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Mudança de função do coordenador com bases legais

Município de Minas Gerais redefine a atividade da coordenação pedagógica e valoriza os momentos de estudo

POR:
Verônica Fraidenraich

A falta de uma política de formação continuada dos professores no contexto de trabalho era o principal problema da rede de ensino de Governador Valadares, a 323 quilômetros de Belo Horizonte. Nem todas as escolas tinham um coordenador pedagógico e, nas que havia, ele não era orientado a priorizar os horários de estudo coletivo, ocupando a maior parte do seu tempo com outras questões do cotidiano escolar, como o atendimento de alunos indisciplinados, a substituição de professores e até a compra do gás para não comprometer o preparo da merenda. Isso ocorria porque não existia uma formação diferenciada para esses profissionais, que participavam dos mesmos encontros destinados aos docentes. "Eles tinham apenas algumas reuniões na secretaria, no início do ano, para falar de currículo e outros assuntos gerais", lembra Geni Maria Amorim Aguiar, coordenadora do Ensino Fundamental da Secretaria de Educação do município.

Assim, os poucos momentos de formação em serviço dependiam muito mais do esforço individual do coordenador do que de um planejamento estruturado e seguido por toda a rede. "Eu programava o encontro sozinha, de acordo com o que achava que era certo. Fazia uma sondagem com os professores para saber o que eles queriam aprender. E ainda encontrava resistência, pois muitos não gostavam da parte teórica", recorda Letician de Vasconcellos, coordenadora pedagógica da EM Vereador Hamilton Teod. Os docentes, por sua vez, trabalhavam cada um a seu jeito, sem sintonia ou direcionamento quanto às práticas didáticas, prejudicando o avanço dos alunos e os processos de ensino e aprendizagem. Todo esse cenário atrapalhava o bom andamento das escolas.

A rotina do coordenador
Reestruturação do sistema de ensino em Governador Valadares valoriza o horário da formação

Ilustração: Mario Kanno

- Cada supervisor cuida de 3 escolas (2 urbanas e 1 rural) 

Ele visita cada escola uma vez por semana (e troca emails para discutir a pauta da formação e outros assuntos com o CP, chamado de pedagogo) 

- Os pedagogos têm carga de 40 horas semanais, sendo:

Atividades de 40 horas

- Há também pedagogos com carga de 22 horas e 30 minutos semanais:

Atividades de 22 horas e 30 minutos

Destaque do papel do formador levou a uma motivação maior dos docentes

Para mudar esse panorama, em 2004, o sistema de ensino foi reestruturado, estabelecendo novas atribuições aos profissionais da secretaria e às equipes gestoras, com base no Estatuto do Magistério Público Municipal e em legislação complementar. As mudanças foram normatizadas seis anos depois com a Resolução 07/2010 de Governardor Valadares.

A função do coordenador pedagógico, lá chamado de pedagogo, que já existia, mas não priorizava a formação continuada dos professores, passou por uma reformulação. Esse profissional adquiriu tarefas como acompanhar e avaliar o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem, coordenar a construção do projeto político-pedagógico e facilitar a interação com as famílias e a comunidade. Também foi definido que cada escola deveria ser acompanhada por um supervisor da secretaria, que, por sua vez, cuidaria de três unidades educacionais. Esse profissional é responsável por atividades como pesquisar, selecionar e produzir materiais para a formação dos professores, dar suporte às equipes e organizar os encontros de formação em serviço para diretores, pedagogos e professores dos diferentes segmentos.

Desde então, cada uma das 51 instituições de ensino da rede (28 urbanas e 23 rurais) conta em seu quadro com pelo menos um pedagogo responsável pela formação da equipe docente. Esse coordenador passou a ter dois encontros mensais com a equipe da secretaria, nos quais são tratados aspectos relacionados às didáticas e à forma como colocar em discussão com os professores os conteúdos de formação. Além disso, os supervisores procuram manter um contato constante com os pedagogos, trocando e-mails e fazendo trabalho de campo semanal para acompanhar o que está sendo feito. "Agora, a gente fica sabendo de tudo o que acontece na escola e não abandona mais os gestores", afirma Geni.

Os diretores também são orientados a desenvolver um trabalho articulado com a própria equipe, de forma a assegurar tempo, espaço e estrutura para o horário de trabalho pedagógico coletivo. "O gestor discute a pauta da formação com a gente e nos dá respaldo inclusive de material", explica Letician.

Hoje, passados mais de sete anos da reestruturação, a rede já tem motivos para comemorar. A nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do município para os alunos do 9° ano aumentou de 2,8, em 2005, para 4, em 2009 - mesma pontuação que serve de referência para a média nacional. Já no 5° ano, o índice passou de 3,7 para 5 - sendo que a média do país é de 4,6. "Usamos os resultados dos exames internos e externos para discutir os fatores que contribuíram positiva e negativamente e assim pensar no planejamento do ano seguinte", relata Geni.

Para os coordenadores pedagógicos, a maior conquista foi ver sua atuação valorizada na escola e, ao mesmo tempo, perceber um interesse crescente dos professores pela formação em contexto de trabalho. "Se antes a gente tinha de insistir para eles não faltarem, hoje eles gostam de estudar, conseguem pontuar as dificuldades com mais clareza e se tornaram mais exigentes, fazendo com que a gente se esforce para melhorar cada vez mais", conta Letician.

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