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Os diferentes desafios para o coordenador pedagógico em cada segmento

Saiba quais são as demandas e as estratégias necessárias para atuar nas diversas etapas de ensino

POR:
Iracy Paulina

Em algumas escolas, um único coordenador pedagógico se responsabiliza por todos os segmentos atendidos. Em outras, há um para cada etapa. Qual é a vantagem de ter um profissional da coordenação dedicado apenas à primeira etapa do Fundamental ou ao Ensino Médio? ''As discussões correm sempre em um campo específico, há maior possibilidade de aprofundar determinados aspectos e aproveitar melhor as reuniões de formação'', responde Vera Maria Nigro de Souza Placco, coordenadora do programa de pós-graduação em Educação e Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e responsável pela pesquisa O Coordenador Pedagógico e a Formação de Professores: Intenções, Tensões e Contradições, uma iniciativa da Fundação Victor Civita (FVC). Ela, porém, também vê com bons olhos a atuação em mais de um segmento: ''O coordenador pedagógico tem mais facilidade para promover a integração dos docentes e do currículo de toda a escola. Quem fica em um ciclo precisa tomar cuidado para não perder a visão do todo.''

Em qualquer caso, é essencial que o profissional conheça as especificidades do segmento - ou dos segmentos - em que atua para ajustar o foco da formação continuada dos professores. Confira os maiores desafios, as competências e os conhecimentos esperados do coordenador e as sugestões de estratégias de trabalho em cada etapa de ensino.

Foto: François Calil
''Procuro levantar as dificuldades em reuniões separadas com os professores e os auxiliares. Depois, seleciono textos que tenham a ver com os temas citados e só aí reúno os dois grupos para refletir.'' Ana Cristina da Silva Nunes, coordenadora pedagógica do CMEI da Boa Providência, em Goiânia

Educação Infantil

Desafios
Promover uma parceria afinada entre o docente e o chamado cuidador - o profissional que costuma ocupar o cargo de auxiliar de professor ou agente educacional é a principal questão. ''Ele atuará diretamente com a criança, porém, em geral, não tem formação pedagógica'', diz Nancy Nonato de Lima Alves, da Universidade Federal de Goiás (UFG). Também cabe ao coordenador envolver as famílias, cuja participação mais próxima é fundamental nesse segmento. ''A relação com os pais proporciona importantes situações de conhecimento da criança em suas especificidades e necessidades, ampliando as possibilidades do trabalho pedagógico'', afirma ela.

Competências esperadas
- Conhecimento das teorias de Educação Infantil e dos processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
- Clareza de que educar e cuidar são indissociáveis nesse segmento. 
- Domínio das políticas públicas para a área e da legislação específica. 
- Conhecimento atualizado da produção acadêmica e das pesquisas sobre Educação Infantil. 
- Facilidade para se relacionar com pessoas e liderança.

Estratégias de trabalho
- Promover reuniões de formação com professores e auxiliares - juntos e separadamente - para que possam discutir as dificuldades e encontrar soluções para elas.
- Estimular a participação de professores e auxiliares nos encontros de formação.
- Fornecer embasamento teórico em Pedagogia a fim de aumentar a bagagem dos titulares e municiar os cuidadores.
- Estimular professores e auxiliares a fazer conjuntamente o planejamento das atividades.
- Pensar com a equipe em estratégias para aproximar a família da escola.
- Reunir os profissionais de um agrupamento quando há problemas específicos a serem tratados. 

Foto: Gustavo Lorenção
''Para conseguir coerência, sempre discuto com os docentes os pontos dos planejamentos individuais que não condizem com a progressão do aprendizado no decorrer das séries.'' Fernanda Nunes,coordenadora pedagógica do 1º ao 5º ano da UME Estado do Espírito Santo, em Cubatão, a 59 quilômetros de São Paulo

Ensino Fundamental 1 - 1º ao 5º ano

Desafios
Na primeira etapa do Ensino Fundamental, a Alfabetização é o foco principal. Os alunos, porém, também precisam construir outros saberes, como o matemático e o científico. Tudo isso está a cargo de um único docente, o professor polivalente. ''Se o conhecimento está separado por áreas, fragmentado, cabe ao coordenador ajudá-lo a fazer a articulação'', enfatiza Neide Noffs, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e assessora da Secretaria Municipal de Educação de Cajamar, na Grande São Paulo. ''O coordenador pedagógico e os professores têm de entender que a divisão em dois níveis é apenas uma formalidade, pois eles recebem crianças ainda em fase de preparação para um processo de escolarização de nove anos'', diz Maria Angélica Rodrigues Martins, professora da Universidade Católica de Santos.

Competências esperadas
- Domínio dos processos de aquisição da linguagem e conhecimento de boas experiências de Alfabetização.
- Clareza de que o ensino da leitura e da escrita está contido nos outros conteúdos curriculares.
- Capacidade de articular diferentes saberes, criando atividades que integrem as várias áreas de conhecimento.
- Base teórica sobre as etapas do desenvolvimento infantil.
- Observação aguçada para detectar eventuais deficiências de conteúdo e tentar saná-las, escalando outro docente da equipe para uma parceria ou solicitando orientação técnica.

Estratégias de trabalho
- Facilitar e estimular o acesso dos professores a conhecimentos específicos sobre processos de leitura e escrita e transformá-los em atividades de sala de aula.
- Ajudar os docentes na elaboração e/ou na escolha de materiais didáticos apropriados.
- Selecionar experiências bem-sucedidas e criar um arquivo para a consulta coletiva.
- Preparação de atividades que trabalhem a autonomia dos alunos.

 

Foto: Calil Neto
''Em nossa escola, começamos a preparar a equipe para receber as crianças no 6º ano já no fim do ano anterior. Os professores de 5º ano passam registros e portfólios.'' Rosane Oliveira Santos, coordenadora pedagógica do 6º ao 9º ano da Escola Lúcia Rosa, em Ibitiara, a 530 quilômetros de Salvador

Ensino Fundamental - 6º ao 9º ano

Desafios
O maior deles é lidar com os professores especialistas. E o coordenador tem de ganhar legitimidade sem entender profundamente da disciplina. ''Um dos equívocos mais frequentes nessa etapa é organizar o trabalho de coordenação pedagógica por área de conhecimento, escalando um profissional para cada uma'', diz Neurilene Martins Ribeiro, coordenadora do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep), organização não governamental responsável pela formação continuada dos coordenadores pedagógicos das escolas de 24 municípios da Chapada Diamantina, na Bahia. Segundo ela, o coordenador pedagógico deve orientar suas ações de formação no sentido de desenvolver no corpo docente um olhar ao mesmo tempo horizontal (''para dentro de cada série'') e vertical (''para a progressão entre os anos'').

Competências esperadas
- Visão integrada do ensino e da aprendizagem.
- Liderança e capacidade de articular um número maior de professores para reuni-los em diferentes ocasiões e ter familiaridade com técnicas de condução de grupo.
- Consciência de que seu papel é oferecer aos professores conhecimentos pedagógicos capazes de melhorar seu desempenho em sala de aula.
- Conhecimento sobre o desenvolvimento físico e emocional que acontece na transição da infância para a adolescência.

Estratégias de trabalho
- Orientar o grupo de professores do 6º ano para que discutam formas de receber os alunos.
- Nos horários coletivos de trabalho, abordar a leitura e a escrita como um compromisso de todas as áreas, e não apenas do professor de Língua Portuguesa.
- Organizar encontros por série a fim de reforçar a visão do grupo de como as crianças aprendem e discutir especificidades da classe.
- Promover formações por disciplina para proporcionar aos docentes uma visão vertical do ensino e criar um espaço de discussão de conteúdos específicos.

 

Foto: Gustavo Lorenção
''Uma das estratégias que usamos nas formações dos professores é eleger temas mais abrangentes, que interessem a quem ensina qualquer disciplina.''  Rita Fecher,coordenadora pedagógica do Ensino Médio da EE Dr. Adail Luiz Miller, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo

Ensino Médio

Desafios
Surge a preocupação com o futuro dos alunos, que pode envolver a continuidade dos estudos ou o ingresso no mercado de trabalho - questões que certamente surgirão nas turmas. Lidar os especialistas continua a ser problema, pois há mais disciplinas, muitas com carga horária reduzida. Nesses casos, é certo que mais professores ficarão menos tempo na escola. ''Isso dificulta a sua participação nos momentos de formação e o acompanhamento da sala de aula'', afirma Sílvia Cristina Pantano dos Santos, diretora da EE Dr. Adail Luiz Miller, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

Competências esperadas
- Habilidade de articulação para integrar professores de várias áreas.
- Conhecimentos sobre o desenvolvimento físico e emocional do adolescente.

Estratégias de trabalho
- Promover encontros para que os professores conheçam os meios de acesso ao ensino superior para que possam discutir com os alunos.
- Reunir textos sobre o desenvolvimento físico e emocional do adolescente e promover estudos sobre o tema.
- Promover reuniões por disciplina e com todos os professores de cada turma para integrar os esforços. 

 

Foto: Luciano Azevedo
''Sempre pesquiso e repasso aos professores reportagens, artigos, tudo o que encontro sobre EJA. Acompanho de perto os projetos didáticos desenvolvidos em sala.'' Graça Brito,coordenadora pedagógica de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da EM Emília Ramos, em Natal

EJA

Desafios
O principal é ajudar o professor a entender que adultos aprendem de forma diferente da criança e do adolescente e têm uma vida mais complexa, com emprego, família para sustentar, preocupações e estresse, fatores que influenciam a aprendizagem. Não por acaso, a evasão escolar é uma das grandes dificuldades. As turmas apresentam diversidade acentuada, com relação ao tempo fora da escola e ao contato com a escrita, e com frequência têm ideias já enraizadas. ''Muitos trazem a concepção de que se aprende a ler juntando as sílabas e são resistentes a qualquer proposta diferente'', diz Edneide da Conceição Bezerra, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Competências esperadas
- Conhecimento das diretrizes curriculares específicas da EJA.
- Compreensão dos mecanismos de aprendizagem do adulto desde a Alfabetização.
- Facilidade de lidar com a diversidade e capacidade de criar estratégias de ensino versáteis a fim de atender a diferentes necessidades ao mesmo tempo.

Estratégias de trabalho
- Orientar os professores a fazer o diagnóstico das turmas para ajustes no planejamento.
- Preparar a equipe para ensinar os processos básicos de estudo, como tomar notas das aulas, trabalhar em grupo e fazer pesquisa.
- Organizar reuniões sobre hipóteses de escrita.
- Estimular o aproveitamento do repertório cultural e social que os estudantes trazem no planejamento das aulas.

 

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