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Formação cultural da equipe

Ampliar o repertório de faxineiros, merendeiras e vigias valoriza esses profissionais e ajuda a integrá-los ao cotidiano da escola

POR:
Daniela Almeida
NOVAS EXPERIÊNCIAS A diretora Terezinha <i>(de preto e verde)</i> visita museu com a equipe de apoio, em Florianópolis. Foto: Suzete Sandin/Tempo Editorial
NOVAS EXPERIÊNCIAS A diretora Terezinha
(de preto e verde) visita museu com a
equipe de apoio, em Florianópolis

Izolete Terezinha da Rosa é auxiliar de serviços gerais na EEB Pero Vaz de Caminha, em Florianópolis. Até o ano passado, ela nunca tinha pensado que entraria no Museu Histórico de Santa Catarina, um importante centro cultural da cidade. A chance surgiu quando ela e os demais funcionários da escola foram convidados pelos gestores para um passeio cultural. Alunos e professores já conheciam o museu e estava na hora de apresentá-lo também à equipe de apoio. A reação de todos foi de encantamento. Izolete se emocionou, em especial, ao conhecer detalhes sobre a vida e a obra do poeta catarinense João da Cruz e Sousa (1861-1898). "Quando eu iria imaginar que um afro-descendente como eu, aqui, da região, seria um homem tão importante para a cultura brasileira? Toda a história dele estava tão perto e eu não sabia", comentou durante a visita guiada.

A intenção da equipe gestora da escola catarinense, comandada por Terezinha Lisabeth Coelho, é proporcionar mais do que um passeio aos funcionários. Na verdade, é uma maneira de valorizá-los e, ao mesmo tempo, investir concretamente no enriquecimento dos conhecimentos e das experiências de vida. Além disso, a iniciativa deixa claro que a escola os enxerga como educadores - que, como tal, precisam de formação, atualização e, por que não, entretenimento. "Quanto mais informações e bagagem cultural eles tiverem, mais confiantes da própria capacidade ficarão. Assim, todos passam a enxergar com outros olhos o alcance e a importância do trabalho deles para a Educação", afirma Ariana Rocha, formadora e pedagoga com especialização em gestão.

Pensando nesses ganhos, a diretoria organiza visitas a exposições e saídas em grupo para assistir a shows, apresentações de dança e peças teatrais. Na maioria das vezes, uma parceria com as empresas promotoras dos eventos faz com que a escola consiga ingressos gratuitos. Quando preciso, a Associação de Pais e Professores (APP) arca com a verba para o transporte. Outra maneira de promover sessões culturais é levar eventos para a escola e convidar todos a participar: "Já tivemos sessões de cinema promovidas por um projeto da iniciativa privada, em que um grande caminhão se transforma em uma sala de exibição móvel. Até então, muitos funcionários só tinham visto filmes na televisão", conta Terezinha.

Para que todos se comprometam com o propósito de ações como essas, o melhor é prevê-las em detalhes no projeto político-pedagógico (PPP). O documento deve especificar as atividades culturais que mais interessam à formação dos funcionários e os objetivos de cada uma delas (divertir, ensinar conteúdos, ampliar o repertório, permitir novas experiências etc.).

Integração e envolvimento com a comunidade

MAIS INTEGRAÇÃO A assistente Lilian <i>(sentada)</i> com os funcionários na oficina de Arte, em São Paulo. Foto: Marina Piedade
MAIS INTEGRAÇÃO A assistente Lilian
(sentada) com os funcionários na
oficina de Arte, em São Paulo

Valorizados e se sentindo parte do grupo de educadores, os funcionários têm a oportunidade de se aproximar mais uns dos outros, bem como dos professores e gestores. "Um investimento igualitário na formação cultural da equipe fortalece a rede de relacionamentos porque reduz as diferenças de repertório e facilita a comunicação", afirma Ana Cristina Limongi-França, especialista em recursos humanos e qualidade de vida do trabalho da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP). Antes de passeios, cursos e oficinas, os colegas compartilham expectativas e informações sobre o evento. Durante e depois, trocam impressões e comentários sobre o que viram e aprenderam. Com o tempo, sentindo-se mais protagonistas, eles ganham confiança para conversar sobre outros assuntos tanto com os parceiros de trabalho como com os gestores.

Na EMEF Professor Olavo Pezzotti, em São Paulo, o caminho para promover a integração é uma oficina de Arte - uma escolha nada aleatória. "Nosso PPP encara a Arte como uma linguagem e um instrumento de comunicação. Por isso, ela está presente no currículo de todas as turmas e nas reuniões de formação", conta Lilian Cristina Testa Fernandes, assistente de direção. Docentes, merendeiras, auxiliares de escritório, seguranças e faxineiros participam de encontros aos sábados com duas artistas plásticas do bairro. No princípio, eles sentiam vergonha de criar, mas aos poucos ficaram mais à vontade para realizar as atividades propostas. O grupo ainda faz algumas aulas no ateliê das oficineiras e, por fim, monta painéis com as produções nas paredes da escola.

Além de favorecer o envolvimento entre os adultos, a participação em eventos fora da escola enriquece o relacionamento da equipe de apoio com os alunos. De um lado, os funcionários conhecem um pouco do universo com o qual os estudantes têm contato dentro da instituição e nos passeios que fazem com os professores. De outro, crianças e jovens conhecem outros pontos de vista e opiniões.

Foi o que aconteceu na EMEI Chácara Sonho Azul, em São Paulo, desde que os gestores passaram a incluir os funcionários nos passeios que fazem com as turmas. Uma escala montada pela coordenadora pedagógica, Magna Felix Lima, garante que todos participem e, ao mesmo tempo, os serviços de cozinha, limpeza e segurança não parem. "O rodízio considera o horário das excursões, o turno em que os colaboradores trabalham e o interesse deles pelas visitas", conta Magna. O transporte acontece com ônibus cedidos pela prefeitura ou pelo espaço cultural em questão - muitos são patrocinados por empresas que incentivam a cultura e fornecem o deslocamento e os ingressos. O resultado compensa: "Eu me divirto com os alunos e vejo coisas que não teria a chance de ver se não fossem esses passeios. Na exposição do grafiteiro Keith Haring, adorei uma foto do artista trabalhando com crianças na Bahia, que é a minha terra", lembra Edinar Custódia de Araújo, auxiliar de limpeza.

Para complementar as saídas com os estudantes, também há excursões exclusivas para professores, gestores e funcionários, ao menos uma vez por ano, nos fins de semana. Foi assim que toda a equipe visitou o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e uma editora de livros na companhia do diretor da EMEI, Antonio Norberto Martins.

Ampliação dos horizontes para além dos muros da escola

IMERSÃO CULTURAL Com colegas, o diretor Antonio Norberto <i>(à frente)</i> vai a editora de livros, em São Paulo. Foto: Marina Piedade
IMERSÃO CULTURAL Com colegas, o diretor
Antonio Norberto (à frente) vai a editora de
livros, em São Paulo

Quando a formação cultural ajuda um funcionário a se sentir valorizado, adquirir conhecimentos e ganhar confiança entre os colegas de equipe e com os estudantes, está dado o pontapé inicial para que ele próprio busque novos horizontes dali em diante. Paulo Dias de Menezes, diretor do CE Roma, no Rio de Janeiro, tem provas concretas disso: "Certo dia, uma merendeira me procurou dizendo que queria ir ao Teatro Municipal e levar os dois filhos".

A declaração é fruto de uma cultura institucional que há tempos vem privilegiando a formação dos funcionários. Em conjunto, a equipe já conheceu a Ilha Fiscal, no centro da cidade, e colocou o pé na estrada para visitar o Museu Imperial, em Petrópolis, que fica a 65 quilômetros do Rio, e uma fazenda de café no município de Valença, região cafeicultora a 191 quilômetros da capital.

Todas essas vivências não somente contribuem consideravelmente para a formação pessoal e a desenvoltura profissional de cada um como também abrem as portas para futuras experiências culturais.

Como organizar
Investir na formação cultural dos funcionários não é trabalhoso nem custa caro. Confira algumas dicas: 

- Entre em contato com os principais polos culturais de sua cidade (museus, cinemas, teatros e casa de shows) e se informe sobre os dias em que a entrada é gratuita e se há preços promocionais. 

- Liste os eventos disponíveis e coloque no mural da escola. Vale até fazer uma votação para eleger o passeio. 

- Se não for possível levar todos de uma só vez, organize um rodízio entre o grupo. 

- Consulte a Secretaria de Educação e outros órgãos da prefeitura para saber da disponibilidade de transporte. Mesmo que o passeio seja destinado aos alunos, garanta algumas vagas também aos funcionários. 

- Procure parcerias com empresas que incentivam a cultura para solicitar ingressos e transporte.

Quer saber mais?

CONTATOS
Ana Cristina Limongi-França

Ariana Rocha
CE Roma, tel. (21) 2541-6182
EEB Pero Vaz de Caminha, tel. (48) 3248-1347
EMEF Prof. Olavo Pezzotti, tel. (11) 3032-9908
EMEI Chácara Sonho Azul, tel. (11) 5517-2833

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