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Um plano de metas para atingir em 2013

Defina logo no começo do ano as ações que vão garantir a alfabetização, reduzir a repetência e acabar com a evasão. E descubra como a equipe gestora de três escolas alcançaram esses objetivos

POR:
Verônica Fraidenraich
Um plano de metas para atingir em 2012. Ilustração: Bruno Algarve

Entra ano, sai ano, todo diretor compartilha com a equipe gestora as mesmas preocupações: o que fazer para que as crianças se alfabetizem de verdade e a escola não tenha mais nenhum aluno em séries avançadas que não saiba ler e escrever? E como acabar de vez com a repetência?

Nesta época, em que a equipe gestora começa a pensar no planejamento de 2013, que tal preparar de vez a estrutura necessária para assumir esses desafios e garantir os materiais para que essas metas sejam alcançadas? Assumir esses compromissos e fazer com que eles se concretizem em um ano não é tarefa impossível. Quer ver? Em 2009, Amarildo Reino de Lima, então diretor do CEF 427, em Samambaia, a 45 quilômetros de Brasília, recebeu o título de Gestor Nota 10 no Prêmio Victor Civita por ter realizado um projeto para acabar com a distorção idade/série e, por tabela, com a repetência. "O importante é estabelecer etapas a serem cumpridas a curto, médio e longo prazo, que permitam um acompanhamento periódico e possibilitem ajustes ao longo do ano."

Problemas recorrentes exigem ações firmes e contínuas

A evasão, a repetência e a não-alfabetização no tempo correto são tão comuns no Brasil que têm estado presentes nos últimos Planos Nacionais de Educação (PNE). O que expirou em 2010 pretendia a redução em 50% das taxas de abandono e repetência, o que foi cumprido em parte: o abandono foi reduzido conforme o planejado, mas a reprovação aumentou de 11 para 12,1% no mesmo período. No novo plano que tramita no Congresso Nacional - e será o norte da Educação brasileira até 2020 -, o tema reaparece em estratégias relacionadas às metas de garantir o atendimento escolar para a população de 15 a 17 anos, sugerindo programas e ações de correção de fluxo por meio de aulas de reforço e estudos de recuperação.

A alfabetização continua sendo uma prioridade e reaparece no novo PNE com a mesma meta do anterior: ter todos os alunos alfabetizados até o 2º ano do Ensino Fundamental. Dados da Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização (Prova ABC) - feita pela primeira vez em 2011, numa parceria do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) com entidades da sociedade civil - mostra que apenas 56,1% dos alunos do 3° ano aprenderam o que era esperado em leitura e escrita.

Com esse quadro preocupante, o gestor pode resolver os problemas da instituição que dirige? Sim, pois existem informações para iniciar esse processo ao seu alcance. Afinal, as notas das avaliações feitas pelos professores e os dados de alunos reprovados e dos que abandonaram a escola estão nos arquivos da secretaria. "É preciso mudar o foco, deixando de ser a escola que ensina para se tornar a que garante o aprendizado", relata Priscila Cruz, diretora executiva do Movimento Todos pela Educação. "O primeiro passo é revisar o projeto político-pedagógico (PPP) e envolver toda a equipe no trabalho", diz Renata Frauendorf, consultora do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.

Para ajudá-lo nessa tarefa, conheça a experiência de três escolas públicas que priorizaram essas metas e as ações que você, gestor, pode discutir com o grupo e assegurar grandes conquistas em 2012.

Foco na leitura e na escrita
Escola de Utinga garante a alfabetização com acompanhamento do aprendizado e atividades diversificadas segundo os saberes dos alunos

Maria Dilza (à esquerda) e Carla apostam em ações para aproximar os alunos dos livros. Foto: Jader Jaques
SALA CONCORRIDA Maria Dilza (à esquerda) e Carla apostam em ações para aproximar os alunos dos livros

No diagnóstico realizado em novembro, 74 dos 78 alunos dos três primeiros anos da EM Coronel Odilon Alves Peixoto de Athayde, localizada em Utinga, a 437 quilômetros de Salvador, estavam alfabéticos. Os outros quatro, a um passo de atingir esse nível. O sucesso em ter todos alfabetizados aos 8 anos é fruto de um acompanhamento sistemático do desempenho das turmas e de reuniões semanais de planejamento que permitem trabalhar atividades ajustadas às necessidades de cada criança.

Os estudantes que precisam de apoio extra são chamados a participar de aulas de reforço no contraturno, três vezes por semana, reunidos segundo as dificuldades que apresentam. Em reuniões quinzenais, o professor desse grupo - destacado do quadro da escola - conversa com o titular para saber quais conteúdos devem ser intensificados. "A direção participa dos encontros para saber as providências que precisam ser tomadas a fim de garantir o espaço e o material necessários", explica Carla Ribeiro do Nascimento, coordenadora pedagógica do 1º ao 5º ano. A diretora, Maria Dilza Santos Reis Silva, afirma que essa articulação da equipe é um dos fatores responsáveis pelo aprendizado: "As atividades são decididas nos encontros pedagógicos e são revisadas rapidamente quando os objetivos não estão sendo atingidos".

Fazer com que os alunos se envolvam em diferentes situações de leitura a fim de se tornarem leitores competentes faz parte da proposta pedagógica de toda a escola, que atende do 1° ao 9° ano do Ensino Fundamental e o Ensino Médio. O acervo de livros não é grande, mas a sala de leitura é concorrida graças às várias propostas. Uma delas é o projeto de leitura simultânea, em que os docentes do 1º ao 5º ano leem, no mesmo dia e horário, um trecho de um livro para a turma. Os alunos escolhem a história que querem ouvir lendo as resenhas expostas em cartazes nos corredores. A ideia é instigá-los a pegar o livro emprestado para ler o resto do texto em casa.

A Odilon conta também com uma professora especializada em alfabetização. Sirleide Dias trabalha lá há seis anos. Geralmente dá aulas para o 1º ano, quando não é chamada a assumir turmas que têm alunos com mais dificuldade na leitura e escrita.

Há três anos, a escola aumentou de quatro para seis o número de avaliações anuais das séries iniciais do Ensino Fundamental. Isso ajuda a detectar os problemas assim que eles aparecem - e resolvê-los. Quem já sabe ler e escrever também tem atenção especial: "Eles recebem atividades extras de compreensão de texto para ganhar autonomia como leitores", explica Marlene Bodnachuk, supervisora da rede.

Garantir a alfabetização

Quantificar o número de alunos não alfabéticos Com base na avaliação inicial e no resultado da Provinha Brasil - ou de exames similares estaduais ou municipais -, levante quantos alunos do 2º e 3º anos ainda não estão alfabetizados. Identifique o que já sabem e o que ainda precisam aprender para embasar o planejamento de projetos e atividades. 

Refletir sobre os resultados Com base no diagnóstico levantado e nos dados dos alunos, prepare um roteiro de perguntas a fim de averiguar com a equipe gestora os fatores que impactaram os resultados. Algumas sugestões: 
- Há descompasso entre o que as crianças aprendem e o que deveriam aprender? 
- Os materiais existentes na escola são disponibilizados aos professores e aos alunos? 
- Os livros são usados com regularidade? A quantidade atende à demanda? 
- Os professores são assíduos e participam das reuniões de planejamento e de formação continuada? 
- Os instrumentos de avaliação contribuem para rever as condições e os processos de ensino?

Formar professores Junto à coordenação pedagógica, analise as estratégias formativas necessárias para que o corpo docente se capacite e consiga atender cada um dos alunos não alfabéticos. 

Revisar as metas Assegure espaço, tempo e material para as reuniões de formação e para que a coordenação pedagógica tenha tempo de observar o desempenho do professor em sala de aula. É importante também revisar as metas de curto e médio prazos periodicamente, a fim de avaliar as ações efetivas e intensificá-las, e ajustar as que não estão dando resultado. 

Assegurar a infraestrutura Para montar turmas de apoio, é preciso reservar uma sala e realocar os docentes, além de prever o material necessário e garantir os encontros entre o professor da classe e o do reforço. 

Criar um ambiente alfabetizador Listas de nomes próprios nas paredes, cartazes, murais com a produção escrita dos alunos e a presença de textos em diversos suportes favorecem a participação das crianças em atividades de leitura e escrita. 

Promover a leitura Torne essa uma ação rotineira na escola, com rodas de leitura pelo professor diariamente. Para ampliar o acervo de livros e contemplar gêneros variados, vale recorrer ao Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) ou a projetos similares da rede. 

Estimular a participação dos funcionários A leitura pode se transformar em um valor da equipe escolar quando todos os funcionários são convidados a participar dos encontros em que são lidas histórias para os alunos - ou mesmo ter momentos somente para eles -, a frequentar a biblioteca e a tomar livros empresados. 

Considerar as necessidades especiais O PPP deve prever a flexibilização das situações de ensino, com recursos visuais, sonoros e táteis para crianças com necessidades educacionais especiais. Se não houver um especialista nesse assunto na escola, é possível acionar a Secretaria de Educação para obter o material necessário.

Eles não querem mais sair
Para acabar com a evasão, escola de Cuiabá controla as faltas, oferece apoio pedagógico e promove atividades no contraturno

Luzia investiu em oficinas como a de música e de produção de texto para melhorar o aprendizado. Foto: Aelson Ribeiro
ATIVIDADES NO CONTRATURNO Luzia investiu em oficinas como a de música e de produção de texto para melhorar o aprendizado

Em 2006, a EE Dom José Despraiado, em Cuiabá, tinha um sério problema: cerca de 10% dos alunos abandonavam as salas de aula - o que somava de 50 a 60 crianças todos os anos deixando de estudar. Os motivos: histórico de repetência, defasagem idade/série e até mesmo o descrédito da comunidade em relação à escola por ela receber alunos de um dos bairros mais violentos da cidade.

Partiu de um grupo de professores a proposta de revisar o PPP e passar a fazer um acompanhamento rigoroso do aprendizado das turmas - o que até então não ocorria. "Nas formações e em outros momentos, passamos a trocar experiências sobre as atividades que davam certo em sala de aula e rever as que não conseguiam alcançar os objetivos", lembra a diretora, Luzia Pereira de Souza Abic, que já foi professora e, na época, assumiu a coordenação de projetos. Primeiro era preciso fazer com que os alunos aprendessem de fato. Para isso, a equipe elaborou uma série de ações para trabalhar os conteúdos de maneira diferenciada. Luzia ficou responsável por implementá-las. Uma delas foi o Chat Educativo, focado no desenvolvimento da escrita, que incentivou a troca de cartas pelo correio com alunos de outras escolas. Outra foi a Sexta Atrativa, oferecendo oficinas que trabalhavam Matemática e produção de texto, além de música e teatro. Ambas as iniciativas foram posteriormente incorporadas ao programa Mais Educação, do Ministério da Educação (MEC), que promove a adesão de escolas ao período integral. "Queremos valorizar o aluno e despertar nele a vontade de frequentar a escola", afirma Catarina Cortez, superintendente de gestão escolar da Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso.

Depois, era preciso acabar com as faltas. O controle de presença virou prioridade. Além dos telefonemas aos pais e visitas à casa dos alunos após duas ou três abstenções sem justificativas, os gestores incorporaram à rotina uma ronda pelo comércio local, onde geralmente os estudantes ficavam quando matavam aula. O uso do uniforme, antes obrigatório, tornou-se opcional e ninguém mais foi impedido de entrar por estar sem a camiseta da escola.

No apoio pedagógico aos alunos com dificuldades de aprendizagem, há a preocupação em buscar maneiras eficientes de ajudá-los e aumentar o tempo em sala de aula. "Com base nos diagnósticos, o professor regular e o do contraturno estudam teoria e didáticas para encontrar novas abordagens", relata Margarete Aparecida Borges Silva, coordenadora pedagógica da Dom José.

Com tudo isso, a evasão chegou a zero em 2010. "A responsabilidade pelo fracasso não é mais atribuída aos alunos ou à família. Transformamos a escola em um espaço agradável de conviver por meio da ampliação do currículo, do respeito ao educando e do esforço em atender aos princípios estabelecidos coletivamente", afirma a diretora.

Zerar a evasão

Identificar os motivos Tenha em mãos o número de evasão para detectar as causas. Necessidade de trabalhar e gravidez precoce costumam ser as mais comuns, mas certamente a não-aprendizagem é o fator que mais contribui para o aumento desse índice. Procure saber em que séries isso acontece com maior incidência, a relação entre evasão e repetência e se a escola possibilita a participação de alunos em projetos extraclasse. 

Controlar as faltas Solicite aos professores que informem a equipe gestora em caso de duas ou três faltas seguidas sem justificativa de um aluno. Peça que alguém da secretaria ligue para os pais do aluno - ou faça isso você mesmo. Caso o telefonema não seja suficiente, uma visita domiciliar pode ajudar. O importante é reforçar junto à família a importância de a criança frequentar a escola. 

Envolver a família Durante todo o ano, promova encontro com os pais para conversar sobre o PPP e mostrar como podem ajudar a valorizar os estudos - perguntar sobre lições de casa e projetos e participar de reuniões e eventos são ações simples que produzem resultado. 

Oferecer propostas diferenciadas Planeje com os professores atividades na hora do recreio ou no contraturno - como oficinas culturais e esportivas e a monitoria no laboratório de informática. Crianças e jovens se sentem estimulados a aprender quando têm a chance de desenvolver outros talentos e habilidades. 

Buscar parcerias Faça um levantamento dos espaços culturais e de lazer (centros culturais, bibliotecas comunitárias e ginásios esportivos) para fortalecer o trabalho oferecido pela escola e facilitar problemas como a violência no entorno, fator que contribui para a evasão. 

Ofertar cursos e estágios Para evitar que os jovens matriculados nos últimos anos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio abandonem os estudos, entre em contato com empresas e centros de Educação profissional para oferecer estágios e cursos técnicos profissionalizantes.

Todos avançando juntos
Em Rio Branco, escola reduz repetência ao investir em aulas de reforço e acompanhamento do desempenho

Nancy e Nilva <i>(à direita)</i> instituíram o reforço para diminuir a distorção idade/série. Foto: Odair Leal
APOIO AOS ALUNOS Nancy e Nilva (à direita) instituíram o reforço para diminuir a distorção idade/série

Quem acessa o blog da EEEF Georgete Eluan Kalume, de Rio Branco, se depara com fotos de aulas de música, leitura ou de uma reunião de planejamento. Diante disso, fica difícil imaginar que, há quatro anos, tudo era diferente. Em 2008, o nível de repetência nas séries iniciais do Ensino Fundamental chegava a 17% e distorção idade/série era de 23,5%.

Para reverter esse quadro, a direção investiu em aulas de reforço para os alunos reprovados e os que tinham dificuldade de aprendizagem. O professor titular passou a receber um complemento salarial para estender a jornada de trabalho. "Se o aluno não pode vir no contraturno por motivo de transporte, o apoio pedagógico é feito duas ou três vezes por semana no horário de aula, em agrupamentos específicos e com atividades diferenciadas", explica Nancy Magalhães de Souza, coordenadora pedagógica. Faltas não são toleradas. "Ligamos para os pais e vamos até a casa do aluno saber as causas da ausência", diz a diretora, Nilva Souza de Lima. A direção também avaliou ser importante o apoio da família no incentivo aos estudos e oferece à comunidade oficinas e palestras. "Os pais dão mais atenção às tarefas de casa", diz Nancy. Esse conjunto de ações resultou em alunos mais comprometidos. Em 2010, o número de reprovados na primeira etapa do Ensino Fundamental caiu para 3,6% - e este ano beira o 1% -, a distorção caiu para 2,61% e o Ideb foi de 4,1, em 2007, para 5,4, em 2009.

Diminuir a retenção

Levantar histórico Reúna os dados gerais da escola e também os por turma, comparando com o de anos anteriores, para observar se o problema está em uma série específica. 

Analisar as causas Com a coordenação pedagógica e os docentes, discuta sobre os alunos que repetem de ano: os professores os envolvem nas atividades propostas? São indisciplinados? Participam de outros projetos da escola no contraturno?

Estruturar aulas de reforço Os alunos podem ser agrupados na própria sala de aula, segundo os conteúdos em que precisam de reforço ou em turmas específicas no contraturno. Cabe às equipes gestora e pedagógica discutir a melhor forma de oferecer o apoio, considerando a orientação da rede e a disponibilidade de salas e educadores.

Planejar atividades diferenciadas A coordenação pedagógica deve prever maneiras de ajudar o corpo docente a desenvolver atividades e intervenções que atendam às necessidades dos alunos e a acompanhar a evolução dos diversos grupos.

Informar os pais Os pais dos estudantes que fazem reforço têm de ser informados sobre o plano de ação para que eles não percam o ano e o andamento dos trabalhos.

Obter o comprometimento do aluno Conversas individuais ajudam a pontuar os avanços e mostrar a eles a importância em participar do reforço.