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Como melhorar o clima do ambiente de trabalho

Avaliações internas dão ao gestor informações preciosas sobre o nível de satisfação de todos os integrantes da comunidade escolar

POR:
Dagmar Serpa
A diretora Adriana Aguiar analisa indicadores de clima com a equipe. Foto: Ceila Menezes
GESTORA EM AÇÃO A diretora Adriana
Aguiar analisa indicadores de clima
com a equipe

Os professores e funcionários gostam de trabalhar na escola? Os alunos se sentem acolhidos? E os pais, que imagem têm do lugar em que os filhos estudam? As respostas para questões como essas podem ser fornecidas com a realização de uma pesquisa de clima. Semelhante às feitas nas grandes empresas, ela ajuda o gestor a planejar ações e tomar decisões, pois fica conhecendo a opinião e a percepção de todos os membros da comunidade escolar sobre pontos que determinam se o lugar é bom ou não para ensinar e aprender. Os temas que são investigados geralmente se referem aos vínculos interpessoais, ao fluxo interno e externo de informação, à imagem da gestão, às regras de disciplina, aos métodos de ensino, às atividades extracurriculares, à infraestrutura e aos serviços e processos.

"As avaliações servem para detectar problemas e apontar soluções", afirma o professor José Marcelino de Rezende Pinto, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto. "As que já existem para medir desempenho, como Prova Brasil e similares, são importantes, mas a autoavaliação fornece outro tipo de dado." Segundo ele, quanto mais ampla a oferta de indicadores, mais preciso será o diagnóstico.

Um questionário específico para pesquisar cada segmento

Na EE Presidente Costa e Silva, em Gurupi, no Tocantins, a diretora Adriana da Costa Pereira Aguiar, há dez anos no cargo, faz esse tipo de aferição desde 2008. Duas vezes por anos, ela distribui diferentes questionários para serem respondidos por pais, professores, funcionários e alunos. Os resultados são cruzados, transformados em gráficos, expostos em murais e analisados e serão usados como guias para o planejamento do semestre. Adriana adotou essa rotina depois de participar do projeto Liderança nas Escolas, do British Council, órgão britânico de promoção de oportunidades em Educação. A experiência a fez rever sua concepção de gestão democrática. "Achava que era preciso que todos participassem dos processos de decisão sempre. Contudo, descobri que, na maioria das vezes, eu preciso apenas conhecer o que todos pensam para resolver cada questão com segurança", ela conta.

Algumas fragilidades apareceram logo na primeira sondagem. "Havia a falta de comunicação com os pais", conta Adriana. As pistas foram fornecidas por respostas a perguntas como 'Você é informado(a) periodicamente sobre o desempenho escolar de seus filhos?' e 'A escola ouve e considera suas opiniões sobre as aulas dos professores?', presentes no questionário dirigido às famílias. Uma das medidas para superar essa falha foi a adoção da agenda escolar para os alunos do 6º ao 9º ano, na qual é possível acompanhar a rotina de estudante do filho e se comunicar com a escola.

Outro questionário - preenchido pelos professores - indaga se a escola propicia, incentiva, acompanha e avalia o planejamento coletivo e oferece a oportunidade de propor, criar e realizar atividades na sala de aula e na escola como um todo. As respostas dadas pelos docentes deram pistas de que havia pouca interação entre eles e também com os gestores. "Resolvemos isso implantando uma reunião semanal com a equipe toda", conta Adriana. A diretora atribui à melhoria do clima parte do sucesso obtido pela escola no último teste do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que passou de 3,7, em 2007, para 5,1, em 2009.

Os especialistas atestam que essa relação de causa e efeito existe de fato: "Um ambiente de confiança recíproca cria um clima favorável e, quando isso ocorre, a tendência é obter um melhor desempenho na aprendizagem", confirma Marcio da Costa, professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "O clima é um conjunto de expectativas recíprocas, que influenciam o comportamento das pessoas. Se aquelas forem altas, todos passam a agir de forma a alcançar objetivos elevados e o ambiente se torna produtivo. O contrário também é verdadeiro."

Amostra maior ou profundidade nas respostas? Opção pelos dois

A diretora Adriana Aguiar debate temas de reflexão para o ano. Foto: Ceila Menezes
GESTORA EM AÇÃO A diretora Adriana
Aguiar debate temas de reflexão
para o ano

É possível investigar o clima de maneira quantitativa ou qualitativa. O primeiro tipo usa questionários para obter o maior número possível de respostas. Nesse caso, os participantes podem ou não se identificar. "O anonimato tem a vantagem de minimizar o medo de punições ou a tentação de agradar o gestor, o que faz com que os problemas realmente apareçam", afirma José Valério Macucci, professor do Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa e consultor de empresas, em São Paulo. O outro modelo aposta em opiniões mais profundas, colhidas em pequenos grupos de discussão (leia o projeto institucional da página 47, que combina as duas modalidades).

A organização não governamental Ação Educativa, de São Paulo, aposta no método qualitativo no Indique (Indicadores da Qualidade na Educação), método de avaliação desenvolvido em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Ministério da Educação (MEC). "O material foi concebido para unidades de Ensino Fundamental, mas já foi aplicado em escolas que trabalham com outros segmentos e funcionou. A proposta é avaliar sete dimensões do ambiente escolar", diz Claudia Bandeira, coordenadora do projeto. Cada dimensão inclui um conjunto de indicadores. Entre eles, estão alegria, respeito ao outro, amizade e solidariedade. A recomendação é que as perguntas sejam respondidas em grupos, formados por professores, funcionários, alunos e pais. Juntos, eles decidem por consenso se o assunto merece verde (sinal que está tudo ótimo), amarelo (para os pontos que pedem atenção) ou vermelho (é preciso tomar providências urgentes).

Envolvimento é a chave para acabar com a resistência

Qualquer investigação sobre o clima de trabalho deve começar pelo convencimento da equipe por meio da explicação de sua utilidade. "Na primeira vez, sempre há desconfiança", conta Vania Momesso Munhoz, diretora da EE Professor Juvenal Machado de Araújo, em São José dos Campos, a 97 quilômetros da capital paulista. Para deixar tudo muito transparente, ela conversou informalmente com professores e funcionários e marcou reuniões individuais com eles. Vencida a resistência, Vania iniciou o processo, usando na primeira vez o questionário do Indique e depois montou o próprio roteiro, numa avaliação institucional que engloba cerca de 100 questões. Os resultados são analisados juntamente com os de outras sondagens, como a autoavaliação que os alunos fazem periodicamente. "Montamos um sistema de diagnóstico permanente, de modo que essas iniciativas já estão no nosso calendário", explica a diretora. "Criamos uma nova mentalidade. Hoje todos se sentem mais responsáveis pela escola e estão mais engajados."

Uma iniciativa simples que contribuiu para a melhoria do clima: por causa de respostas dos estudantes a diferentes questões sobre relações interpressoais, como "O ambiente da escola favorece a amizade?", descobriu-se que havia pouca interação entre os alunos de idades diferentes. Por sugestão dos próprios, os maiores começaram a ler para os menores, o que aumentou, segundo a gestora, o clima de amizade e solidariedade entre todos.

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