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Evitamos que a escola fechasse

Comunidade rural protesta e convence a Secretaria de Educação a manter unidade em funcionamento e ainda financiar melhorias no prédio

POR:
GESTÃO ESCOLAR
Evitamos que a escola fechasse. Foto: Raoni Madalena
MOBILIZAÇÃO E SUCESSO Claudenor e sua equipe mostraram a força da comunidade junto ao poder público

Por quase dez anos, fui professor de Matemática da EEFM Antônio Vidal Malveira, a única escola de Ensino Médio e de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do distrito Olho d?Água da Bica, em Tabuleiro do Norte, a 211 quilômetros de Fortaleza. A cidade é pequena e todo mundo se conhece: os professores são da região e muitos estudaram na escola em que lecionam. Os cerca de 300 estudantes são filhos de pequenos agricultores e das famílias que vivem nos assentamentos de reforma agrária da vizinhança.

Em 2008, a notícia de que a Secretaria de Estado da Educação fecharia o prédio nos pegou de surpresa. A justificativa: redução de gastos. Para que os alunos não ficassem sem estudo, seria disponibilizado um ônibus para levá-los à cidade, que fica a 21 quilômetros do distrito.

Naquele mesmo ano, a então diretora se aposentou e fui eleito para o cargo. Assumi o mandato com o desafio - e o compromisso - de impedir o fechamento da escola. Tínhamos argumentos: a Antônio Vidal obtinha o melhor desempenho da região no Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica (Spaece) desde meados nos anos 2000 e sempre funcionou como um polo cultural e esportivo para os moradores, com quadra de jogos e acesso à internet - serviço quase inexistente no município.

Fizemos uma campanha contra o fechamento. O assunto foi discutido com as equipes gestora e docente e levamos o debate para as salas de aula a fim de que os alunos e as famílias também assumissem a bandeira. Nas ruas, comentávamos com os vizinhos e pequenos comerciantes sobre a questão, em busca de ajuda.

No dia em que os dirigentes regionais vieram formalizar a notícia, preparamos uma manifestação que reuniu centenas de pessoas do bairro. Sensibilizados com a causa, os representantes sugeriram que escrevêssemos para a própria secretária de Educação do estado sobre a importância de manter a escola aberta. Foram alguns dias de grande mobilização, com toda a comunidade empenhada em redigir mensagens contando sobre sua relação com a escola. Até quem não sabia escrever deu sua contribuição, pedindo aos professores que escrevessem a sua história.

Juntamos um grande volume de cartas e enviamos à Secretaria. Pouco tempo depois, a boa notícia: nossa escola não seria mais fechada. E mais: receberíamos computadores e uma verba para reformar o prédio e montar uma sala de leitura. Passamos a contar com as visitas dos supervisores e fomos incluídos em diversos projetos. As melhorias empreendidas intensificaram o trabalho sério que sempre realizamos. Estamos orgulhosos com o número de aprovações de nossos estudantes em cursos superiores. No ano passado, foram 17 - um deles no concorrido curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará (UFCE).

Claudenor Ancelmo da Silva é diretor da EEFM Antônio Vidal Malveira, em Tabuleiro do Norte, CE

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