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Colunas Ética na escola

Confira os artigos de Terezinha Azerêdo Rios, doutora em Educação, a respeito das dúvidas e dos desafios enfrentados pelos gestores no dia a dia da escola

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Terezinha Azerêdo Rios
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A política do dia a dia

As decisões tomadas pelo gestor e o modo como ele lida com o poder interferem nos rumos da sociedade

POR:
Terezinha Azerêdo Rios

No período que antecedeu as eleições, não havia como impedir a intromissão da política em nossa vida. Acordávamos, ligávamos o rádio e a propaganda eleitoral invadia nosso espaço, nossos ouvidos e nossa mente. Todas as propostas pareciam iguais, sempre com a preocupação de apontar erros e defeitos dos adversários, mais do que apresentar projetos viáveis. Havia muitas promessas e pouca expectativa de realização.

Nos jornais e na televisão, encontrávamos referências a atos de corrupção e escândalos em que se envolviam políticos de vários partidos. E, na denúncia ou na defesa, podíamos perceber as tendências, para esse ou aquele candidato, que se escondiam no interior das notícias.

Diante de tal quadro, a descrença em relação à política parecia inevitável. Nas escolas, educadores julgavam que não valia a pena "perder tempo com esse assunto", mesmo quando questionados - o que muitas vezes nem ocorria - pelos alunos. Esse cenário nos leva a uma reflexão sobre o real significado da política, que não se reduz à ação dos parlamentares e dos governantes eleitos, mas é constituinte da vida de todos nós, nas sociedades, mesmo se não nos damos conta. Ela diz respeito às escolhas que fazemos enquanto cidadãos, com relação a tudo que tem a ver com a vida da pólis (cidade e sociedade). Ser político é tomar partido. Mesmo que não sejamos filiados a uma sigla nem estejamos ocupando um cargo, seja no Poder Legislativo, seja no Poder Executivo, de qualquer instância, nossos gestos são políticos. E eles têm implicações éticas. Afinal, é com base nos princípios éticos que nossas ações - sempre políticas - devem ser avaliadas.

Os gestores, particularmente, devem lembrar que as decisões tomadas, o modo como lidam com o poder e a forma como administram o trabalho coletivo interferem direta e indiretamente nos caminhos da sociedade. Quem está em cargo de liderança precisa ter clareza das implicações das atitudes cotidianas e estar ciente da responsabilidade pelos rumos que se seguem quando projetos são elaborados, mudanças são promovidas no currículo e nos critérios de avaliação do rendimento dos alunos e decisões são tomadas em reuniões com os pais ou com a comunidade escolar.

A política não está presente na vida social apenas na época das eleições. Sem dúvida, o que se decide nesse momento é importante e interfere na vida de cada um. Mas é no interior de cada espaço de convivência que a política acontece em seu sentido mais amplo.

A política, afirma o cientista político Marco Aurélio Nogueira, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), exacerba o ideal de vida coletiva. "Ela nos dá a possibilidade de admitir e reconhecer o conflito, de fazer com que ele produza energia positiva e construa, em vez de paralisar ou destruir", explica Nogueira. Sua maior promessa é fornecer uma oportunidade para fundamentar uma sociabilidade de novo tipo, solidária e democrática, na qual todos possam coexistir como sujeitos, completa o cientista social.

Não se pode pensar, portanto, numa política qualquer, mas naquela em que é possível produzir uma vivência democrática. Afinal, não é isso que pretendemos fazer em nossas escolas?

Terezinha Azerêdo Rios

É graduada em Filosofia e doutora em Educação.