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Formação de diretores não atende às demandas do dia a dia

Embora as secretarias invistam em formação, os programas oferecidos não ajudam os diretores a enfrentar os desafios cotidianos do cargo

POR:
Dagmar Serpa
Capacitações para diretores
Capacitações para diretores
Métodos utilizados pelas 23 secretarias que
declararam oferecer programas de formação

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Investimentos existem. Nada menos do que 23 das 24 secretarias estaduais de Educação que responderam à pesquisa da Fundação Victor Civita (FVC) declararam ter oferecido programas de formação para os diretores escolares nos últimos cinco anos. Eles são ministrados das mais diversas formas: com profissionais internos da Secretaria de Educação ou instituições contratadas especificamente para essa finalidade (veja na ampliação do infográfico ao lado). Em média, o Brasil gasta anualmente cerca de 1.810 reais por gestor em cursos, oficinas, seminários, palestras e iniciativas semelhantes para que eles aprimorem seus conhecimentos e trabalhem com mais segurança (veja gráfico abaixo). O problema, no entanto, não é a ausência de oferta, mas o tipo de formação colocada à disposição dos gestores.

O estudo mostra que os conteúdos tratados nos encontros oferecidos ou são muito teóricos e pouco úteis para ajudar a enfrentar as demandas do dia a dia, ou excessivamente técnicos, não contextualizando os problemas de gestão. Falta espaço para a promoção de debates e para a troca de experiências e reflexões sobre a prática da gestão.

Quanto se investe em formação

Média nacional e por região de quanto se gasta por ano em capacitação por diretor

Quanto se investe em formação

Cursos com carga horária reduzida não são suficientes

Campeões de carga horária
Campeões de carga horária
Os estados que oferecem mais de 360 horas
por ano de formação para seus diretores (tempo
equivalente à duração de uma especialização)

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Para dar maior segurança ao diretor, alguns estados oferecem uma capacitação inicial que o ajude a ter uma visão geral do conjunto da escola, do seu papel de líder e dos novos desafios que irá assumir. No Amazonas, onde a seleção é feita por indicação, os candidatos precisam ter uma pós-graduação ou participar do Programa de Capacitação a Distância para Gestores Escolares (Progestão), oferecido pela Secretaria de Educação, em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). O curso dura cerca de 300 horas e é feito predominantemente a distância. Já no Mato Grosso do Sul, onde os diretores são escolhidos por eleição, os interessados fazem uma capacitação prévia de 40 horas e passam por prova de conhecimentos. "Só pode pleitear o cargo quem tiver pelo menos 50% de aproveitamento", explica Vera Lúcia Campos Ferreira, da Superintendência de Políticas para Educação da Secretaria Estadual de Educação do Mato Grosso do Sul.

Contudo, cursos com carga horária tão reduzida não são suficientes para uma boa formação. "O diretor tem de saber gerir tudo, de gente, merenda e dinheiro à parte pedagógica. Ele necessitaria de formação regular no contexto de trabalho de pelo menos um ano", afirma Tereza Perez, diretora executiva da Comunidade Educativa Cedac. "É uma função complexa, que lida com muita gente e envolve ações diversas. Logo, requer uma boa preparação", acrescenta Tereza. Nesse sentido, mais importante do que a capacitação inicial é a formação em serviço, que deve ser oferecida pelas secretarias de Educação de forma frequente e focada nas mais variadas temáticas que envolvem a gestão. Ele pode abranger, entre outros assuntos, orientações sobre como analisar as variáveis que impactam no resultado de um indicador de desempenho, as melhores maneiras de planejar estratégias para corrigir as deficiências apontadas e formas diferenciadas de a escola se aproximar da comunidade. O essencial, contudo, é poder compartilhar experiências para conhecer como outros gestores solucionaram problemas semelhantes. Até mesmo reuniões para discutir orientações técnicas - como a divulgação de normas e procedimentos e o estudo de uma nova legislação, que tendem a ser vistos como pouco relevantes e meramente burocráticas - têm sua importância. "Qualquer encontro das secretarias com os gestores pode se tornar um momento de formação. O importante é que os conteúdos sejam trabalhados com foco na promoção da qualidade da Educação", afirma a pedagoga Roberta Panico, coordenadora da Comunidade Educativa Cedac e consultura pedagógica da revista NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR.

Ter uma estrutura de formação continuada ajuda a estabelecer uma relação de parceria entre os gestores e a secretaria. Consequentemente, os diretores se sentirão amparados e com respaldo para as tomadas de decisões e a rede tende a crescer como um todo.

Boas ideias para formação de diretores

Conheça algumas sugestões para tornar os encontros com os diretores mais produtivos e eficazes.

- Promover a troca de experiências Fica mais fácil resolver qualquer problema da escola quando se sabe como outros diretores enfrentaram e superaram situações semelhantes. "Agrega muito compartilhar informações e experiências com os colegas", afirma Nonato Assis de Miranda, diretor desde 2003 da EE Raul Cortez, em São Paulo.

- Refletir sobre a função A formação deve ajudar o diretor a se perceber enquanto agente de transformação da escola. "O mais importante é incentivá-los a refletir sobre o seu papel", defende Darci Dias de Oliveira, do Departamento de Gestão Escolar da Secretaria de Estado de Educação do Amazonas.

- Focar a melhoria do ensino Qualquer ação do diretor - mesmo as voltadas para a resolução dos problemas mais simples - deve ter como objetivo maior melhorar o aprendizado dos alunos. "Até quando resolve a questão do abastecimento irregular de papel higiênico no banheiro, o gestor deve ter em mente que o espaço bem organizado e em condições de uso reflete o respeito que a escola tem com os alunos, fazendo-os se sentir acolhidos em um ambiente que favorece o aprendizado", observa Tereza Perez, do Cedac.

- Incorporar conteúdos pragmáticos Embora os cursos sirvam para dar embasamento teórico a qualquer ação, é possível torná-los mais proveitosos ao incluir no currículo discussões sobre algumas ferramentas, como estatística para a avaliação de resultados e até técnicas de comunicação pessoal e institucional. Sempre com base em problemas reais e mostrando ao gestor o alcance da ação para os processos de ensino e aprendizagem. "O diretor tem de saber articular as diversas posições dentro da escola", observa Ilona Becskeházy, diretora executiva da Fundação Lemann.

 

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