Como os gestores são escolhidos em outros países
Conheça as diferentes maneiras de seleção de diretores em países com bom desempenho escolar em avaliações internacionais
POR: Dagmar SerpaNo ranking geral de 2009 do Pisa - sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos -, a Finlândia, a França e o Reino Unido aparecem na primeira metade da lista. Respectivamente, na terceira, na 22ª e na 25ª posição. O Brasil ficou em 53º lugar, entre os 65 países que participaram do exame. Isso faz pensar no que fazer para aprimorar o ensino nas escolas públicas brasileiras (que concentram 85,4% das matrículas na Educação Básica no país) para mudar esse quadro. Alguns especialistas defendem que pôr à frente delas bons gestores é um bom começo. "O despreparo de um diretor afeta diretamente a docência e a aprendizagem de crianças e jovens. É difícil melhorar a qualidade do ensino sem a atuação de um líder pedagógico", diz Elvira Souza Lima, pesquisadora em desenvolvimento humano e consultora em Educação.
Por aqui, o diretor é predominantemente escolhido por eleição ou por indicação (como mostrado nesta reportagem). "São dois sistemas de seleção que valorizam mais o critério político e menos o profissional", opina Marta Luz Sisson de Castro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Heloísa Lück, coordenadora da pesquisa encomendada pela FVC, acredita que a tendência mundial aponta para a profissionalização: "O que se percebe ao estudar o acesso ao cargo em outros países é que as exigências técnicas e a formação estão cada vez mais presentes nos processos de escolha dos gestores". Para garantir que os mais bem qualificados cheguem lá, a Finlândia, por exemplo, permite a candidatura apenas de quem tem especialização em gestão escolar. Na Inglaterra, exige-se uma formação específica chamada National Professional Qualification Headship. Na França, quem é escolhido para dirigir uma escola de nível equivalente ao Fundamental II e ao Ensino Médio faz uma espécie de imersão: antes de assumir definitivamente o cargo, deve ser diretor assistente por dois anos e passar por cursos que alternam estágio prático e teoria fora da escola. Leia sobre a seleção em outros países abaixo.
Fontes Adrian Ingham (consultor de escolas em Londres), Centro de Informação e Pesquisa do Consulado Geral dos Estados Unidos, Consulado Geral da República da Coreia, Consulado Geral do Chile, Elvira Souza Lima (consultora em Educação), Embaixadas do Canadá, da Finlândia e da França, Eurydice (rede de informação e análise sobre a Educação europeia), Heloísa Lück (do Centro de Desenvolvimento Humano Aplicado), Marta Luz Sisson de Castro (da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), Ministério de Educação do Chile e Ray Tarleton (diretor regional no National College, instituto formador de gestores na Inglaterra).
Canadá As províncias têm autonomia para criar regras próprias de seleção. Em Ontário, a mais populosa de todas, a lista de pré-requisitos inclui ter especialização ou mestrado e um curso de capacitação no Principal?s Qualification Program. Em geral, a seleção mescla entrevista e provas.
Inglaterra O pretendente, que precisa cursar um programa de formação de cerca de um ano, passa por entrevista e provas oral e escrita. Os testes variam de acordo com o perfil de gestor que se procura para cada instituição. O candidato pode ter de analisar um projeto institucional ou participar de debate com os concorrentes.
Espanha Os aspirantes devem ter experiência como professor por cinco anos e apresentar um projeto de gestão para a escola. Quem é escolhido passa por formação inicial e só depois é nomeado. O mandato é de quatro anos e pode ser renovado.
França O nível equivalente ao nosso Fundamental I escolhe o diretor por entrevista realizada por um comitê e precisa ter dois anos de experiência de ensino. Já para as escolas de outros segmentos, os candidatos passam por um concurso de duas etapas, com apresentação diante de uma banca e entrevista.
Finlândia O candidato precisa comprovar experiência como professor, ter especialização em gestão e passar por análise de currículo e entrevista. Ao assumir, tem orientação permanente do órgão público de Educação local, que oferece formação em serviço. Pode ficar no cargo até se aposentar.
Estados Unidos Cada estado define suas normas, mas a maior parte do país exige algum tipo de certificação. A permanência no cargo depende de desempenho e a avaliação dos diretores é feita por conselhos de Educação locais, chamados de School Boards.
Chile Uma comissão qualificadora se forma para definir e anunciar o perfil do profissional desejado para a escola. Os candidatos têm de fazer concurso público e apresentar uma proposta de trabalho para a escola. O mandato é de cinco anos.
Portugal Os candidatos devem ter cursado Administração Escolar e apresentar um plano de ação para determinada escola, pelo qual um deles é escolhido, por voto secreto, pela assembleia eleitoral, que reúne representantes de toda a comunidade escolar. O mandato é de três anos.
Austrália O departamento de Educação de cada estado ou território é responsável pela seleção de seus diretores. Mas é o conselho da escola que comanda o processo. O escolhido assina um contrato de trabalho em que são definidas metas para a escola - pelas quais ele será cobrado.
Coreia do Sul Depois de fazer um curso, o pretendente deve atuar como vice-diretor antes de assumir uma escola. O diretor tem metas objetivas a cumprir e presta contas ao poder público. Pode ficar no cargo quatro anos, com direito a um segundo mandato na escola.