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Diretores contam como estrearam no cargo

Está chegando à direção pela primeira vez? Ou a uma escola desconhecida? Leia os depoimentos de quatro diretores que já passaram por essas situações e veja as dicas sobre como começar bem

POR:
Noêmia Lopes
Guilherme Hermany. Foto: Tamires Koop

EM BUSCA DE NOVOS DESAFIOS
"Dei aulas por quase quatro anos na EMEF Chico Mendes e, ao longo desse período, nunca pensei em ser diretor. Aliás, estava um pouco infeliz e tinha a intenção de pedir remanejamento. Quando comecei a comentar isso com os colegas, descobri que eu não era o único descontente. Havia um clima de insatisfação porque alguns gestores anteriores eram considerados centralizadores e os professores se sentiam afastados dos processos decisórios. Estávamos perto de um período de troca de gestão e me perguntaram se eu não queria me candidatar. No início, não levei muito a sério. Porém a ideia foi se concretizando em mim e no restante da equipe, até que decidi enfrentar o desafio. Para isso, montei uma chapa com pessoas experientes e contei com o apoio dos colegas. A chapa, aliás, foi única e assumimos em dezembro de 2010. Se antes o grupo estava apático, uma grande agitação começou a tomar conta de todos. Houve bastante interesse e colaboração durante a elaboração do plano de trabalho. A equipe gestora anterior continua na escola, agora em novas funções, e estamos nos tornando grandes parceiros de trabalho. E preciso mesmo de toda a ajuda para assumir as novas tarefas. Além da preocupação com o desempenho pedagógico das turmas, agora também tenho de cuidar das questões administrativas. Para que a equação funcione corretamente, sei que o diálogo franco comigo deve ser cultivado diariamente, assim como a liberdade de os colegas fazerem críticas e darem sugestões."

GUILHERME HERMANY é diretor da EMEF Chico Mendes, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

DICA SE VOCÊ VAI VIRAR DIRETOR NA ESCOLA ONDE É PROFESSOR...

...não pode subir no salto, achando que foi promovido e, dali em diante, está numa posição superior aos demais. Isso o faria correr o grande risco de se isolar e comprometer a qualidade dos relacionamentos pessoais. Guilherme teve esse cuidado e fez questão de continuar disponível e aberto ao diálogo com os colegas, ainda que a direção, de fato, demande novas responsabilidades.

Marildes de Barros. Foto: Aelson Ribeiro

OUVIR MAIS DO QUE FALAR
"Fui diretora, pela primeira vez, em uma escola em Poconé, a 100 quilômetros de Cuiabá, onde dava aula. Naquela época, fui indicada ao cargo pela diretora em exercício e fiz questão de que a comunidade fosse consultada sobre o meu nome. Desde então, percebi que trabalhar em parceria com os pais facilita muito meu trabalho cotidiano. No fim de 2009, fui removida para Cuiabá, onde pretendia morar com minha família, e pedi para visitar a escola na qual iria trabalhar, a EE Djalma Ferreira de Souza Um técnico da Secretaria me acompanhou e a então diretora me apresentou à equipe. Ela tinha acabado de ser eleita para a coordenação pedagógica, mas ninguém do grupo quis se candidatar à direção. Assumi em janeiro de 2010. Apesar de ter experiência e me sentir segura e preparada, não foi fácil. Havia certa desconfiança por parte de alguns por eu ser de fora e desconhecida. E havia quem achasse que eu mudaria tudo de uma hora para outra. Quando todos viram que eu não tomava nenhuma decisão antes de consultar a equipe, colocava em votação os assuntos polêmicos e ouvia mais do que falava, o clima ficou ótimo. Inspirada na experiência anterior em gestão, também me aproximei da comunidade, que debateu e colaborou, por exemplo, para resolver problemas sobre os horários de entrada e saída dos alunos."

MARILDES DE BARROS é diretora da EE Djalma Ferreira de Souza, em Cuiabá, Mato Grosso.

DICA SE VOCÊ VAI MUDAR DE ESCOLA, MAS JÁ É DIRETOR...

...pode aproveitar a bagagem profissional que adquiriu em outras ocasiões para enfrentar os novos desafios. Foi o que fez Marildes, tomando o cuidado de, primeiro, conhecer o contexto em que a instituição está inserida. Afinal, uma escola nunca é igual à outra. Embora alguns problemas sejam comuns, as soluções sempre passam pela cultura institucional e pela vivência de cada lugar.

Luiz Fernando Nogueira. Foto: Marina Piedade

CONHECER QUEM ESTÁ EM VOLTA
"Eu era professor em Itapetininga, no interior de São Paulo, mas queria muito ser diretor, com a certeza de que, nessa função, poderia colaborar ainda mais com a melhoria da Educação. Prestei concurso na rede municipal de Guarulhos, na Grande São Paulo. Passei. Cheguei à EM Glorinha Pimentel em junho de 2009. Era fim de bimestre e ninguém me esperava naquele dia. Todos me perguntavam: 'Você é mesmo o novo diretor? Mas nem tem idade para isso!' Estava, então, com 27 anos. A escola é grande, tem cerca de 1,7 mil alunos e 100 funcionários. Foi muito difícil no começo. No primeiro dia, eu não conseguia sequer encontrar minha sala! Nas diversas áreas da gestão, precisei de bastante da ajuda dos colegas. Conversando, percebi que havia um anseio em participar mais ativamente das decisões da escola. Todos esperavam por mudanças! Enquanto isso, eu tentava entender os novos deveres do cargo e dar conta deles. Meus únicos modelos eram os diretores com quem já havia trabalhado. Fora isso, ninguém havia me explicado como proceder. Ao longo do primeiro mês, chamei cada pessoa da equipe para conversar individualmente - fiz isso por intuição. Perguntei sobre as necessidades de cada um e pedi sugestões. Aos poucos, também fui conhecendo os alunos e as famílias e pude conversar com todos. Só depois disso iniciei o processo de replanejamento, convocando toda a equipe para retraçar as metas da escola. Acredito que, para ser um bom líder, preciso conhecer de fato aqueles que estão à minha volta."

LUIZ FERNANDO NOGUEIRA é diretor da EM Glorinha Pimentel, em Guarulhos, São Paulo. 

DICA SE VOCÊ VAI SER DIRETOR EM UMA ESCOLA DESCONHECIDA...

...precisa tomar o cuidado de controlar o impulso de querer logo fazer mudanças e rapidamente impor um estilo de trabalho. Essa pressa pode dificultar o estreitamento das relações com a equipe. Luiz Fernando percebeu isso e, para evitar problemas, foi logo mostrando disposição em conhecer mais detalhes sobre o funcionamento da escola e ouvir sugestões de todos para melhorar o que não ia bem. 

João Antônio de Oliveira. Foto: Pedro Motta

RECOMEÇAR (QUASE) DO ZERO
"Em 20 anos na rede municipal de Belo Horizonte, fui professor e vice-diretor e trabalhei em equipes pedagógicas da Secretaria de Educação. Mas nunca havia dirigido uma escola, até o início de 2010. A oportunidade apareceu quando a EM Doutor Júlio Soares, que era estadual, foi municipalizada. Fui indicado, então, para assumir a direção. Logo que chegamos, notamos que a comunidade estava cheia de expectativa e disposta a colaborar para que tudo entrasse em funcionamento - as famílias vinham lutando fazia um tempão para ter uma escola municipal na região. Decidimos, então, contratar o pessoal para a cantina, a limpeza, a portaria e a segurança prioritariamente entre os membros da comunidade. Hoje, 80% desses funcionários de fato pertencem a famílias que moram no entorno. Também tivemos o auxílio da Secretaria para reformar os banheiros, o telhado, a rede hidráulica e os muros externos, que estavam em mau estado. Ainda há muito a fazer, como construir um auditório e uma quadra. Mas estamos no caminho. Outro problema que enfrentamos diz respeito ao preenchimento do quadro de professores. Buscávamos especialistas em Alfabetização, já que os resultados de aprendizagem revelam urgência de investir nessa área. Os concursados demoraram um pouco a chegar, porém, quando completamos o quadro, tínhamos enfim uma equipe cheia de gás para colocar o trabalho nos trilhos e construir o PPP e o regimento escolar."

JOÃO ANTÔNIO DE OLIVEIRA é diretor da EM Dr. Júlio Soares, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

DICA SE VOCÊ VAI SER DIRETOR DE UMA ESCOLA NOVA...

...encontrará muito a fazer até que tudo funcione a contento. Por isso, o mais urgente é estreitar os laços com a comunidade desde o início da gestão, como bem percebeu João Antônio. Muitas vezes, ainda que não exista contratação, os pais se voluntariam para serviços como pintura e vigia. Outra dica é documentar o processo em detalhes para que os futuros gestores possam resgatar o histórico da instituição.

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