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Força extra para a formação docente em serviço

Os centros de atualização profissional reforçam os momentos de estudo coletivo na escola

POR:
Frances Jones
Em Curitiba, Eloina estimula os docentes a ajudar na definição das pautas de formação. Foto: Marcelo Almeida
CONTEÚDO ARTICULADO Em Curitiba, Eloina estimula os docentes a ajudar na definição das pautas de formação

Países como México, Alemanha, Itália e Portugal investem em centros de formação onde professores, coordenadores pedagógicos e diretores podem estudar para melhor exercer suas funções. A ideia chegou ao Brasil e há Secretarias estaduais e municipais de Educação aderindo (ou mostrando interesse em aderir) à nova tendência. "Uma das vantagens de concentrar os cursos e encontros formativos no mesmo lugar é a possibilidade de promover, de forma sistemática, a troca de experiências entre as escolas e a disseminação de boas práticas e teorias", diz Cleide do Amaral Terzi, assessora pedagógica e consultora educacional, de São Paulo.

A propagação desse modelo foi detectada pela pesquisa Formação Continuada de Professores no Brasil: Uma Análise das Modalidades e Práticas, realizada pela Fundação Carlos Chagas (FCC) sob encomenda da Fundação Victor Civita (FVC), em 2010. Investir nesses espaços, porém, não implica no enfraquecimento das escolas como local de aprendizagem dos educadores. "Ao contrário: elas representam o espaço de formação continuada por excelência e os centros surgem com o papel de disseminar e dar organicidade às políticas públicas de capacitação em serviço", diz Helena Costa Lopes de Freitas, coordenadora de Formação de Professores da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC) (leia sobre o papel de cada educador na última página).

Oferta de cursos precisa ser pautada pelas necessidades das escolas

Em Curitiba, o Centro de Capacitação da Secretaria Municipal da Educação oferece cursos de aperfeiçoamento aos docentes e coordenadores da rede - composta de 179 escolas, 174 centros de Educação Infantil e 14 mil servidores. Funcionando desde 2004 no centro da cidade, o prédio de oito andares conta com 12 salas para, no mínimo, 50 pessoas - com computador, projetor multimídia e lousa interativa -, dois laboratórios de informática, auditórios e biblioteca. Cada profissional do município tem ao menos 80 horas anuais de estudo. As propostas partem das coordenadorias da Secretaria, que atuam em colaboração com nove regionais - órgãos que mantêm um contato mais próximo com as escolas. Os organizadores analisam a procura pelos cursos e fazem avaliações ao final de cada um. Uma vez decidido quais conteúdos serão ministrados, a equipe central busca especialistas em universidades ou em um banco de professores credenciados. "Ao menos três especialistas são convidados a mandar seus planos de trabalho antes de decidirmos qual contratar. Todo o esforço é feito para conciliar as necessidades dos profissionais com a realidade do ensino, propondo avanços concretos para toda a rede", explica Eloina de Fátima Gomes dos Santos, diretora do Departamento de Tecnologia e Difusão Educacional de Curitiba. No site da Secretaria, são disponibilizados módulos a distância, mas os cursos presenciais são tidos como essenciais.

A iniciativa tem sido bem-vista pelos participantes. No CMEI Araguaia, na capital paranaense, por exemplo, a diretora, Elenita Wrencher de Carvalho, diz que a parceria entre o centro e a equipe interna está consolidada. "O maior benefício é o aprofundamento nos conteúdos discutidos entre a coordenação pedagógica e o corpo docente", relata. O resultado é que o grupo ganha mais oportunidades de construir conhecimento coletivamente e de aprimorar a prática.

Outra Secretaria de Educação que aposta nessa ideia é a do estado do Mato Grosso, onde existem 15 Centros de Formação dos Profissionais da Educação (Cefapros) em funcionamento e nove em construção. Além de um prédio em Cuiabá, há unidades nos municípios de Cáceres, Barra do Garças, Alta Floresta e outras cidades-polo. No total, elas atendem cerca de 30 mil docentes, de 724 escolas. Embora promovidas pelo governo estadual, técnicos das secretarias municipais também participam das formações.

O coordenador pedagógico é central para o funcionamento da engrenagem

Cláudia (à esquerda), de Barra do Garças, defende o diálogo entre técnicos e coordenadores. Foto: François Calil
TRABALHO EM PARCERIA Cláudia (à esquerda), de Barra do Garças, defende o diálogo entre técnicos e coordenadores

Os Cefapros têm auditório, biblioteca, laboratórios de informática, salas de aula e alojamento para receber os profissionais de outras cidades que vão fazer cursos. Os educadores que dão as capacitações são concursados e trabalham em regime de dedicação exclusiva - eles atuam nos centros e visitam as unidades de ensino periodicamente. "Cada escola deve assumir a formação contínua de seus professores. Por isso, oferecemos o atendimento interno, focando as demandas específicas das equipes", diz Ema Marta Dunck Cintra, superintendente de Formação dos Profissionais da Educação Básica de Mato Grosso.

Uma vez que aos núcleos externos cabe representar um auxílio extra para melhorar a prática - e não simplesmente agir como instituições emissoras de certificados, com aulas distantes das necessidades dos professores -, é essencial que o trabalho do coordenador pedagógico nas escolas seja reforçado e jamais esvaziado diante da atuação dos formadores dos centros. "O centro de capacitação tem de estar afinado com as perspectivas da equipe escolar e atuar como parceiro", afirma Cleide Terzi.

Um exemplo de articulação eficiente é o de Elisiane Tolio, coordenadora pedagógica da EE Nossa Senhora da Guia, em Barra do Garças, a 508 quilômetros de Cuiabá. A cada dois meses, ela e outros coordenadores da região recebem formação no Cefapro da cidade. Na escola, Elisiane tem o apoio de duas profissionais do centro para orientações pontuais. "Elas são atualizadas, indicam ótimos estudos e nos ajudam na revisão do nosso projeto político-pedagógico", relata. De acordo com Cláudia Marques Rocha Lima, diretora do Cefapro do município, esse diálogo é fundamental para atender às demandas da escola e fazer com que os educadores - e os alunos - avancem.

O modelo se repete nos demais Cefapros do estado. "Em cada escola, as equipes se reúnem para levantar as dificuldades nos processos de ensino e aprendizagem. Com base nesse diagnóstico e dos resultados alcançados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o centro planeja as interferências necesárias", diz Ezemar Mourão da Silva, diretor do Cefapro de Cuiabá. Para tanto, os formadores dos centros têm garantidos os próprios momentos de estudo. As autoridades do Mato Grosso creditam a esse modelo boa parte do aumento de 36,11% nas notas do Ideb do Ensino Fundamental do estado entre 2005 e 2009.

Na falta de um centro oficial de formação, alguns grupos se reúnem com a mesma finalidade, como é o caso de seis escolas na Zona Sul de São Paulo (leia no quadro abaixo). "O importante é que haja uma rotina de aprendizagem também para os educadores", afirma José Cerchi Fusari, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Um centro informal

Há mais de uma década, um centro extraoficial de formação continuada de professores funciona na periferia de São Paulo, obtendo bons resultados. O Projeto de Valorização do Educador e Melhoria da Qualidade do Ensino (Prove) foi criado em 1998 e hoje reúne seis escolas públicas da Zona Sul do município. A iniciativa não conta com recursos financeiros - professores e funcionários participam de sete encontros anuais de três horas, que acontecem nas próprias unidades participantes e cada uma delas se responsabiliza pelo material e lanche necessários nas reuniões. As escolas já usaram uma verba federal para pagar formadores externos, mas atualmente são todos voluntários. "Há cursos oferecidos por docentes das próprias escolas", diz, com orgulho, a professora aposentada Olgair Gomes Garcia, que foi coordenadora pedagógica da EMEF Mauro Faccio Gonçalves - Zacaria e participa do Prove desde sua criação. Para o diretor da escola, Roberto Wagner Carbonari, há 15 anos no cargo, entre os impactos positivos do programa estão a baixa rotatividade e o alto nível dos professores e funcionários: "A maioria tem mais de dez anos de casa. Vários docentes voltaram à universidade para estudar e hoje até os inspetores de alunos têm licenciatura". No final do ano, o material pedagógico produzido nos cursos resulta em um seminário e na publicação de um livro e uma revista.

O papel de cada órgão e profissional para que o ciclo de estudo e reflexão funcione

Para que esse ciclo de estudo e reflexão funcione a contento, é necessário que todos os envolvidos cumpram determinadas responsabilidades: 

- A Secretaria de Educação O órgão central precisa valorizar a formação em serviço ao oferecer condições materiais e humanas para o funcionamento dos centros, assegurando o preparo dos formadores externos - que também necessitam de tempo para o próprio aperfeiçoamento profissional - e garantindo a coerência entre os cursos de capacitação feitos fora da escola e os encontros formativos de cada unidade. 

- O formador externo Deve atuar como um parceiro que fortalece o trabalho dos educadores, compartilhando novas ferramentas para que exerçam melhor seus papéis, conhecendo as demandas das escolas e tomando cuidado para não se sobrepor aos coordenadores pedagógicos. 

- O coordenador pedagógico Como articulador e formador dos professores, precisa pedir a colaboração dos formadores externos para as demandas específicas da equipe. "Ele tem o dever de colocar o currículo formal em ação na construção do PPP", diz José Cerchi Fusari. 

- O diretor É seu papel legitimar o coordenador como o parceiro mais experiente do grupo docente e garantir as condições de tempo, espaço e material para que ele faça uma boa articulação entre a oferta de formação externa e as necessidades dos professores. 

- Os professores Precisam discutir com seriedade o próprio trabalho, levando aos encontros internos e externos as dúvidas sobre como desenvolver atividades de sala de aula.

Quer saber mais?

CONTATOS
Cefapro de Barra do Garças, tel. (66) 3401-7620
Cefapro de Cuiabá, tel. (65) 3637-1037
Centro de Capacitação da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, tel. (41) 3218-2430
Cleide do Amaral Terzi
CMEI Araguaia, tel. (41) 3366-0139
EE Nossa Senhora da Guia, tel. (66) 3401-1201
EMEF Mauro Faccio Gonçalves - Zacaria, tel. (11) 5514-3131
José Cerchi Fusari
SEB/MEC, tel. 0800-616-161