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Coordenador pedagógico também precisa de formação continuada

Algumas Secretarias de Educação já oferecem tutoria e cursos específicos aos responsáveis pela formação da equipe docente

POR:
Dagmar Serpa
Carmem usa a estratégia de filmar as aulas, aprendida durante formação de coordenadores, para aprimorar a prática pedagógica. Foto: Gustavo Lourenção
EM AÇÃO Carmem (com a filmadora) usa a estratégia de filmar as aulas, aprendida durante formação de coordenadores, para aprimorar a prática pedagógica

Ter competência para desenvolver o seu papel e buscar aperfeiçoamento constante são as principais características de um bom coordenador pedagógico. E é a Secretaria de Educação que deveria se responsabilizar pela sua formação. Essa é a opinião dos próprios coordenadores pedagógicos, segundo apurou o estudo da Fundação Victor Civita que traçou o perfil desse profissional. Contudo, não é isso que acontece em boa parte do país: 38% dos entrevistados afirmam receber capacitação da Secretaria e 36% procuram por si mesmos meios de se atualizar e estudar, lendo livros e revistas especializadas, frequentando cursos e palestras e navegando na internet (veja gráficos abaixo).

''Além de haver pouca oferta, o que existe deixa a desejar'', afirma Eliane Bambini Gorgueira Bruno, professora da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). É comum as Secretarias convocarem os coordenadores para as mesmas palestras e oficinas destinadas aos professores - o que às vezes é necessário, mas está longe de ser o suficiente. A formação continuada do coordenador tem de prever uma orientação constante no local de trabalho, nos moldes de uma tutoria, e permitir a troca de experiência entre os pares. ''As redes devem ter uma equipe de supervisores e cada um se responsabilizar pelo acompanhamento de um grupo de formadores'', defende Cybele Amado, do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep), da Bahia. Somente com essa combinação, é possível identificar as necessidades da função e trabalhar os conteúdos indispensáveis a todos que estão no cargo (leia o quadro da página três).

Essa receita já é usada por algumas Secretarias de Educação, como a de São José dos Campos, a 95 quilômetros de São Paulo. ''Os orientadores pedagógicos das escolas, que é como chamamos os coordenadores, têm o acompanhamento dos orientadores da Secretaria. Há também o trabalho das equipes de referência, formada por quatro membros - um supervisor de ensino e três especialistas (um nos anos iniciais do Ensino Fundamental, outro nos anos finais e um terceiro em inclusão. Cada uma é responsável por cinco escolas'', conta Márcia Suení Cintra, coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação.

Foi graças a tal estratégia que Carmen Lúcia Silveira Cruz Fiebig, coordenadora pedagógica da EMEF Professora Ana Berling Macedo, diz ter aprimorado as ferramentas de trabalho. Há dez anos na função, ela aprendeu recentemente a fazer a tematização da prática e começou a utilizá-la com os docentes. ''Já analisava com os professores as atividades desenvolvidas em sala de aula com base na teoria, utilizando para isso a produção dos alunos. Em todo o processo de formação continuada, aprendi outro procedimento: a gravação em vídeo das aulas'', afirma Carmen, Com mais esse instrumento - que permite visualizar a interatividade dos alunos com as propostas, os colegas e a professora -, a reflexão ficou mais rica. ''Fiz o trabalho por etapas, pois para implantar a tematização é fundamental, antes, ter a confiança de toda a equipe e estabelecer uma boa parceria com ela.''

Quem deveria se responsabilizar pela formação do coordenador

Secretaria da Educação
Situação ideal
Na realidade
64
38
Diretor da escola/vice-diretor/adjunto/assistente de direção
17
25
Consultores/especialistas ligados à Secretaria
14
11
Eu mesmo procuro me atualizar e estudar
5
36
Universidades
-
1

Como você se atualiza?

Leio livros ligados a assuntos pedagógicos

74%

Leio revistas especializadas em Educação

63%

Participo de cursos/palestras ligados à Educação

62%

Navego na internet, em sites de Educação

61%

Navego na internet, em sites de notícias em geral

32%

Leio revistas e jornais de notícias em geral

28%

Discuto com meus colegas coordenadores ou com professores

21%

Leio livros de interesse geral (romances, biografias, livros-reportagem)

16%

Criação de grupos de estudo facilita o intercâmbio de conhecimentos

A troca de experiências entre os pares é um dos pilares do programa Revitalizando a Formação, iniciado há quatro anos pela Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá, com o objetivo de valorizar o coordenador pedagógico. Primeiro, uma consulta foi feita a todos os profissionais da área com o objetivo de traçar um diagnóstico das necessidades formativas gerais - dos conteúdos que eles precisavam aprender ou se aprofundar e das carências das respectivas equipes docentes. Sete grandes temas foram levantados. Entre eles, a importância, a elaboração e a implantação do projeto político-pedagógico. ''Para tratar desse assunto, em vez de optar por oferecer cursos e palestras, nossa estratégia foi instituir grupos de estudos, chamados de Rodas de Conversa'', explica Elenir Honório do Amaral, diretora de ensino da Secretaria.

No começo, além de encontros com todos os coordenadores da rede, era promovida uma reunião por mês entre os que atuavam numa mesma área geográfica. Hoje, esse critério mudou: os educadores são agrupados de acordo com o segmento em que atuam. ''Ficou mais fácil planejar o trabalho que eles farão com as respectivas equipes e compartilhar experiências'', observa Elenir. Os encontros são conduzidos pelos assessores pedagógicos da rede - que acompanham de uma a quatro escolas.

O diagnóstico constante das demandas é parte importante em um bom trabalho de formação continuada. A Secretaria Municipal de Educação de Curitiba divide a cidade em nove regiões. ''Em cada uma, há um Núcleo Regional, munido com técnicos que têm uma rotina de acompanhamento às unidades para dar assessoramento direto aos pedagogos (nome dado aos coordenadores)'', explica Eloina de Fátima Gomes de Santos, diretora do Departamento de Tecnologia e Difusão Educacional da Secretaria. Existem ainda vários canais de comunicação com as escolas, como o site - pelo qual chegam dúvidas e comentários - e a avaliação feita pela rede, composta de duas provas anuais para os alunos, com questões de todas as disciplinas. ''Os resultados revelam dificuldades bem específicas e fornecem os caminhos para repensar a formação'', afirma Maria José Serenato, diretora do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria de Educação local. Os dados também são usados na definição dos cursos oferecidos pelo Centro de Capacitação da rede tanto aos coordenadores como os professores - nesse caso, eles são abertos aos líderes pedagógicos que quiserem participar.

As fórmulas que as secretarias usam para capacitar os coordenadores mudam de um sistema para o outro, mas um ponto é unânime entre os que estão no caminho certo. ''A formação deve acontecer também dentro da escola'', enfatiza Vera Cabral, coordenadora da Escola de Formação de Professores da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. E isso vale para todos: diretores, vices, coordenadores pedagógicos e professores. Para que isso ocorra, o sistema paulista hoje centra sua atuação no modelo da Rede São Paulo de Formação Docente (Redefor), que funciona em parceria com as universidades estaduais paulistas com a finalidade de oferecer cursos de especialização formatados para cada uma das categorias profissionais.

Dirigido aos coordenadores, há, por exemplo, a especialização em Gestão de Currículo. Ela ressalta que os programas mesclam conteúdos trabalhados a distância com oficinas que são realizadas na unidade em que trabalham os profissionais participantes do curso, com a presença de um supervisor da Secretaria: ''Acreditamos que essa é a verdadeira formação contínua em serviço porque não é composta de eventos esporádicos e não tira ninguém da escola''.

10 conteúdos indispensáveis nos programas de formação dos coordenadores pedagógicos

Itens que não podem faltar nos programas de formação dos coordenadores pedagógicos

1 Visão da identidade profissional Para acertar o foco do trabalho, é importante que o coordenador compreenda que a sua função na escola é a formação em serviço do corpo docente.

2 Concepção de formação continuada Já que essa é a essência do trabalho, é preciso aprofundar a ideia de que cuidar do aprimoramento contínuo dos docentes não significa apenas encaminhá-los a cursos e oficinas da Secretaria de Educação nem repassar conteúdos prontos. É, sim, um acompanhamento do dia a dia da escola - o que inclui o monitoramento constante das práticas em sala de aula.

3 Relações interpessoais Como articulador do projeto político-pedagógico e líder dos docentes, ele deve ter a capacidade de observar e escutar, que pode ser desenvolvida com o tempo e, de tão importante, chega a ser um pré-requisito para adquirir legitimidade junto à equipe.

4 Condução de grupo Para conduzir o horário de trabalho coletivo e as reuniões setorizadas por série e disciplina, é necessário conhecer os diferentes estilos de liderança e identificar o seu, além de aprender sobre o funcionamento de grupos - basicamente, quem pode influenciar quem, por que e de que forma.

5 Planejamento Esse conhecimento é importante para elaborar pautas produtivas dos horários de trabalho coletivo e das reuniões setorizadas, assim como orientar os professores na sistematização de atividades, sequências e projetos didáticos e ainda pensar em estratégias para melhorar o ensino.

6 Estratégias de avaliação Saber acompanhar o desempenho e o desenvolvimento de cada professor é uma das competências que o coordenador precisa ter. Para tanto, tem de ser orientado sobre as ferramentas disponíveis para avaliar o trabalho em sala de aula.

7 Instrumentos metodológicos Quais documentos são essenciais para o trabalho de formador, como utilizá-los e como arquivá-los são saberes indispensáveis para esse profissional. Os planejamentos dos docentes, por exemplo, dão pistas fundamentais sobre as necessidades de ensino que precisam ser supridas.

8 Conhecimentos didáticos Somente conhecendo as peculiaridades das diferentes fases de desenvolvimento da criança e do adolescente e a forma como se aprende em cada uma é possível avaliar se os métodos usados em sala de aula são apropriados para os alunos. Mas o coordenador precisa também saber como os adultos aprendem, já que conduz os professores em um processo no qual eles ensinam e aprendem ao mesmo tempo.

9 Tematização da prática A estratégia de refletir, à luz de teorias da Educação, sobre as boas práticas em sala de aula - em geral, registradas em vídeo - é peça-chave no trabalho do líder pedagógico, pois ela permite que os professores aprendam assistindo aos pares em ação.

10 Compartilhamento de boas experiências O formador precisa saber como montar um arquivo de boas experiências aberto a consultas na própria escola ou na internet. Afinal, se um professor fez um projeto que contribuiu para a aprendizagem dos alunos, por que não compartilhá-lo com os colegas para que conheçam e aproveitem a ideia?