Coordenador pedagógico também precisa de formação
Além de aumentar a oferta de formação continuada para os coordenadores pedagógicos, deve-se investir na qualidade dos conteúdos
POR: Dagmar Serpa
Eles parecem não ter muita consciência disso, mas o quadro é de falta de preparo para o exercício da função. Metade dos entrevistados na pesquisa com coordenadores pedagógicos acredita que o ensino superior garantiu capacitação para o desempenho desse papel e 67% declaram já ter feito cursos de 40 horas ou mais oferecidos a quem ocupa esse posto. Isso, porém, não significa que eles estejam habilitados a cumprir suas tarefas. "Não existem programas que capacitem esse profissional a ser o formador de professores, o articulador do projeto político-pedagógico e o transformador da escola", afirma Vera Trevisan de Souza, docente pesquisadora do programa de pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e integrante do grupo de pesquisa Processos de Constituição do Sujeito em Práticas Educativas. "Além disso, na maioria das redes, essa é uma função para a qual um professor experiente é deslocado, e não um cargo concursado, que exige um conjunto de competências."
A pergunta que fica é: afinal, por que falta capacitação se esse é o primeiro pré-requisito citado pelos próprios coordenadores para ter um bom desempenho profissional (veja o gráfico acima)? Ocorre que nem o curso de graduação (em geral, Pedagogia) nem a experiência docente (que a maioria tem) garantem um bom preparo. E, depois da estreia na função, quase não há oferta de formação. Para 64% dos pesquisados, a Secretaria de Educação deveria se responsabilizar por seu aperfeiçoamento, apesar de apenas 38% dizerem que esse cenário é a realidade. "É comum as Secretarias convocarem para as mesmas oficinas oferecidas aos docentes", diz Eliane Gorgueira Bruno, doutora em Psicologia da Educação, da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC).
A formação em serviço não pode se limitar a cursos esporádicos. Ela só fica completa quando há a orientação presencial constante de um supervisor e permite a troca de experiência com os pares. Cybele Amado, coordenadora do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep), responsável pela formação dos gestores escolares de 24 municípios da Chapada Diamantina, na Bahia, defende que o ideal é que, além de firmar parcerias com universidades e organizações não governamentais, as Secretarias de Educação tenham supervisores técnicos e cada um cuide de um grupo de coordenadores. Esse é um modo eficiente de identificar necessidades de conhecimento específicas e combiná-las aos saberes essenciais a todos que estão na função. Confira aqui dez conteúdos indispensáveis à formação desse profissional.
Registro e reflexão
"Os profissionais que orientávamos mostravam dificuldade em acompanhar o que os docentes haviam aprendido com a formação na escola e no que ainda precisavam melhorar. Por isso, abordamos os registros das práticas em sala de aula como material para a reflexão. Fizemos um seminário e uma experiência piloto de dois meses em que cada coordenador trabalhou com dois professores."
Marilda Ramos, formadora de coordenadores pedagógicos do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa em Wagner, a 388 quilômetros de Salvador
"Eu não tinha noção de quantos registros são gerados no dia a dia antes da formação sobre escritas profissionais. Achava que documentar era só escrever relatórios enormes. Mas os planos de aula dos docentes, a caderneta de chamada e a produção dos alunos também são registros da prática. Vi que analisá-los é um importante instrumento para avaliar o ensino e o aprendizado."
Leila Soares Santana, coordenadora do Ensino Fundamental II na EM Cachoeirinha e na EM São Sebastião de Utinga, em Wagner
Planejar é preciso
"Visitando as escolas, notei que os professores identificavam as dificuldades dos alunos, porém não conseguiam desenvolver planos de aula que os fizessem avançar e os coordenadores não sabiam como ajudá-los. Decidi explorar o planejamento de atividades na formação. Eles precisavam entender a importância de ter rotinas e receber orientação sobre como criar estratégias eficientes."
Eduarda Diniz Mayrink, formadora de coordenadores da Secretaria Municipal de Educação de Rio Piracicaba, a 130 quilômetros de Belo Horizonte
"Depois da formação, iniciei um trabalho para que os professores percebam a importância de seguir rotinas, ou seja, ter um plano e cumprir o programado. Após discutir o tema com o grupo, passei a elaborar junto com os docentes o planejamento das rotinas a seguir em sala de aula. Foi assim por dois anos, até que cada um começou a planejar sozinho."
Kátia Adriana Saltori, coordenadora pedagógica de Educação Infantil e do Ensino Fundamental I de cinco escolas rurais de Rio Piracicaba
Parâmetros para avaliar
"Trabalhava diretamente com os docentes da rede e notei que os assessores pedagógicos (nome da função no município) não sabiam orientar os professores de Educação Física. Por isso, preparei uma formação só nessa área. Detalhei o planejamento da disciplina e dei um roteiro para que conseguissem avaliar as aulas e intervir. Agora visito as escolas apenas para acompanhar o trabalho."
Lílian Rolim Correira, assistente pedagógica de Educação Física da Secretaria de Municipal Educação de Cajamar, na Grande São Paulo
"Antes, o professor de Educação Física da escola apresentava seu planejamento semestral e eu só avaliava se estava condizente com os parâmetros da rede. Sem conhecimentos sobre a área, me sentia insegura para examinar o conteúdo e as didáticas. Na formação, aprendi a avaliar os planos de aula. Agora, faço uma boa parceria com o docente da disciplina e sempre sugiro melhorias."
Keilly Molico Feitosa dos Reis, assessora pedagógica de Educação Infantil na EMEB Jailson Silveira Leite, em Cajamar
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