conservação de ambientes como laboratórios, quadra, ginásio, cantina etc.

- A relação com a comunidade Regularidade das reuniões de pais, calendário de atividades e características do entorno escolar.

- Os aspectos administrativos Prestação de contas dos programas do Ministério da Educação e da Secretaria de Educação em que a escola está inscrita e prioridades de utilização dos recursos.

Quer saber mais?

CONTATOS
EE Djalma Ferreira de Souza, tel. (65) 3644-1536 
EE Doutor Simão Tamm Dias Sortes, tel. (31) 3312-1399
EM Pedro Ludovigo Teixeira, tel. (63) 3476-7023
Heloísa Lück
Kátia Siqueira de Freitas